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O Brasil reforça seus laços comerciais com a China

O recente processo de aproximação entre Brasil e China, evidenciado de forma mais clara pelo excepcional aumento do comércio bilateral nos últimos anos, ganha um reforço importante com a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim e Xangai, entre os dias 23 a 27 próximos, em que os destaques de uma carregada agenda deverão ser o seminário sobre a parceria que se forma entre os dois países, a conferência do Banco Mundial sobre combate à pobreza e encontros com os principais líderes do governo chinês.

A decisão do presidente Lula de manter o ritmo corrido de viagens ao exterior adotado por Fernando Henrique Cardoso durante o seu governo de oito anos tem provocado polêmica. Lula comentou recentemente que, desde fevereiro de 2003, já visitou 29 países. Número que explica os protestos e críticas de que o presidente se preocupa mais com questões externas e da diplomacia do que dos temas que realmente preocupam os brasileiros. Algumas das viagens presidenciais mereceriam mesmo reparos, mas certamente não é esse o caso da visita à China, que poderá resultar não apenas em mais negócios para o Brasil -, mas também em uma parceria importante nas grandes negociações internacionais.

Não há dúvidas de que o estreitamento de relações com os chineses tem trazido polpudos frutos para o Brasil, principalmente em termos de ganhos para os exportadores. Em 1999, Brasil e China negociaram entre si produtos e serviços em um valor irrisório para o tamanho das duas economias – apenas US$ 1,54 bilhão. Em 2003, apenas quatro anos depois, esse valor tinha saltado para U$ 6,67 bilhões e a China se tornara um dos três maiores mercados para produtos brasileiros. Tão expressiva quanto o aumento no comércio foi a diversificação das exportações brasileiras – continuam predominando os básicos, como o complexo soja e minério de ferro, mas passou-se a vender em grande quantidade itens mais elaborados, como motores e produtos siderúrgicos. Boa parte do início de retomada do crescimento atual decorre das exportações e, mais especificamente, do impulso dado pelo aumento das vendas para novos mercados, como a China.

Depois da boa performance dos últimos anos, o Itamaraty pretende transformar a China em mercado-piloto para as exportações brasileiras para a Ásia, um mercado de grande potencial de crescimento. O empresariado brasileiro, consideram os diplomatas, têm aversão a riscos por concorrer no mercado internacional com países como os EUA, que não enfrentam as mesmas dificuldades de financiamento, tributação, burocracia e logística. Com o apoio oficial às exportações para a China , o governo espera vencer esse temor do setor privado em relação à Ásia.

A expectativa de Brasília em relação à visita do presidente a Pequim e Xangai não se resume, porém, a somente ampliar o comércio e atrair empresas da China, que está em vias de se tornar um dos maiores investidores do mundo ao lado dos EUA e da Europa. Nas palavras do próprio presidente, a visita será a coroação da política externa do seu governo, de fazer alianças com países em desenvolvimento de grande porte – Índia, África do Sul, Rússia e a própria China.

O objetivo da diplomacia brasileira no governo petista é formar um bloco para negociar de forma mais equilibrada com os países ricos a pauta que interessa às nações mais pobres – da redução de subsídios agrícolas até a reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas com a ampliação da presença dos emergentes. O Ministério das Relações Exteriores defende a idéia de que será por meio de uma aliança estratégica com China, Índia, África do Sul e Rússia que se conseguirá que os países ricos flexibilizem sua política agrícola.

Para os artífices da política externa brasileira, não teria sentido o Brasil insistir em mudanças nos subsídios concedidos pelos países desenvolvidos. O melhor caminho seria criar uma força política com votos suficientes na Organização Mundial do Comércio (OMC) para forçar uma abertura dos mercados dos países ricos aos mais pobres. Na visão do Planalto, a recente vitória do Brasil no contencioso sobre os subsídios concedidos pelo governo americano aos plantadores de algodão seria uma prova concreta de que é possível, sim, obter resultados favoráveis nos grandes fóruns de negociação internacional mesmo na disputa com os países ricos.

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