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O etanol brasileiro e as petroleiras

O setor sucroalcooleiro cresceu como nunca nos últimos anos. Do ponto de vista ambiental, principalmente, depois da intensificação das campanhas de alerta para o aquecimento global. Mas sob o aspecto econômico ele continua pobre quando comparado ao complexo petroleiro mundial. Enquanto dezenas de usinas de etanol estão à venda, as petroleiras continuam a exibir lucros bilionários, sem ligar para as oscilações no valor da sua matéria-prima.

A Petrobrás registrou o segundo maior lucro das Américas (R$ 28.982 bilhões), ficando atrás apenas da Exxon. Embora tido como inferior às expectativas do mercado, é um resultado que talvez supere a soma dos lucros das mais de 400 unidades de produção de etanol do Brasil.

Ainda, com o lucro de apenas um ano, a Exxon poderia comprar todo o parque sucroalcooleiro do Brasil. Nada contra o lucro das petroleiras. Tomara que a Petrobrás realize sua meta de tornar-se um dos cinco maiores players do setor. Nesse momento de mudanças climáticas e de novos paradigmas energéticos, o que importa é registrar a convergência entre o petróleo e o etanol. Embora seu core business seja o petróleo, a Petrobrás decidiu investir US$ 4,5 bilhões até 2013 em combustíveis renováveis. Nesse plano incluem-se usinas, destilarias, plantas de biodiesel e pesquisas com saídas energéticas alternativas.

Embora pouco se divulgue isso, a Petrobrás é hoje a maior financiadora de projetos de pesquisa energética em órgãos nacionais de ciência e tecnologia. Em universidades de norte a sul do País, uma das frentes de investigação é a economia de energia. Uma empresa com tamanha envergadura não poderia ficar fora de uma atividade essencial para o abastecimento energético e a preservação ambiental do Brasil. Num horizonte de escassez de petróleo, a entrada da Petrobrás na produção de etanol mediante parcerias com grupos privados nacionais representa um sinal inequívoco de amadurecimento mercadológico, confiança técnica e consciência ecológica.

Ao abrir-se para os combustíveis renováveis, a empresa toma uma posição estratégica para o futuro. Quanto mais etanol for produzido, maior será a vida útil das suas reservas. Além disso, a Petrobrás sabe que da matéria-prima do etanol se podem fazer diversos derivados, entre eles a gasolina e o diesel. Mesmo que contenham mais petróleo do que a Venezuela, as jazidas do pré-sal são finitas, enquanto o etanol – pura fotossíntese – vai durar o tempo do Sol.

Dentro desse mesmo raciocínio, devese entender o pioneiro investimento da BP na Tropical Bioenergia em Goiás e, também, o recente negócio Cosan + Shell, que configura o projeto mais audacioso da história do casamento entre o petróleo e a cana. Parceria em que aparece mais uma vez a visão de futuro de Rubens Ometto Silveira de Mello.

Ele já tinha surpreendido o mercado, poucos anos atrás, ao comprar o setor de distribuição da Esso brasileira. Agora monta com a Shell um negócio do tipo ganha-ganha. A parceria Cosan-Shell mostra um novo caminho para o desenvolvimento dos negócios no ramo de combustíveis. É por aí que veremos o fortalecimento da agroindústria canavieira, que passa por transformações estruturais nunca vistas.

De fato, nos últimos anos o setor sucroenergético tornou-se alvo de investimentos de grandes grupos estrangeiros, que já possuem 25% da capacidade nacional de moagem de cana. Esses grandes operadores de commodities não visam apenas o mercado brasileiro de etanol, que equivale ao da gasolina, mas o internacional, no qual a Petrobrás pode se tornar a primeira petrolífera capaz de produzir a gasolina mais verde do mundo.

Não lhe falta cacife para isso. Sua experiência com o etanol vem do início do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), na segunda metade dos anos 1970. Sem o apoio da Petrobrás, o Proálcool, com certeza, não teria existido. Para surpresa de muita gente, ela aceitou que o etanol substituísse paulatinamente a gasolina.

* Empresário. É membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República

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