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O descompasso dos biocombustíveis

Desde que o ex-presidente Lula foi intitulado garoto-propaganda do etanol, chegando a defender o produto nacional na Organização das Nações Unidas (ONU) em 2009, pouca coisa avançou no setor de biocombustíveis, pelo menos sobre o ponto de vista da atração de recursos. Apesar de carregar a bandeira da energia limpa, a previsão de investimentos para o segmento (etanol e biodiesel) é bem modesta, especialmente se comparados à bilionária indústria do combustível fóssil. Para se ter ideia, até 2014, a Petrobras prevê um plano de negócios com investimentos de mais de US$ 220 bilhões. Deste total, o petróleo fica com mais de 85% dos recursos. Às bioenergias sobram 1,5%. São US$ 192 bilhões contra US$ 3,5 bi.

Números divulgados pela Agência Internacional de Energia (AIE) mostram que os investimentos totais do país em biocombustíveis, considerando os aportes da iniciativa privada, somaram US$ 3,3 bilhões em 2009 (últimos dados disponíveis). Segundo a agência, a queda em relação ao ano anterior é de 66%. O setor sucroalcooleiro passa pela primeira crise desde 2003, e até hoje continua brigando pelo marco regulatório, que definiria uma política nacional a longo prazo para o setor, alavancando novos investimentos.

O biodiesel se tornou opção real no mercado europeu, mas, no Brasil, o segmento está trabalhando com 50% de ociosidade. Para este ano, o mercado firme é de 2,6 bilhões de litros do óleo. A capacidade da indústria é o dobro, comportando produção superior a 5 bilhões de litros. Em busca de fôlego, a expectativa do segmento é que, nos próximos meses, o governo antecipe a elevação do percentu al do óleo adicionado ao diesel, de 5% para 7%. “As margens estão apertadas e até negativas. Defendemos uma transição escalonada para o B10, previsto para 2014”, diz o diretor-executivo da União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio), Sérgio Beltrão. “Trabalhar com um nível tão grande de ociosidade não é benefício para nenhum setor. “

Na frente

O relatório da AIE aponta que o Brasil investiu US$ 7,8bilhões em energias sustentáveis – o que inclui fontes como energia eólica, solar e biomassa – se posicionando à frente de países como Índia e também do continente africano, sendo ultrapassado em larga distância pela China, que investe mais de quatro vezes o montante nacional, pelos Estados Unidos e União Europeia. “O momento é favorável para as energias limpas, mas a opção do Brasil é pelo petróleo. Talvez fosse o momento de discutir se vale a pena investir menos no pré-sal e mais em energias alternativas”, comenta Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

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