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No futuro, o biodiesel

A próxima expansão do setor sucroalcooleiro vai incluir investimentos num combustível considerado novo e ecologicamente correto, o biodiesel. A série de reportagens O novo ciclo da cana termina hoje, apontando oportunidades que se abrem para os produtores brasileiros. Os textos são de Angela Fernanda Belfort.

Usineiros e executivos das empresas que vendem equipamentos para o setor sucroalcooleiro acreditam que as usinas, no futuro, terão unidades anexas para a produção do biodiesel. O motivo desta sinergia é simples. São utilizados 30% de etanol e 70% de óleo vegetal – que pode ser extraído da mamona, soja, amendoim, palma (dendê), entre outros – na sua fabricação. Depois da reação química, a composição do biodiesel fica sendo 10% de álcool e 90% de óleo vegetal.

“O biodiesel é extremamente necessário para o Brasil. As usinas deveriam colocar pequenas unidades anexas para produzi-lo”, afirma o presidente da Usina Moema, o paulista Maurílio Biagi Filho, que também é conselheiro da Presidência da República para assuntos do setor sucroalcooleiro.

Depois da expansão do álcool, os próximos investimentos do setor sucroalcooleiro deverão se concentrar na produção de biodiesel, segundo usineiros entrevistados pelo JC. Alguns dos motivos que devem impulsionar estes futuros investimentos são os mesmos que estão provocando o novo ciclo da cana-de-açúcar no País: a busca por uma alternativa que substitua os combustíveis fósseis e a falta de disponibilidade de grandes áreas férteis em alguns países, o que vai fazer com que eles se tornem importadores em potencial do biodiesel brasileiro.

“O álcool e o biodiesel são os primeiros da fila para substituir os combustíveis fósseis. E o Brasil é o país que mais tem condições de fornecer esses dois produtos”, afirma o usineiro Jorge Petribú, que tem usinas na Mata Norte de Pernambuco e no oeste paulista.

No cenário do biodiesel, outro ponto pesa a favor do oeste paulista. Na região, alguns produtores já fazem o cultivo consorciado da cana-de-açúcar com outras culturas, incluindo pelo menos o amendoim, que é uma oleaginosa. Qualquer material que resulte em óleo vegetal pode ser usado como matéria-prima para o biodiesel.

Embora seja visível o entusiasmo dos empresários do setor, até agora somente uma usina de álcool, do interior de São Paulo, construiu uma unidade integrada para a produção de biodiesel. Os maiores investimentos em plantas de biodiesel estão sendo feitos pela Petrobras, que tem como maior acionista o governo brasileiro.

A única exceção deste cenário foi o Grupo Bertin, que está construindo uma grande unidade de biodiesel na cidade paulista de Lins. O empreendimento vai demandar um investimento que varia de R$ 20 milhões a R$ 40 milhões e a planta terá a maior capacidade já instalada no País para a produção do biodiesel.

Somente a fábrica do Grupo Bertin deve atender 14% da demanda nacional, quando começar a adição de 2% de biodiesel no diesel. A empresa poderá fabricar cerca de 100 milhões de litros de biodiesel por ano. Como o grupo é proprietário de grandes frigoríficos, vai passar a usar um material que já existe em grande quantidade na empresa: o sebo bovino.

Mas a legislação do biodiesel é criticada por alguns empresários do setor. Ela concede isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ao produto quando sua matéria-prima é produzida em áreas de agricultura familiar, que não é muito organizada no Brasil e não produz em larga escala.

A demanda pelo biodiesel vai passar a ser grande a partir de 2008, quando será obrigatória a adição de 2% do biocombustível ao diesel. Esse aumento da demanda também vai ocorrer em nível mundial, já que vários países também estão aumentando a quantidade de biodiesel que será adicionado ao diesel nos próximos anos. “A procura pelo biodiesel vai tornar necessária muita matéria-prima oleaginosa para a produção do biocombustível e ainda não começamos a ver essas plantações ocorrerem em larga escala”, diz um produtor que prefere não se identificar.

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