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O diesel brasileiro é prejudicial à saúde

Com a mistura do álcool anidro na gasolina (hoje em torno de 25%) e aumento dos veículos movidos com o combustível extraído da cana melhorou, sensivelmente, o ar da capital paulista, nas duas últimas décadas.

Comprovam a afirmativa os relatórios da CETESB e da FM/USP, mudando o resultado das pesquisas dos anos 80, quando especialmente no período do inverno era comum a população bandeirante conviver com as constantes advertências de alerta e péssima qualidade do aludido ar.

A emissão de dióxido de carbono (CO²) pela combustão do álcool é menor que a dos combustíveis fósseis derivados do petróleo. Enquanto um veículo de porte médio, movido exclusivamente com gasolina, chega a emitir em torno de 2,2 kg CO²/litro, um similar acionado com álcool emite cerca de 1,3 kg CO²/litro, ou seja 59% da emissão do carro a gasolina. Ademais, a emissão do veículo com álcool será compensada pela absorção do CO² da plantação canavieira.

Conforme afirma o professor Cerqueira Leite, da Unicamp, os únicos energéticos limpos capazes de substituir, adequadamente, os derivados de petróleo são aqueles obtidos da biomassa.

São Paulo continua, no entanto, entre as cidades de ar mais poluído do universo, consoante o boletim da Organização Mundial de Saúde (OMS). A maioria dos países encontra-se na Ásia e na América Latina. O grande responsável por essa situação era o monóxido de carbono (CO), emitido principalmente pelos carros e, hoje, sob controle, apesar de uma frota que cresce 500 mil unidades anuais.

Comprovadamente, os poluentes atmosféricos de São Paulo são os principais responsáveis pelo agravamento das doenças respiratórias, cardiovasculares e um malefício à agricultura, eis que são os causadores da formação da chuva ácida.

Outra evidência científica é aquela que os habitantes de São Paulo vivem menos do que os europeus, pois respiram ar mais poluído.

Confirmam a assertiva os inúmeros estudos da Faculdade de Medicina da USP, coordenados pelo prof. Paulo Saldiva, do Laboratório de Poluição Atmosférica.

É quantificada em US$ 400 milhões/anuais a perda ocasionada por enfermidades como a asma, bronquite crônica e câncer pulmonar, entre outras. Não integram a conta os gastos despendidos com medicamentos e internações hospitalares.

Outros indicadores divulgados assinalam um cenário positivo. Desde o início da intensa produção alcooleira, a partir de 1977 (o Proálcool foi criado em 1975) a redução dos poluentes, emanados dos escapamentos dos carros novos, é de 90%.

Com o exponencial crescimento da frota em circulação de carros e das motos, o sucesso alcançado poderá ser colocado em risco.

Há menos de 30 anos, a poluição industrial era responsável pela metade das emissões da metrópole de Anchieta, percentual que caiu para cerca de 20%.

Nos dias atuais, circulam 8 milhões de veículos pelas ruas de São Paulo e, desde 1987, os carros novos saem das fábricas com catalisadores.

Para os especialistas uma nova questão, que não preocupava, anteriormente, são as motos. No início de 2008, existe um milhão delas registradas, emitindo 12 vezes mais que os veículos comuns.

É indispensável, ademais, melhorar a qualidade do diesel produzido pela Petrobrás, combustível que abastece quase toda a frota de caminhões e ônibus circulantes. O óleo diesel fabricado pela nossa principal empresa do Estado, com 500 ppm de enxofre, causa o agravamento das enfermidades mencionadas, cardiovasculares e respiratórias.

Em 2002, o CONAMA, em consonância com a regulamentação internacional, determinou que o óleo diesel, distribuído no país, deveria ter, em 2009, no máximo, 50 partes de enxofre por milhão de ppm. O limite máximo nas nações européias já é de 50 ppm, sendo que nos EUA e Canadá 15, devendo cair para 10, no próximo ano.

As fontes da Petrobrás esclarecem que a organização já está investindo, a fim de que as suas refinarias passem a reduzir o teor de enxofre do diesel.

Até que isto ocorra, o Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da nossa principal universidade adverte que a má qualidade do ar provocará a morte prematura de 3 mil pessoas por ano, tipificando um verdadeiro crime contra a saúde dos habitantes.

Outrossim, sem essa diminuição as montadoras não poderão colocar catalisadores nos veículos pesados, movidos a diesel, porque serão rapidamente corroídos.

Incontestavelmente, a melhor condição ambiental paulista permanecerá na estreita dependência da intensificação do transporte público, de um óleo diesel de melhor qualidade com menor teor de enxofre e rigoroso acatamento à legislação ambiental.

* Diretor da Fiesp e Presidente da Academia Paulista de História

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