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O preço do improviso no posto de combustível

No momento em que abastecem o carro, os brasileiros estão pagando pela falta de planejamento na produção de etanol. Não há cana suficiente para que o setor de agroenergia possa atender à demanda pelo biocombustível. Escasso, o produto perdeu competitividade em relação à gasolina, que tem preço congelado desde 2009. Ou seja, além de gastarem mais para rodar cada quilômetro, os consumidores que possuem carro flex têm a sensação de que o investimento no veículo foi em vão.

Nas discussões sobre o problema, especialistas chegam a comparar o momento atual aos anos 90, quando o carro a álcool saiu do mercado. Sugerem que os motores flex podem perder espaço na indústria automobilística novamente. Alarmista ou não, essa observação prova que o país vem menosprezando sua vocação para a produção de etanol de cana.

A cana-de-açúcar supera em rendimento outras fontes de etanol, como o milho, usado largamente nos Estados Unidos. A vantagem sobre o cereal é de 3,5 mil para até 8 mil litros de combustível por hectare plantado. E não falta espaço para os canaviais no Brasil. A área agrícola do país cobre menos de 10% do território nacional.

As áreas agrícolas estruturadas vêm sendo totalmente cobertas por lavouras de cana e de grãos. A expansão das plantações ocorre lentamente, apesar da avaliação oficial de que poderiam ter tamanho duas vezes maior se fossem utilizados os mais de 60 milhões de hectares de terras degradadas e pastagens ociosas.

Conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os canaviais estão crescendo 5% ao ano, metade do esperado. A safra 2011/12, agora avaliada em 510 milhões de toneladas de cana, representa retrocesso, a um patamar aquém do alcançado em 2008/09. A estimativa inicial – de 560 milhões de toneladas – já ficava abaixo da adequada para que a produção acompanhasse o crescimento da demanda interna. E teve de ser reduzida pelas quebras climáticas.

O país cultiva 8,4 milhões de hectares com cana, mas as lavouras deveriam estar chegando a 10 milhões de hectares, conforme projeções do setor divulgadas há cinco anos. A área atual é 1,7 vez maior que a de uma década atrás no país, é verdade. No Paraná, onde há 620 mil hectares de canaviais, o cultivo é 2,6 vezes mais extenso que o verificado em 2001. Mas, diante da demanda, as lavouras ficaram pequenas. As usinas de etanol só atendem a quatro em cada dez carros flex em circulação no país.

Outro problema é a falta de renovação dos canaviais. Cada planta rende até cinco colheitas, mas a produção é maior quando há replantio antes do fim desse prazo, o que não vem ocorrendo. Os produtores alegam falta de recursos. Na safra 2011/12, podem acessar até R$ 1 milhão por CPF no sistema de crédito rural. A expectativa é de reversão do problema se a promessa do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) for concretizada.

As contradições estão também na política do governo federal para o setor. Para controlar o custo do transporte de cargas, Brasília pode baratear o diesel. Para influenciar o custo do transporte urbano, limita o valor da gasolina. Porém o álcool, também usado em carros de passeio, tem preço livre. Há quem defenda que a solução seria liberar o preço da gasolina. No entanto, as tabelas dos postos de combustíveis de países vizinhos provam que o Brasil já pratica preços altos demais.

Dos canaviais do Centro-Sul a Brasília, os biocombustíveis precisam ter sua importância para a economia do país verdadeiramente reconhecida. Não se trata de uma aventura, uma aposta em uma alternativa duvidosa. Mas sim de aproveitar uma vocação reconhecida internacionalmente em benefício do país.

Parece mentira, mas o Brasil está prestes a se tornar importador assíduo de álcool combustível. Não há quebra de safra que justifique essa inversão de tendência. O país do etanol de cana precisa ter produção suficiente não apenas para abastecer seu mercado, mas também para exportar. Com o potencial que possui, pode baratear o transporte interno e ampliar sua renda fornecendo energia para outros países.

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