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O impacto da nova norma ambiental ISO 14001 no setor sucroalcooleiro

Todos nós, ligados direta ou indiretamente às Usinas de Açúcar e Álcool, estamos nos tornando bastante conscientes das conseqüências da agressão ao meio ambiente – água contaminada, ar poluído, solo degradado, mananciais e rios sem vida, espécies em extinção, incertezas sobre o futuro sustentável e o alto custo da remediação.

A constatação dos fatos aqui relatados é tão evidente que, em um dos mais importantes eventos do Setor ouvimos a seguinte frase, dita por um dos mais renomados especialistas na área ambiental:

“Ou as Usinas investem na prevenção, com a adoção da Norma ISO 14001, ou vão ter que contratar um batalhão de técnicos, advogados e engenheiros cujo único trabalho será gerar custos com a correção de impactos ambientais que jamais deveriam ocorrer”

Para que as Unidades Produtivas de Açúcar e Álcool possam trabalhar muito mais em função da prevenção que da correção de questões ambientais, apresentamos a seguir alguns dos principais pontos a serem abordados na nova ISO 14001 versão 2004, que deve ser editada ainda este ano:

 Sistema da Qualidade Ambiental baseado em pessoas, não em documentos;

 Ênfase na Educação Ambiental. Só o treinamento formal e técnico não é mais suficiente;

 Estabelecimento, manutenção e quantificação de Indicadores Ambientais. Alguns exemplos: Poluição sonora, aplicação de herbicidas, emissão de particulados, captação de água, controle de efluentes (águas residuárias para lavoura, volume de lançamentos em rios, parâmetros legais), disposição de resíduos sólidos e líquidos, reflorestamento, controle biológico de pragas, etc.

 Integração do Sistema Ambiental com os Sistemas da Qualidade, Segurança e Responsabilidade Social;

 Funções e Responsabilidades do Sistema de Gestão Ambiental bem definidas e comunicadas a todos os colaboradores envolvidos;

 Independente de ter ou não a documentação já pronta é recomendável treinar os auditores ambientais internos o mais breve possível, pois além de atuarem relatando as não-conformidades, os auditores exercem o papel de formadores de opinião, multiplicadores internos e facilitadores para a implantação do Projeto Ambiental;

 Política Ambiental objetiva, clara, de fácil entendimento e aplicação pelos funcionários, fornecedores e terceiros.

Em um ambiente de produção de cana, açúcar, álcool, energia e sub-produtos é necessário tratar as questões ambientais de forma estruturada, organizada e lógica. Portanto, é necessário que as lideranças estabeleçam objetivos sob a forma de Indicadores e, em seguida, envolva os funcionários no atingimento das metas. A busca de um consenso em relação aos procedimentos e às metas ambientais apresenta-se como o melhor investimento que uma Usina pode fazer para a melhoria dos negócios utilizando a base da Norma ISO 14001. Dessa forma torna-se possível a transformação de um Sistema da Qualidade Ambiental baseado em documentos em um Sistema baseado em pessoas.

Todo Sistema baseado em pessoas exige lideranças. Nesse aspecto a nova Norma ISO 14001 é bastante enfática, pois se inicia atribuindo à liderança da Organização a clara responsabilidade de definir os objetivos referentes ao Meio Ambiente, bem como ao atendimento de todos os seus requisitos.

Embora tenhamos até a presente data apenas três unidades produtoras de cana, açúcar e álcool já certificadas no Brasil pela Norma antiga, a nova Norma ISO 14001 abre uma verdadeira oportunidade em termos estratégicos e mercadológicos. Todos nós sabemos dos crescentes níveis de exigências ambientais dos países desenvolvidos em relação aos diversos itens que o Brasil exporta. Com relação ao açúcar e álcool não será diferente.

Por essa razão é altamente recomendável a busca da Certificação pela nova Norma. É bom lembrar que mesmo que uma Usina já possua um Sistema de Gerenciamento Ambiental implementado, com funcionários educados, motivados e praticando ações de melhoria, no mundo dos negócios internacionais a Certificação ISO 14001 é soberana. De nada adianta possuir alguns selos sócio-ambientais, ministrar palestras sobre Meio Ambiente, divulgar números do reflorestamento, criar um jornal interno, etc. O passaporte internacional certamente é mais facilmente viabilizado com o Certificado ISO 14001, e os importadores vêem apenas duas situações:

 A Usina possui o Certificado

 A Usina não possui o Certificado

É claro que não poderíamos deixar de observar que somente possuir o Certificado, ainda que atenda a mercados mais exigentes, não é tudo; ou seja, as organizações mais estruturadas podem e devem utilizar os requisitos da Norma para agregar valor aos seus produtos / serviços.

Segundo pesquisas específicas, nas quase 1500 empresas já certificadas em Meio Ambiente, a relação investimento / desempenho (antiga relação custo / benefício) é de 1 para 10: isso significa que para cada unidade investida (1 dólar, 1 real, 1 saco de açúcar, ou qualquer outra medida), o retorno, em média, é 10 vezes maior.

Para confirmar esse retorno, basta lembrar que no início da implantação da Norma ISO 14001, quando do levantamento dos impactos ambientais (chamado Análise Crítica Inicial), em alguns casos já eram encontrados impactos que poderiam levar a Usina a ser autuada e, conseqüentemente, receber uma multa (que poderia chegar, num único impacto ambiental, à casa de 50 milhões de reais). E quanto custa fazer uma Análise Crítica Inicial para detectar os impactos? Certamente o custo de uma boa assessoria para elaborar a Análise Crítica Inicial é infinitamente inferior.

Finalmente, o maior benefício que a nova Norma ISO 14001 pode gerar numa Usina é o mercadológico.

Como dissemos anteriormente, perante os países desenvolvidos e mercados mais eficientes, só existem duas situações: ou a empresa possui o Certificado ou não possui. Quem vivencia o mercado no seu dia-a-dia sabe que a elevação dos níveis de exigência para a Certificação é questão de tempo. No curto prazo, as exigências Ambientais (ISO 14001) devem superar aquelas do Sistema de Qualidade (ISO 9001). Isto se deve ao fato dos recursos serem escassos e finitos. O Meio Ambiente é uma preocupação mundial.

Diante desse quadro, temos certeza absoluta que a primeira, ou mesmo as primeiras usinas que conquistarem o Certificado ISO 14001 versão 2004 terão em suas mãos o mais importante diferencial em termos mercadológicos e estratégicos.

Aqueles que souberem tirar proveito dessa conquista certamente darão um salto em relação à concorrência nesse renovado mercado de cana, açúcar, álcool, energia e sub-produtos.

Desejamos boa sorte àquelas Usinas que decidirem iniciar seu processo de Certificação já pela novíssima versão da ISO 14001 a ser editada daqui a seis meses, em dezembro deste ano.

Notas CTEQ – ABNT

1. Mesmo antes da edição oficial da Norma ISO 14001 / 2004, aquelas empresas que desejarem podem iniciar o Projeto, pois já foi divulgado o Draft (rascunho) da nova Norma, denominado DIS / 2003. Somente para efeito das auditorias de Certificado, então será necessário que a Norma já esteja editada pela ABNT.

2. A nova Norma ISO 14001 permite a integração do Sistema de Meio Ambiente com os Sistemas da Qualidade (ISO 9001), Segurança (OSHAS 18:001) e Responsabilidade Social (SA – 8000). Dessa forma aquelas Usinas que já possuem uma ou mais Certificações poderão adotar o SIG (Sistema Integrado de Gestão), que permite: redução de custos de implantação, simplificação de procedimentos, redução de normas e procedimentos e otimização de recursos humanos e materiais.

Todos esses benefícios são derivados de ganhos em escala; o SIG permite às empresas possuírem um único manual com normas e procedimentos referentes à Qualidade, Segurança e Meio Ambiente. Com a integração dos sistemas não há necessidade de uma equipe de auditores internos para cada Norma, pois a mesma equipe audita todas. O mesmo ocorre com os honorários de assessorias, uma vez que uma única consultoria presta serviços para todas as Certificações.

Toda essa integração só gera, além dos benefícios já descritos, principalmente um único e firme direcionamento rumo à Qualidade Total.

Nestor Carlos de Oliveira é membro da ABNT, presidente do CTEQ – Centro de Treinamento e Educação em Qualidade – cteq@linkway.com.br

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