Mercado

O efeito colateral da decisão da OMC

A vitória alcançada sexta-feira, quando a Organização Mundial do Comércio (OMC) determinou à União Européia (UE) que não exporte mais que 1.273,5 mil toneladas de açúcar e não conceda subsídios aos seus produtores num valor superior a € 499,1 milhões não foi suficiente para disseminar a autoconfiança entre os usineiros. Ao contrário, ontem, muitos deles estavam extremamente apreensivos diante da possibilidade de os 25 países que integram a UE despejarem seus estoques de açúcar no mercado, derrubando os preços internacionais, que hoje estão nos níveis mais elevados dos últimos dez anos.

O que à primeira vista parecia uma expressiva conquista, se transformou em uma grande ameaça, afirmou o presidente da União das Destilarias do Oeste Paulista (Udop), Luiz Guilherme Zancaner. Isso ocorre porque o Órgão de Solução de Controvérsias da OMC concedeu o prazo de até 22 de maio de 2006 para que os países do bloco implementem a decisão.

Até lá, os estoques de açúcar refinado da Europa, estimados em 7 milhões de toneladas, poderão ser comercializados livremente, o que na opinião dos usineiros terá o efeito de derrubar o mercado, num período em que a tendência é mesmo de queda, já que começa a comercialização das safras da Austrália e da própria Europa, afirmou o consultor da Safras & Mercado, Gil Barabach. Mas o consultor acredita que as grandes usinas, mais organizadas, terão condições de se proteger da queda dos preços, por meio da proteção do hedge e de contratos de longo prazo.

O prazo concedido pela OMC coincide com o término da entressafra brasileira. O efeito da eventual investida européia no mercado, ao libertar seus estoques, é motivo de controvérsia. Para o diretor comercial do Grupo José Pessoa, Fernando Perri, seria “um tiro no pé”. Ele se refere ao impacto que teria uma iniciativa como essa por parte da UE. Os europeus estariam derrubando os preços bem no momento em que eles começariam a ocupar sua posição no mercado. “Não acredito que cometam essa loucura”, afirmou.

Para Perri, se o mercado recuar será por um curto período, já que os fundamentos do setor são extremamente positivos. Não haverá perda, na sua opinião, uma vez que se a demanda internacional arrefecer, os usineiros terão oportunidade de atender ao mercado interno de álcool, ou mesmo de buscar financiamento internacional para formar um estoque regulador, tanto de álcool, quando de açúcar, o que permitirá que as empresas possam atender ao mercado com maior tranqüilidade.

Banner Revistas Mobile