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O labirinto do etanol

Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, é referência do agronegócio nacional. Nos dias atuais, coordena o Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas de São Paulo e, recentemente, foi designado embaixador brasileiro junto à Organização das Nações Unidas para Agricultura e Abastecimento (FAO). Na condição de ministro (2003/2006), encetou a reorganização da pasta, implantando os alicerces de uma agricultura moderna e eficiente, com ênfase na energia da biomassa, notadamente da cana-de-açúcar.

Em face das dificuldades encontradas com o setor econômico e financeiro do governo Lula e sem condições de solucionar os desafios do agronegócio, resolveu deixar o ministério, estruturando, em seguida, o Conselho Superior do Agronegócio (Deagro), do Sistema Fiesp. Nas entidades das indústrias paulistas, lançou o SouAgro, movimento exitoso, visando estruturar a comunicação planejada sobre a relevância e força do agro.

A ausência de Roberto Rodrigues do governo é sentida pela defesa intransigente mantida dos produtores rurais, mesmo que recebendo acerbas críticas, diante das posições assumidas em relação ao Código Florestal. Na sua gestão, procurou, exaustivamente, esclarecer que uma das mais relevantes descobertas brasileiras no setor energético, o etanol extraído da cana-de-açúcar, poderia fracassar e isso aconteceria no bojo da Conferência da Rio+20, por falta de adequadas políticas governamentais.

Ao contrário do que sucedera na Conferência Rio-92 (Eco-92), chefes de Estado e de governo, inclusive de grandes produtores de petróleo, circulavam em carros movidos a gasolina, comprovadamente mais poluentes do que os veículos a etanol, quando o evento (Rio+20) bradava a imperiosidade de implantação do desenvolvimento sustentável entre as nações. É contraditório.

Atualmente, quem comprou um carro hídrico (flex), veículo resultante do desenvolvimento da tecnologia brasileira, verifica que o abastecimento com o etanol já não é mais compensatório. A gasolina, extraída do petróleo, importado ou nacional, é a melhor escolha dos usuários nas bombas dos distribuidores.

Com efeito, há uma enorme contradição. Enquanto se promovem infindáveis reuniões governamentais nas academias e universidades para a promoção universal das energias ecológicas, mais limpas e renováveis, o governo anda na contramão. Cada vez mais, torna-se inviável encontrar a saída do labirinto do etanol, que tem de competir com o preço da gasolina, congelado para manter a inflação dentro das metas fazendárias e com o preço remunerador do açúcar no mercado internacional.

Não bastasse a defasagem do preço da gasolina, os preços dos derivados brasileiros encontram-se desalinhados com os valores internacionais. O Brasil já importou nos últimos 12 meses perto de 4 bilhões de litros de gasolina, o que ocasionou prejuízo estimado à nossa principal estatal (Petrobras) de cerca de US$ 650 milhões.

Os trabalhos mais recentes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), onde Rodrigues preleciona na cadeira de cooperativismo, evidenciam, ademais, que os canaviais paulistas estão mais velhos e menos produtivos, necessitando de renovação. Daí a falta de matéria-prima.

Conforme os especialistas, será preciso construir, no próximo decênio, mais 120 indústrias sucroalcooleiras, a fim de atender a demanda do açúcar para o mercado interno e externo, bem como do etanol anidro, para a mistura (25%) à gasolina ou hidratado nos carros flex, cujas vendas continuam aquecidas. O Brasil necessita passar dos atuais 555 milhões de toneladas de cana processadas para 1,2 bilhão, em 2020, com o propósito de produzir 51 milhões de toneladas de açúcar, 69 bilhões de litros de etanol e 14 milhões médios de eletricidade, o equivalente a Itaipu.

Após três décadas de criação do Proálcool, não temos etanol sequer para o uso interno e, vergonhosamente, passamos às importações mais caras do etanol de milho dos Estados Unidos, gerando empregos na grande nação. Existem, ainda, os nossos cientistas que preconizam que a melhor solução constituirá no futuro fabrico do etanol celulósico, extraído do bagaço da cana, o que já acontece em planta piloto.

Como preconizava acertadamente Roberto Rodrigues, o planejamento agrícola e industrial necessita ser realizado com a antecedência devida para que as demandas sejam atendidas com a implantação de um modelo econômico mais sustentável nas áreas do etanol, do açúcar e da bioeletricidade. É o que esperamos.

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