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O que esperar dos próximos trimestres da safra 16/17? Confira aqui

O que esperar dos próximos trimestres da safra 16/17? Confira aqui

A safra de cana-de-açúcar 2016/17 na região Centro-Sul está em ritmo apressado. A moagem está 10% à frente da realizada no ciclo 15/16, o que representa 250 mil hectares canavieiros. Isso é bom ou ruim? E o que o setor sucroenergético pode esperar dos próximos trimestres da atual temporada?

Em entrevista ao Portal JornalCana, Fabio Meneghin, o engenheiro agrônomo e sócio-analista da Agroconsult, faz projeções e alertas que os profissionais do setor sucroenergético devem ler e avaliar nos mínimos detalhes.

Portal JornalCana – A Agroconsult estimou inicialmente uma moagem nacional de 680 milhões de toneladas de cana na safra 16/17 e em revisão reduziu a estimativa para 670 milhões de toneladas. A que se deve essa queda?

Fabio Meneghin – A queda se deve em parte à seca registrada em abril, o que prejudicou o desenvolvimento dos canaviais. Além disso, as ondas de frio de junho e julho prejudicaram o crescimento da cana que será moída no terço final da safra. Regionalmente, a diminuição se concentrou no Centro-Sul, onde a moagem esperada passou de 628 milhões de toneladas para 617 milhões de toneladas.

Não dá mais tempo revisar para cima a moagem?

Fabio Meneghin – O crescimento vegetativo da cana está quase completo. A cana não cresce mais. Isso só para a safra 2017/18.

O sr. destaca queda de 10 milhões de toneladas no Centro-Sul, mas e no Norte-Nordeste como fica?

Fabio Meneghin – No Norte-Nordeste a projeção de moagem cresceu de 52,5 milhões de toneladas no relatório anterior para 53 milhões. O clima tem ajudado, com um volume de chuvas adequado na Zona da Mata e no litoral.

Como deve ficar a produtividade agrícola?

Fabio Meneghin – Projetamos 77 toneladas colhidas por hectare no Centro-Sul. A grande questão é a área canavieira a ser colhida.

Como assim?

Fabio Meneghin – Trabalhamos com dados do Canasat [sistema de monitoramento remoto, via satélite, das áreas de produção canavieira, iniciado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e hoje conduzido pela Agrosatélite, empresa do grupo Agroconsult] e obtemos informações bem identificadas das áreas. Hoje, no país, a área canavieira a ser colhida para uso industrial é de 8 milhões de hectares. É a mesma área da safra 14/15. Na 15/16 também havia 8 milhões de hectares, mas com as chuvas foi possível colher em 7,7 milhões de hectares. Os 300 mil hectares que sobraram estão aptos para a safra em andamento.

Como está indo a safra 16/17?

Fabio Meneghin – A safra está apressada, com 10% no acumulado de moagem, o que dá 250 mil hectares à frente, já colhidos, em relação a 15/16. E anda mais rápido porque há reflexo do avanço da mecanização e outra questão é o clima mais seco, com cana que sentiu isso em abril e enfrentou geadas em junho e julho.

Qual o impacto dessas geadas?

Fabio Meneghin – As geadas não foram iguais às de 2011, que foram mais agudas, com mais cidades paulistas com temperatura negativa, agora houve frio mais longo e menos intenso. E isso afeta no crescimento da cana a ser colhida.

Em termos de produção, como deve ficar o resultado da safra?

Fabio Meneghin – Em nossa revisão, prevemos, no Centro-Sul, 34,6 milhões de toneladas de açúcar e 27,3 bilhões de litros de etanol.

Essa produção prevista de etanol está abaixo dos 28,225 bilhões de litros feitos pelo Centro-Sul na safra 15/16.

Fabio Meneghin – Temos que lembrar que o consumo de etanol (anidro e hidratado) deve recuar em 2 bilhões de litros, na comparação com o consumo realizado em 2015.

Houve importação de etanol em plena safra na região Centro-Sul. Essa importação será necessária para atender a demanda?

Fabio Meneghin – A importação é questão de janelas. A região Nordeste é tradicional importadora de dentro do país e de fora dele. Quando caiu a tarifa de importação nos EUA, em 2011, foram criadas janelas para atender ao Nordeste. Com milho barato nos EUA e dólar baixo, essa janela foi recentemente aberta.

O Nordeste deve seguir comprando etanol importado?

Fabio Meneghin – Os estados da região Nordeste consomem 4 bilhões de litros, produzem 2 bilhões, compram 1,5 bilhão de litros do Centro-Sul e o restante vem dos EUA.

Qual sua avaliação para o comportamento do dólar? 

Fabio Meneghin – O dólar tem cenário de câmbio de fim de ano a R$ 3,40, mas com prudência trabalhamos cenário alternativo com o câmbio a R$ 2,80.

Qual o impacto desses cenários para a rentabilidade da usina de cana? 

Fabio Meneghin – Com R$ 3,40, a rentabilidade da usina é de R$ 30 por tonelada. Com o dólar a R$ 2,80, essa rentabilidade cai para R$ 24/tonelada.

Como é feito o cálculo dessa rentabilidade?

Fabio Meneghin – Há vários cálculos, como custo industrial e custo da cana de terceiros. Mas a receita da usina é de médios R$ 133 por tonelada a um custo aproximado de R$ 100/tonelada.

A projeção alternativa do dólar a R$ 2,80 é só ruim?

Fabio Meneghin – Não é ruim para o setor, porque câmbio em queda ajuda a reduzir o endividamento em dólar.

Sobre a safra 17/18: a renovação de canaviais deve crescer?

Fabio Meneghin – A taxa de renovação está abaixo de 10% e, neste ano, deve ficar em 8%. A partir de outubro, no entanto, o setor deverá renovar mais porque há mais dinheiro para isso. Pelo segundo ano consecutivo as margens vão pelo lado positivo e constatamos que há mais procura por defensivos e fertilizantes. O cenário é chegar a 12% de renovação de canaviais em 2017.

Podemos ter alguma surpresa na safra em andamento?

Fabio Meneghin – Temos 50 milhões de toneladas de cana que são empregadas para produzir cachaça e outros, o que representam 1 milhão de hectares. Pode ser que parte dessa oferta vá para as usinas. E temos a entressafra: na desse ano houve moagem de 29 milhões de toneladas, enquanto a média de entressafra dos últimos cinco anos ficou em 8,5 milhões de toneladas moídas. Significa que a safra de cana não acaba no fim de dezembro.