Cortada por rios como o Jaguari e o Pirapitingui, Cosmópolis (a 135 km de SP) estava acostumada com a abundância de água. Desde o ano passado, porém, a realidade do município de 66 mil habitantes mudou.
A cada dia, um dos dois setores da cidade, na região de Campinas, tem o fornecimento interrompido entre as 6h e as 18h. Além disso, há diminuição da pressão do volume enviado às torneiras sempre no período das 7h às 17h.
Como outras cidades da região que adotaram racionamento, a captação de água para a represa do município, no rio Pirapitingui, também disputa espaço com o abastecimento de indústrias.
No caso de Cosmópolis, o rio fornece água à usina Ester, que tem uma das maiores autorizações para captar na bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jaguari, onde fica o sistema Cantareira.
O rodízio de água na cidade foi iniciado em fevereiro do ano passado. Desde então, a população vem tentando se adaptar às novas restrições.
O funileiro Vinicius Moraes, 26, conta que a restrição o obrigou a trocar a lavadora de alta pressão por um pano úmido no serviço. “Mesmo assim, na semana passada tivemos que parar o serviço por falta de água”, diz.
Pessoas que trabalham na área da construção relatam problemas similares. “Chegamos a ficar com a obra duas semanas parada por falta de água”, afirma o servente José Antônio Fernandes, 30.
Nascido na cidade, o aposentado Valentin Estevanato, 82, não se lembra de outra seca parecida. “Na roça, muita gente perdeu toda a plantação por falta de água”, diz ele, que mudou os hábitos em casa para economizar.
A Usina Ester, que emprega cerca de 2.000 pessoas na região, afirma também ter diminuído o uso da água no processo produtivo (lavagem da cana, moagem, fabricação de açúcar, álcool e geração de energia). “Temos solicitação de renovação, revisada, prevendo captação de 40% da outorga atual”, afirmou a usina, por meio de nota.
Em 2014, ano da crise hídrica, a produtividade agrícola foi 19% menor do que a esperada, diz a usina.
Região
Cidades próximas a Cosmópolis também adotaram rodízio de água, como Valinhos, Santo Antonio de Posse e Santa Bárbara D´Oeste.
Em Santa Bárbara, o racionamento veio mesmo com a existência de três represas para abastecer a cidade. O rodízio já acabou, mas a cidade estuda passar a captar água também do rio Piracicaba.
“[Antes] Todo mundo achava que tinha água em abundância. Mesmo com o fim do racionamento, você não vê mais desperdício”, diz Carlos Bueno de Camargo Junior, 41, dono de um pet shop.
(Fonte: Folha de São Paulo)