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O tempo do açúcar acabou. Agora, começa o do turismo

A idéia da prefeitura é transformar Quissamã, a partir das restaurações das casas rurais mais significativas, num centro de visitação histórica, e estabelecer ali um pólo turístico capaz de criar empregos que o açúcar não dá mais. A idéia de Alexandra Gomes, coordenadora de Cultura do município, é inaugurar a casa da Usina Quissamã em junho, reproduzindo a magnífica festa realizada ali no dia 17 de abril de 1847, no casamento de Bento Carneiro da Silva e Raquel Francisca de Castro Netto, ao qual estiveram presentes o imperador Pedro II e vários ministros do Império.

O projeto quer atrair investidores para construir hotéis de época na região, de forma que os turistas façam uma viagem no tempo, conheçam as manifestações musicais dos escravos e saboreiem a comida escrava resgatada pelos descendentes negros das senzalas de Machadinha (há senzalas íntegras, mas não habitadas, também nas fazendas Santa Francisca e São Manoel). A geografia ajuda: em Quissamã, ao contrário das casas rurais de Vassouras e do Vale do Paraíba, há uma profusão de casas numa área restrita – a distância maior entre elas não ultrapassa os 20 quilômetros e é possível ver todas até num só dia.

Além das casas desapropriadas, a prefeitura já convenceu oito proprietários a colocarem suas casas à disposição dos visitantes – e continua conversando com outros proprietários para influenciá-los a fazer o mesmo. A idéia é ter pelo menos 20 casas rurais dos séculos 18 e 19 num roteiro permanente de visitação pública. O mais atraente é que quase todas elas têm, à frente, espetaculares aléias de centenárias palmeiras imperiais. A restaurada casa de Quissamã, por exemplo, tem em volta 93 palmeiras imperiais com mais de 40 metros de altura e um extraordinário baobá plantado pelos escravos há 140 anos.

Além das visitas às casas, o projeto da prefeitura é um tripé com outras bases: uma delas se apóia no vivo repositório de cultura oral dos descendentes de escravos. Quissamã é um dos raros centros de cultura negra que mantém vivo o fado negro, dança de escravos aparentada com o jongo, cuja memória foi preservada nas senzalas da fazenda Machadinha. A outra ponta do tripé é a preciosa recuperação da cozinha negra, também reavivada pela memória dos descendentes dos escravos.

O sítio mais prospectado para a construção de um hotel de época é a casa-sede da Fazenda Mandiquera, construída em 1875 em estilo neoclássico, hoje pertencente a Hélcio Carneiro da Silva, mas em processo de negociação com a prefeitura para desapropriação. A casa apareceu no filme O Coronel e o Lobisomem e em muitas novelas, mas está desocupada desde 1934. Com seus 12 quartos, incontáveis salas e jardim interno, a Mandiquera é a construção rural mais imponente de Quissamã. C.M.

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