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“O retrato da energia brasileira é bom”, diz Pinguelli

Os pontos de vista sobre qual imagem o Brasil terá na sua participação na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) é distinta, ao menos na opinião do diretor da Coordenação de Programa de Pós-Graduação de Engenharia da UFRJ (Coppe) e da ex-ministra e senadora Marina Silva (PV). Durante o seminário sobre energia limpa realizado, nesta sexta, no auditório da Coppe, Pinguelli afirmou que o retrato da energia é bom, enquanto Marina acredita que a conferência acontece no momento de “maior retrocesso” na legislação ambiental brasileira.

A avaliação do diretor da Coppe — que também é secretário do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas — é que o setor energético é positivo se comparado a outros países.

— No exterior, o Brasil ainda é o grande produtor de etanol limpo, isso porque o (etanol) americano é ruim, emite muito CO2. Num balanço geral, nossa matriz energética é limpa — diz Pinguelli.

Ao fazer um panorama de todas as energias consideradas limpas, o diretor da Coppe acredita que o país precisa resolver problemas no setor para se desenvolver. No caso do etanol, Pinguelli cita a redução no consumo e produção, justificados pela proximidade de preços entre o álcool e a gasolina nos postos.

— Acredito que o preço do álcool que está muito perto da gasolina, e não o contrário. Isto acontece devido a política de controle da inflação e da máquina da Petrobras, que está cobrando abaixo do que deve. Como o etanol é menos eficiente, a procura (do consumidor) cai. De qualquer forma, precisamos rever a nossa produção, pois estamos importando grande parte da produção dos Estados Unidos, que produz a partir de milho e está na contramão da sustentabilidade — argumenta Pinguelli.

O comentário sobre a energia eólica e solar foi reduzido. Ele disse somente que a primeira está numa fase positiva, e que a segunda “não decolou” no Brasil, respectivamente. Segundo o engenheiro, a energia elétrica representa o grande desafio energético para o país, pois é “caríssima” para o consumidor final.

— A Dilma quer aliviar alguns encargos para reduzir o preço, mas o problema está na distribuição de custos elevados — alerta Pinguelli, argumentando também dos benefícios concedidos às empresas responsáveis pelo setor elétrico — Elas têm reajustes muito bons de tarifas devido os contratos de privatização, amarrados para estimular a entrada de capital estrangeiro, e as correções nestes índices encarecem ainda mais os preços.

Ainda sobre o setor elétrico, Pinguelli diz que é preciso desenvolver melhor a solução para a construção de hidrelétricas, para evitar menos dilemas como os que aconteceram em Belo Monte.

Para Marina Silva, Brasil deveria apoiar criação de agência especializada da ONU

A senadora Marina Silva, em contraponto as opiniões de Pinguelli, fez duras críticas a postura que o país chega na Rio+20. Os motivos seriam a aprovação do texto do novo Código Florestal do senado e Câmara dos Deputados, que sofreu vetos considerados por Marina como “periféricos e insuficientes”. Para Marina, este é o pior momento na política ambiental brasileira.

— Em todos os governos, independente de quem fosse, sempre havia um ganho, mesmo que pequeno. É a primeira vez que só temos perdas.Vamos ter um intervalo para a conferência e depois será a política da terra arrasada que valerá na legislação ambiental brasileira — disse Marina, afirmando que o país perde a prerrogativa de “líder pelo exemplo” — O Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento a assumir as metas de redução de CO2 na (Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas) Cop 15, graças aos bons resultados alcançados na redução do desmatamento na Amazônia, e agora vão apresentar estes bons resultados em cima de uma lei que acaba de ser revogada.

Nas críticas ao texto do Código Florestal, a senadora cita como “perigosas” a manutenção da anistia aos desmatadores e a redução das áreas de proteção que deveriam ser preservadas, como manguezais, as nascentes, margens de rios, declividades e topos de morro.

Outro ponto levantado pela senadora é a posição brasileira contrária no apoio a transformação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) numa agência especializada da ONU, como é a Organização Mundial de Saúde (OMS), por exemplo.

— Temos bons acordos com outros países mas baixa implementação porque o Pnuma não tem força suficiente para fazer esses acordos serem desenvolvidos. A criação de uma agenda seria uma forma de fortalecer as negociações multilaterais nos processos regionais, algo já dito por especialistas e líderes da governança ambiental. O que se quer é ficar no mesmo lugar, o lugar da inércia.

Ao fazer uma comparação sobre a Rio-92 e a Rio+20, Marina diz que ocorreram avanços na sociedade e que o governo pode corrigir os “erros” de agora.

— O Brasil figura como um país mais preocupado com as mudanças climáticas, florestais, recursos hídricos, ou seja, do angulo da sociedade foi um avanço grande. Nosso retrocesso é do ponto de vista das ações do governo que, espero, possam ser corrigidas.

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