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O novo aumento dos combustíveis

A Petrobras vai muito bem. Anteontem, a estatal anunciou que aumentará sua participação e direitos sobre ganhos operacionais em dois campos de petróleo na parte norte-americana do Golfo do México. Com esta compra, a empresa brasileira alcança participação de 71,6% no campo de Chinook e de 50% no de Cascade, pertencente à BHP Billiton. Em outros cenários, menores que o dos EUA, a Petrobras também demonstra grande agilidade. Ainda neste ano a empresa adquire a refinaria de Cartagena, pertencente à estatal colombiana Ecopetrol, passando a atuar naquele país no refino, produção e distribuição. Exatamente porque tem este tipo de compromisso com a eficiência na expansão de seus negócios, nacionais e internacionais, o diretor-financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, reconheceu que existe defasagem entre os preços dos combustíveis praticados no mercado doméstico e as cotações internacionais. Os dados da empresa mostram que o preço médio dos derivados no Brasil ficou em US$ 70,7 por barril, abaixo portanto do praticado nos EUA, balizador do mercado mundial. No segundo trimestre deste ano, essa diferença bateu em 11,6%. A conta inclui todos os produtos vendidos pela estatal. No primeiro trimestre, a diferença foi bem menor: o preço médio interno no período, de US$ 70,2, ficou apenas US$ 0,80 abaixo do norte-americano. A manutenção dos preços da gasolina e do diesel, mais de 20% abaixo do praticado no mercado externo no segundo trimestre, explica o salto na defasagem. A Petrobras insistiu em que não há um procedimento de urgência no aumento dos combustíveis. A companhia avisou que não vai alterar sua política de reajustes, que prevê o acompanhamento no longo prazo das cotações internacionais, sem o repasse das “pressões pontuais”, seja o conflito no Oriente Médio ou o verão nos EUA, quando o consumo de gasolina sobe muito. O diretor Barbassa foi enfático ao afirmar que o objetivo da empresa é “não repassar a volatilidade externa do pétróleo”. A atitude da Petrobras, de anunciar sua preocupação antecipada com reajuste, tem outros motivos além das oscilações do mercado externo. A defasagem de preços no mercado interno foi o item mais criticado pelos investidores em relação ao balanço semestral, apesar do lucro fantástico anunciado de R$ 13,7 bilhões. Alguns analistas apontaram que a redução de 20% no lucro da área de abastecimento (com as concorrentes da estatal brasileira obtendo resultados bem diferentes neste setor) foi motivada pela decisão de comprar petróleo mais caro no mercado externo sem repasse do custo ao consumidor final. As consultorias especializadas já precificaram o reajuste necessário para repor estes custos: em torno de 20% na gasolina e de 15% no diesel. Como assegurou Fabiana D”Atri, da Tendências Consultoria, este reajuste é “inevitável” e deve significar, num primeiro momento, 12% de aumento nas refinarias e 6% nas bombas. Relatório de outra consultoria foi ainda mais rígido com este atraso da estatal no repasse dos custos, avisando que a Petrobras “está deixando de capturar todo o momento positivo do mercado internacional”. O último reajuste interno no preço do diesel e no da gasolina ocorreu em setembro de 2005. A expectativa de aumento nos combustíveis não deve atingir as metas fixadas de inflação. Reajuste entre 5% e 7% nos combustíveis, “ainda neste ano”, não terá impacto, diluído nas taxas dos dois últimos meses deste ano. Para 2007, a folga já identificada de 0,43 ponto percentual até a meta prevista de 4,5%, na análise da Austin Rating, permitirá que a “Petrobras reajuste preços sem medo”. Por outro lado, há margens de negociação neste aumento. No segundo trimestre, o petróleo nacional custou, em média, US$ 58,2 o barril, bem abaixo da cotação internacional. A empresa admite que utiliza 80% do petróleo brasileiro nas refinarias para consumo interno. Há folga, portanto, nos cálculos deste reajuste. Este assunto é muito sensível e é necessário dose extra de sensatez para lidar com ele. Antes ou depois das eleições. Para imprimir, enviar ou comentar, acesse: www.gazetamercantil.com.br/editorial kicker: Defasagem de preços no mercado interno foi muito criticada pelos investidores, apesar dos R$ 13,7 bilhões de lucros na Petrobras

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