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O Brasil aposta na Cana

Um país que deve crescer 5% este ano precisa de energia. Grande parte dessa energia está sendo gerada no campo — de forma renovável, por empresários atraídos pela oportunidade de vender mais combustível para o consumidor brasileiro, que volta a usar o álcool para abastecer os carros com tecnologia flexível. A partir de hoje, o Jornal da Globo começa a exibir uma série de reportagens sobre o reaquecimento da produção nacional de álcool. O repórter Rodrigo Alvarez e a editora Keila Castro percorreram regiões do país onde cada pedaço de terra é uma promessa de novos negócios. Se fosse possível juntar toda a plantação daria pra encher um país. Cinqüenta e cinco mil quilômetros quadrados, um território maior do que o da Holanda, maior do que todo o reino da Dinamarca. A cana-de-açúcar movimenta hoje 330 usinas espalhadas pelo país. O Brasil dos canaviais é um país em plena expansão. Nos próximos seis anos, a cana deve gerar investimentos de cinco bilhões de reais. Trezentos mil empregos. É o que dizem os empresários, como o presidente da Única, Eduardo Pereira de Carvalho. “O momento é de grande euforia. É um momento em que tão todos voltados pros planos de expansão. Estamos todos considerando e montando os mecanismos pra assegurar a continuidade deste momento, pra que isso não seja um momento solto na história, mas que seja um processo contínuo”. A euforia do setor lembra o que aconteceu em 1975, quando um decreto do então presidente Ernesto Geisel criou o Programa Nacional do Álcool. No auge do Pró-álcool mais de 90% dos carros vendidos no país usavam o combustível verde-amarelo. Foi um drible no resto do mundo. Numa época de incertezas em relação ao preço do petróleo, o Brasil saiu na frente em busca de uma alternativa e o brasileiro acreditou. Mas, em 1989, o álcool praticamente desapareceu. Embriagados pelos altos preços do açúcar, os usineiros se esqueceram dos consumidores, que enfrentavam filas nos postos. O governo nada fez para impedir a seca do etanol. O pró-álcool, que era um caso de sucesso, virou fumaça. Para tentar apagar os erros do passado, os usineiros se profissionalizaram e hoje querem ser chamados de empresários. “O momento do pró-álcool ele era diferente, você tinha uma ligação muito forte com o instituto do açúcar e do álcool, você precisava estar muito conectado com o poder, hoje a concepção mudou. O usineiro se transforma em empresário da agroindústria e tem que estar mais conectado com o mercado e não mais com o governo”, conta o empresário Marcelo Toledo. “Nós não queremos ganhar uma única vez, nós queremos ganhar durante toda a produção de uma usina por mais de 50 anos. E o álcool será o combustível do futuro, que é uma fonte de energia renovável, ou seja, todo o ano, você cresce com ela novamente”, garante o usineiro Fernando Gomes Perri. Quase três décadas depois do lançamento do Pró-álcool, a cana de açúcar vive um novo momento histórico de expansão. Mas dessa vez, não há um programa de governo para o setor. São as portas do mercado que se abrem para o álcool e para o açúcar produzidos no Brasil. A questão agora é saber se os empresários estão prontos para garantir um abastecimento confiável dentro e fora do país. A vitória do Brasil na Organização Mundial do Comércio, confirmada agora no fim do ano, abre um mercado gigantesco para o açúcar brasileiro. A exportação para países asiáticos, africanos e também do leste europeu e até a Rússia, que hoje importam da União Européia, pode render ao país mais de 800 milhões de dólares por ano. Caminho aberto também para o álcool brasileiro. Mais uma vez o mundo se questiona: por que depender apenas do petróleo? No Japão, uma nova lei obriga as distribuidoras a adicionar 3% de álcool à mistura da gasolina. Se o país asiático mal consegue terras para plantar arroz, imagine cana-de-açúcar. Nos próximos anos, o aumento das vendas para o Japão, a China e a Índia podem chegar um bilhão de dólares por ano. Os investimentos já começaram. Só no oeste de São Paulo — a mais nova fronteira da cana-de-açúcar — estão surgindo 22 usinas. Uma no município de Penápolis, foi fácil de construir. As peças foram reaproveitadas. São partes de destilarias fechadas nos anos noventa – época da decadência. No ano que vem, estas máquinas voltarão a produzir e a cana que hoje está brotando vai virar combustível ou montanhas de açúcar. Além das 22 usinas de São Paulo, estão sendo erguidas quatro em Minas Gerais. Outras quatro em Goiás. Duas em Mato Grosso do Sul e uma no Paraná. Para abastecer essas 33 usinas a produção nacional de cana vai aumentar em 16%. Terras que até agora serviam para o gado são ocupadas pelo canavial. Em uma fazenda em Goiás, os bois ficam confinados. O antigo pasto virou uma enorme plantação e ainda há muito espaço para crescer. Só a terra goiana seria suficiente para dobrar a produção do país. Para o usineiro Otávio de Oliveira, expansão é sinônimo de pressa. A mais de cem por hora, ele leva a equipe pra conhecer as plantações de cana-de-açúcar da usina dele. “Está bom, a exportação está boa, o preço internacional está bom e vamos caminhando, aumentar nossa produtividade. A estimativa é que vai dar essa explosão que estamos pensando”. O canavial se espalha por três municípios do estado de Goiás. Pra ter uma idéia do tamanho de tudo isso, só mesmo de avião. Sobrevoando o canavial, o empresário fala dos planos de crescimento. Aposta que as plantações ainda vão ocupar terras e mais terras neste país. “O Brasil já está numa posição estratégica e essa cultura dá muito emprego. É expansão de mão-de-obra, uma arrecadação mais democrática porque atinge todo mundo”.

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