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O álcool é a única alternativa para o fim da era do petróleo

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, vê na agroenergia, especialmente no álcool combustível, a única alternativa ao fim da era do petróleo.

Ele defende a criação de uma ponte entre as duas eras que considere a necessidade de combustíveis líquidos renováveis. É um conjunto tão óbvio de vantagens que eu não tenho a menor dúvida de que a agroenergia é o novo grande paradigma agrícola do mundo, afirmou, em entrevista ao Estado.

Para o ministro, o setor de açúcar e álcool amadureceu e está preparado para novos desafios.

Ele afirma que não há riscos de desabastecimento, como no passado. Mas alerta que é necessário descobrir uma fórmula de remuneração adequada para o produtor de cana, que garanta o suprimento de matéria-prima. Ele espera que um acordo garantindo essa remuneração seja fechado até o fim do mês no âmbito no Conselho dos Produtores de Cana, Açúcar e Álcool (Consecana).

O Proálcool está completando 30 anos. O que o sr. acha que deu certo e o que precisa ser corrigido?

Acho que há uns três temas relevantes nesse assunto. O primeiro é que o Proálcool demonstrou que, quando existe uma decisão de governo para uma política que tem começo, meio e fim, instrumentos de crédito, projetos tecnológicos, clareza de propósitos, metas definidas e faz uma parceria firme com o setor privado, os resultados são, de certa forma, rápidos e exuberantes. O Proálcool foi o único grande programa universal de substituição de petróleo que deu resultados concretos. Também teve como conseqüência um fato extraordinário: o desenvolvimento tecnológico do setor. Nos primórdios do Proálcool, o álcool era pouco competitivo em relação à gasolina. Com o tempo, os investimentos em tecnologia levaram a uma tal eficiência nos processos de produção que hoje o álcool é mais competitivo, a um nível tal que a gasolina obtida de um petróleo de até US$ 30 o barril fica mais cara que o álcool.

Mas houve um momento em que o Proálcool quase desapareceu.

O setor cometeu, ao longo dos 30 anos, alguns erros trágicos.

Quando o preço do açúcar ficou mais convidativo que o do álcool, o setor abandonou o consumidor de álcool e foi fazer açúcar. Em duas ou três ocasiões, isso levou ao descrédito dos consumidores brasileiros e até hoje tem conseqüências na confiança internacional na dependência do álcool do Brasil. Só que esses erros foram assimilados.

O produtor percebeu que, mantendo essa atitude ambígua, acabaria perdendo a credibilidade. E hoje está maduro.

Os consumidores parecem não ter recuperado a confiança. Como convenceros mercadosinternoe externo de que não vai faltar álcool?

Em primeiro lugar, porque é um determinismo histórico. O mundo tem que ir para o agroenergia porque o petróleo vai acabar e os produtores de petróleo estão inviabilizando a economia de uma série de países importantes. Os americanos estão produzindo este ano mais de 10 bilhões de álcool de milho, infinitamente mais caro que o álcool de cana do Brasil. E só podem fazer isso por causa dos subsídios brutais ao setor de milho. Segundo, porque o setor realmente amadureceu e tem tido muito mais responsabilidade para garantir o suprimento interno e externo. De qualquer modo, há países interessados em produzir no Brasil para garantir o próprio suprimento. E acredito que, quando se derem conta do desafio que é produzir isso, perceberão que não há nenhum país com a nossa tecnologia e conhecimento de gerente como o do nosso empresário.

E o terceiro ponto?

É que a cadeia produtiva do setor não pode prescindir da participação do setor de combustíveis. Depois que a Petrobrás assumiu uma posição mais proativa na direção do etanol, as coisas ganharam nova dimensão, levando a indústria automobilística a investir muito mais em pesquisa, criando o carro flex, que é um modelo extraordinário de alternativa de transporte humana.

O sr. acredita que esse compromisso já existe?

Sim. O próprio flex fuel hoje é uma demonstração desse compromisso. E a Petrobrás tem estado ao lado do agronegócio nessas ações.

E quais são os desafios a serem enfrentados?

Tem um lado que não é tão risonho: o Proálcool, no modelo então estabelecido, foi de concentração de renda no agronegócio. Os financiamentos foram muito favorecidos, mas eram oferecidos a quem tinha patrimônio. Eram financiamentos vultosos. Foi, portanto, um processo de concentração.

O sr. acha que o esforço do governo para transformar o álcool em commodity pode garantir que não falte álcool?

O século 20 acabou com a humanidade despertando para uma realidade crua: a era do petróleo um dia teria fim. A maior insânia coletiva da humanidade foi ficar dependendo inteiramente de um produto fóssil, finito, mal distribuído no planeta, que está nas mãos de poucas empresas. É uma dominação incompreensível. Precisamos construir uma ponte entre a era que vai terminar e a que vai começar, seja ela qual for. E essa ponte tem uma premissa óbvia: os motores responsáveis pelo transporte humano e de materiais no mundo todo hoje são tocados a combustível líquido. Não se pode fazer uma revolução de motores que não passe por uma adequação a partir de combustíveis líquidos. A agroenergia, como única alternativa capaz de produzir combustíveis líquidos renováveis, é a grande alternativa porque tem uma quantidade de vantagens comparativas de uma obviedade cristalina.

Quais o sr. destacaria?

Primeira: é renovável. Segunda: qualquer país pode ter seu posto de combustível de agroenergia. Terceiro: é obvio que os países tropicais terão mais vantagens porque a energia de produto agrícola depende de sol, terra e água, o que leva a uma quarta vantagem: a criação de emprego, riqueza e renda nesses países que, em geral, são países em desenvolvimento, para fornecer um produto estratégico a países desenvolvidos. Então, isso é um elemento da redução de diferenças socioeconômicas entre o mundo desenvolvido e o em vias de desenvolvimento.

O que o governo espera alavancar com o programa de agroenergia lançado em outubro?

A base do meu projeto foi um programa agrícola de agroenergia a partir de um conceito claro: se não tiver ênfase na pesquisa, no desenvolvimento tecnológico que gere sementes, mudas e plantas produtivas para a indústria da agroenergia, não vai existir agroindústria lucrativa e competitiva. Estamos criando um centro de agroenergia na Embrapa para atuar só nessa área: tecnologia voltada para a agroenergia. Estamos trabalhando a idéia de criação de um fundo para a agroenergia que o setor público e privado participe dentro de um consórcio integrado para investimentos. E tudo isso se movimenta num cenário que é espetacular para o Brasil. Vamos ter este ano com quase 1 milhão de veículos flex fuel no País. Teremos, em 10 anos, mais de 8 milhões de veículos.

Se essa expectativa se confirmar, teremos de elevar nossa produção de etanol de 14 bilhões de litros por ano para 26 bilhões em, no máximo, 10 anos.

Sem falar na exportação de etanol. Isso significará uma demanda adicional de cana-de-açúcar de 1,8 milhão de hectares. Nós temos hoje 5,5 milhões de hectares plantados no Brasil. Tem que aumentar em 30%. Em 10 anos, também podemos ter um aumento do consumo mundial de açúcar da ordem de 25 milhões de toneladas.

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