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Novatas desbancam BR em venda de álcool

BR, Shell e Ipiranga, que, tradicionalmente, dividiam as primeiras colocações em vendas do produto no Estado de São Paulo, perderam posições para duas distribuidoras menos conhecidas, a Petronova, líder desse mercado, e a Petrosul, a segunda colocada no Estado.

De janeiro a julho deste ano, a Petronova vendeu 230.560 metros cúbicos de álcool hidratado no mercado paulista, 141% acima do que o registrado em igual período de 2005.

Já a Petrosul comercializou 225.017 metros cúbicos, alta de 476%, no período, segundo informa a ANP (Agência Nacional de Petróleo).

A BR, a segunda maior empresa em faturamento do país, estimado em R$ 50 bilhões para este ano, passou para a terceira colocação, com vendas de 183.173 metros cúbicos de álcool hidratado no Estado de São Paulo, o que representou um crescimento de 18% sobre igual período do ano passado. A Tux, a quarta colocada, comercializou 165.645 metros cúbicos, 202,86% mais, no período.

Esses números surpreenderam representantes das distribuidoras tradicionais, reunidas no Sindicom, sindicato do setor de combustíveis, e ANP.

É a primeira vez que as chamadas “distribuidoras emergentes”, que surgiram após a abertura do mercado de combustíveis, em 1993, ocupam as primeiras colocações.

“Estranho”

A diretoria da BR considera os números “estranhos”, já que é a maior empresa do setor de combustíveis no Brasil, com 7.000 postos, e no Estado de São Paulo, com 1.583 postos.

Representantes da Shell, da Esso e da Ipiranga também avaliam como “anormal” a mudança verificada neste ano no ranking de vendas de álcool hidratado no mercado paulista.

“Como as distribuidoras reunidas no Sindicom podem deter 65% do mercado paulista de gasolina, mas só 30% do de álcool atuando com as mesmas redes de postos? A BR tem uma logística fantástica, competitiva, não faz sentido perder mercado”, afirma Reinaldo Belotti, diretor de rede de postos da BR.

O mercado de álcool hidratado no Estado de São Paulo cresceu 22%, em média, de janeiro a julho deste ano sobre igual período do ano passado, segundo levantamento da ANP.

Boa parte dessa expansão foi resultado de ações de fiscalização para acabar com o mercado do chamado álcool molhado -prática irregular de adição de água ao álcool anidro (isento de ICMS) para abastecer carros movidos a álcool, que devem usar o álcool hidratado.

“É normal distribuidoras elevarem em quase 500% as vendas nesse período?”, questiona Alísio Vaz, vice-presidente executivo do Sindicom. “Como esse é um fenômeno que não acompanha o mercado, a ANP vai realizar ações de fiscalização para tentar entender o que aconteceu”, afirma Roberto Ardenghy, superintendente de abastecimento da ANP.

A Petrosul informa que ganhou participação no mercado de álcool hidratado porque foi beneficiada com o resultado de fiscalizações sobre distribuidoras que atuavam de forma irregular. “Os produtores de álcool são obrigados agora a vender álcool anidro só para as distribuidoras que possuem cotas para a compra de gasolina com a Petrobras ou com a ANP. E, nós, temos cotas elevadas”, afirma Ronald Pereira da Silva, diretor comercial da Petrosul.

A Petrosul, com faturamento da ordem de R$ 3 bilhões anuais, informa que é uma empresa 100% nacional, ocupa a sexta colocação na distribuição de combustíveis no país, possui dez bases de distribuição, atua em seis Estados brasileiros e paga todos os impostos.

Conta com 300 postos com bandeira Petrosul, dos quais 60 são próprios. Atende a 220 postos revendedores sem bandeira, além de transportadoras e empresas intermediárias entre as distribuidoras e os postos.

“Diferentemente das distribuidoras tradicionais, nós compramos álcool diariamente das usinas, não temos contratos de longo prazo, o que nos permite correr atrás de preços menores. Temos também relacionamento personalizado com os clientes e financiamos as usinas menores”, diz Pereira da Silva.

A Tux, com apenas dois anos, informa que cresceu no mercado devido a um trabalho para elevar a distribuição nos postos sem bandeira e também porque compra álcool das usinas no dia a dia. “Não temos contratos fixos, e isso nos permite buscar os melhores preços”, afirma Jorge Horácio, administrador da Tux. Procurada pela Folha, a Petronova preferiu não se manifestar.

Abaixo de custo

Para o Sindicom, a “mágica” para um crescimento tão alto nas vendas de álcool de algumas concorrentes está no preço, já que, segundo informa, algumas distribuidoras estão vendendo o combustível até a preços abaixo de custo.

No levantamento da ANP, as distribuidoras vendiam o litro do álcool hidratado na semana passada no Estado de São Paulo a R$ 1,10, em média, para os postos, que comercializavam o combustível a R$ 1,31, em média, nas bombas. O Sindicom informa que o custo do litro do álcool hidratado para as distribuidoras na semana passada era de R$ 1,10, em média.

“Isso significa que existem distribuidoras vendendo álcool a preço de custo, o que mostra que há distorções nesse mercado. Ninguém vende sem ganhar nada ou com prejuízo”, afirma Vaz. Nos cálculos do Sindicom, o litro do álcool hidratado não pode custar menos do que R$ 1,40 para o consumidor. Esse seria o valor para remunerar com margem mínima tantos os postos como as distribuidoras.

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