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Número 13: sorte ou azar? Depende de nós

Confira artigo de João Guilherme Sabino Ometto

Dentre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável/Agenda 2030 das Nações Unidas, o 13 refere-se à “Ação Contra a Mudança Global do Clima”. Ante o fato de alguns ficarem ressabiados, como se diz no campo, com o estigma apocalíptico do número e sua identificação mundial com o azar, cabe salientar que conter o aquecimento da Terra não depende do acaso, mas sim das ações e atitudes de cada cidadão, da sociedade, dos governos e do respeito aos acordos internacionais sobre o tema.

Assim, é gratificante e animador constatar ser crescente a consciência global sobre a questão, conforme demonstra a pesquisa “O Mundo em 2030”, que acaba de ser publicada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

As mudanças climáticas e a perda da biodiversidade foram apontadas por 67% dos entrevistados como os desafios mais preocupantes. Obviamente, vencer a pandemia da Covid-19 é meta mais premente e pontual, mas o novo coronavírus também enfatizou a necessidade de melhoria ambiental e do estabelecimento de espaços mais favoráveis à saúde pública.

A amostragem da pesquisa é significativa, pois foi respondida, via digital, por mais de 15 mil pessoas de todos os continentes. É interessante notar que os participantes eram em especial jovens: 57% tinham menos de 35 anos e 35% estavam abaixo de 25. Os resultados, também analisados de acordo com a região, gênero, idade e outros parâmetros demográficos, confirmam o alerta da Unesco de que são necessários maiores esforços para abordar e atender às preocupações específicas dos indivíduos.

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Cabe acrescentar, nesse contexto, a importância da opinião das pessoas, que se multiplica na sociedade, fazendo com que os governos, como cabe nas democracias, atendam aos anseios da população. E a proteção ambiental, redução da emissão de carbono e contenção do aquecimento terrestre são prioridades incontestáveis. É de se esperar, portanto, que a opinião pública mundial influencie uma postura multilateral sinérgica dos países em torno desses desafios fundamentais para o presente e o futuro da humanidade. Essa é uma expectativa da Unesco.

Os entrevistados também destacaram que a educação sobre sustentabilidade, promoção da cooperação internacional e construção de confiança na ciência são as melhores maneiras para enfrentar o problema ambiental. Violência e conflitos, discriminação, insegurança alimentar e falta de comida, água e moradia são outros grandes desafios. Registrou-se um grande consenso entre os respondentes: o ensino universal e de qualidade é a síntese da solução para cada um dos desafios.

Neste último aspecto, o Brasil tem imensa dívida, acumulada desde os primórdios de sua história. Não tratamos a educação com o cuidado proporcional à sua relevância como fator decisivo de transformação da História e da inclusão socioeconômica. Portanto, também não podemos atribuir ao azar o fato de a consciência ambiental não ser amplamente disseminada em nossa sociedade. A demanda do ensino público de excelência é mais premente do que nunca, como se observa neste triste momento de pandemia, nos episódios de desrespeito aos protocolos sanitários.

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Em contrapartida, nosso país tem respostas positivas para algumas questões também relevantes colocadas na pesquisa na Unesco: somos grandes produtores de alimentos e já contribuímos para abastecer os mercados globais e reduzir a insegurança alimentar; fabricamos biocombustíveis, como o etanol e o biodiesel, em grande volume, ajudando na queda da emissão de carbono pelas frotas de veículos; e nas 5,07 milhões de propriedades rurais constantes do último Censo Agropecuário (2017), que ocupam 351,28 milhões de hectares, ou 41% de nosso território, há imensa área de matas nativas e mananciais hídricos preservados, conforme determina o Código Florestal.

Do mesmo modo que a precariedade do ensino não é azar, não devemos atribuir à sorte todo esse potencial do Brasil para atender a algumas prioridades da humanidade, mas sim à capacidade de trabalho e resiliência do agronegócio. Ou seja, a maneira como o País irá inserir-se e o seu grau de protagonismo nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, inclusive no de número 13, não são uma questão de fortuna ou infortúnio, mas de competência e vontade de fazer a diferença.

*João Guilherme Sabino Ometto é engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos – EESC/USP), empresário e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA).

 

 

 

 

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