Mercado

Onda de conversão de dívidas atinge usinas

Sala de operações da Bovespa.
Sala de operações da Bovespa.

Sem crédito na praça e com dívidas a vencer no curto prazo, as usinas de cana-de-açúcar negociam com credores a conversão de parte das dívidas em participações acionárias. Na lista dos que tiveram que realizar esse tipo de operação, estão o grupo Baldin, em 2013, e mais recentemente, a Aralco. Neste momento, o Grupo Virgolino
de Oliveira (GVO), um dos mais tradicionais do segmento, segue pelo mesmo caminho. Em muitos casos nessa linha,
essas negociações podem culminar na tomada do controle do negócio pelos credores.

A conversão de dívida em ações vem se tornando uma saída praticamente compulsória às usinas muito alavancadas, agora que o mercado de captação por meio de emissão de dívida externa secou. Muito usado nos últimos três anos para alongar débitos, o mercado de dívida se fechou às empresas sucroalcooleiras com a entrada da Aralco em recuperação judicial menos de um ano após a emissão de bonds e com o risco elevado de “default” do
GVO.

Especialistas em avaliação de risco da agência Fitch não veem espaço para novas captações do gênero por usinas de cana no curto prazo – nem a taxas de juros mais elevadas. Nas últimas semanas, ao menos duas grandes companhias com operações no agronegócio e consideradas de baixo risco de crédito (Cosan e JBS) tentaram emitir títulos de dívida no exterior, mas desistiram porque o mercado estava cobrando caro demais para absorver os papéis.
“Para o setor de cana-de-açúcar, que tem risco elevado, praticamente não há neste momento ‘preço’ para emissões
externas”, diz o analista corporativo da Fitch, Mauro Storino.

As companhias sucroalcooleiras mais endividadas já há alguns anos não tinham mais limite de crédito no mercado bancário tradicional, que também não oferece linhas de longo prazo, mais adequadas à necessidade dessas empresas. No entanto, encontraram no mercado de bonds investidores com mais apetite por títulos de maior risco – e remuneração mais elevada. Normalmente, a conversão de dívida em ações resulta também em “desconto” da dívida. “Não é incomum que isso aconteça, pois é preciso fazer a dívida ‘caber’ no equity da devedora”, explica o advogado Joel Thomaz Bastos, do escritório Dias Carneiro Advogados. Mesmo quando os credores assumem a propriedade do negócio, ainda que consigam vendê-lo, a recuperação dos créditos acaba sendo parcial.

A pressão no caixa das empresas tende a acelerar mais as negociações de conversão de dívida. A partir de agora, quando começa a entressafra da cana-de-açúcar, as usinas endividadas têm pouco estoque (de açúcar e etanol)
a vender, o que torna a já baixa geração de caixa ainda mais apertada.

(Fonte: Valor Econômico)

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