JornalCana

Odebrecht recorre a Lula e a Dilma

A construtora Norberto Odebrecht, líder do consórcio que arrematou a Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, recorreu ao presidente da República e à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para intervir nas negociações com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no processo de financiamento da obra.

Em documento obtido pelo Estado, o presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, diz à ministra que as condições propostas pelo BNDES não atendem ao que foi sinalizado a eles antes do leilão e ao que foi considerado no lance dado na disputa, em dezembro de 2007. O consórcio, formado pela empreiteira, Furnas e outros sócios, ganhou a licitação da usina oferecendo uma tarifa de R$ 78,87 o MWh, com deságio de 35%. Na ocasião, o preço foi festejado pelo governo, já que se enquadrava perfeitamente na política de tarifa baixa para o consumidor.

No documento, com data de 2 de abril, Marcelo diz que o pai, Emílio Odebrecht – que se reuniu no dia anterior com o presidente Lula e Dilma -, lhe incumbiu de atualizar a ministra sobre as negociações com o BNDES. A quem lhe pergunta, Marcelo tem explicado que o termo “sinalizar” refere-se às informações que constam do edital. A ministra informou, pela assessoria de imprensa, que encaminhou a manifestação do executivo ao presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

DIVERGÊNCIAS

Entre os pontos de discordância está o limite de crédito. No documento, Marcelo diz à ministra que o BNDES sinaliza com financiamento entre 58% e 70% do investimento total (de cerca de R$ 10 bilhões), sendo 50% direto e 50% por meio de instituições financeiras credenciadas. Ele argumenta, porém, que as condições de apoio publicadas pelo banco, e levadas em conta no lance dado no leilão, impunham limite de até 75%.

Outro ponto está associado à taxa de risco de crédito. A publicação do BNDES estipula uma faixa entre 0,46% e 2,54% ao ano. De acordo com Marcelo, o consórcio considerou a taxa mínima de 0,46% para fazer sua proposta de tarifa no leilão. “Se considerarmos empresas como Odebrecht, Banif, Santander, Furnas e Cemig, a taxa de risco teria de ser mínima mesmo. Essas empresas não têm risco”, diz o presidente do consórcio, Irineu Meireles. “Se fomos agressivos no leilão como o governo queria, nós cumprimos nossa parte. Não estamos pedindo nada diferente do que está previsto na regra do jogo.”

Nos últimos meses, as negociações com o banco evoluíram, mas ainda não foram conclusivas. Nos bastidores, a informação é que as condições menos favoráveis estariam associadas à tarifa baixa oferecida pelo consórcio no leilão. Como o financiamento será feito na modalidade “project finance”, em que a produção futura do empreendimento é usada como garantia para o empréstimo, o banco se baseou na previsão de receita menor e teria chegado à conclusão de que poderia financiar no máximo 70% do projeto.

Para conceder os 75% do investimento, a instituição estaria exigindo garantias adicionais, como a emissão de debêntures para compensar a queda de remuneração. Caso contrário, dizem fontes, o banco estaria subsidiando o investimento. Procurado, o BNDES disse que não falaria sobre o assunto, já que o processo está em análise.

Na ocasião do pedido feito à ministra, Marcelo Odebrecht disse que era fundamental que os dois parâmetros fossem confirmados o mais rapidamente possível, para não contaminar as negociações com os bancos privados.

Ele acrescenta que uma comissão do consórcio estaria se reunindo naqueles dias com o BNDES, mas temia que não houvesse nenhuma evolução, apesar de a diretoria do banco estar demonstrando esforço para chegar a um acordo. O assunto tem sido discutido com freqüência nas reuniões do G-PAC, grupo ministerial responsável pela análise de todas ações do PAC.

A divergência em torno do financiamento de Santo Antônio é apenas um capítulo da novela em que se transformou o Complexo do Rio Madeira. O vencedor da Hidrelétrica de Jirau, outra usina do rio, ofereceu uma tarifa ainda menor que a de Santo Antônio. Liderado pela franco-belga Suez e com participação da construtora Camargo Corrêa, o consórcio chamado Energia Sustentável do Brasil deu lance de R$ 71,40 o MWh, com deságio de 21,6%.

Isso porque mudou o eixo da usina em 9 quilômetros, o que significaria economia de R$ 1 bilhão na construção. A medida, no entanto, deu origem a uma briga que pode parar na Justiça, já que a Odebrecht não concorda com a alteração.

Inscreva-se e receba notificações de novas notícias!

você pode gostar também
Visit Us On FacebookVisit Us On YoutubeVisit Us On LinkedinVisit Us On Instagram