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Nem só de soja se faz biodiesel

Com o aumento da demanda por óleos vegetais para a produção de biodiesel no país, cresce o número de pesquisas e alternativas que estimulem a produção e facilitem o trabalho do agricultor e das indústrias. Atualmente, 80% do biodiesel no Brasil é feito com óleo de soja. Contudo, o assessor de cana-de-açúcar e agroenergia do Ministério da Agricultura (Mapa), José Newton Vieira, explica que há interesse do governo em fomentar outras culturas em que pequenos produtores possam ser competitivos e tenham maior produtividade e rentabilidade. Uma prova do estímulo a inovações é a criação da Embrapa Agroenergia, que ganhará sede própria em Brasília em junho e atuará como centro de desenvolvimento de pesquisas e de suporte para as demais unidades espalhadas pelo país que fomentem a produção de oleaginosas e palmáceas.

Na região Sul, a Embrapa estuda o girassol e a canola, opções de maior rendimento de óleo em comparação com a soja. “É possível obter de 300 a 400 quilos de óleo por hectare ao ano a mais”, salienta Vieira. Ele acrescenta que ambas as culturas estão contempladas em políticas de governo por representarem alternativa à soja em curto prazo. “Elas permitem o uso do solo em período em que não haveria produção de alimento. É mais eficiência no uso da terra.”

De acordo com o assistente técnico da Emater Alencar Rugeri, o investimento nesta área propicia a rotação de culturas e que as propriedades tenham opções distintas voltadas ao mercado de biodiesel, sem ficarem restritas ao segmento. Isso porque seria possível produzir soja, girassol, canola e milho. A canola é apontada por Rugeri para o iverno gaúcho. Além disso, ele afirma que o processamento deste grão é mais simples e facilita o alcance de especificações técnicas e padrão de qualidade, o que permitiria maior mistura de biodiesel sem alteração de motores.

Entre as empresas que apostam no óleo de canola está a BSBios, que planeja fazer um blend com o óleo de soja, reduzindo a dependência da oleaginosa. De acordo com o diretor superintendente da BSBios, Erasmo Carlos Battistella, a produção tem crescido e deve chegar a 15 mil hectares neste ano. “Precisamos aumentar a escala para que isso seja viável. No próximo ano, planejamos chegar a 20 mil a 25 mil hectares.” A empresa defende a adoção do B-20 em 2020. Hoje está em vigor a adição de 5% de biodiesel ao diesel, o chamado B-5.

No girassol, Rugeri aponta como vantagens a tolerância à estiagem, que considera fundamental em um estado de grande oscilação de temperatura. Uma desvantagem do girassol e da canola é a necessidade de adaptação do maquinário empregado, embora a mecanização seja similar à da soja.

O administrador da Oleoplan, Marcos Paulo Leite, pondera que a dificuldade com as culturas é a negociação dos subprodutos no mercado. “É muito bom para o óleo, mas há dificuldade de colocação do farelo.” A empresa trabalha com pequenos produtores e opta pela soja na maior parte da produção, por considerar menos arriscada.

Vieira salienta que há aporte para pesquisa de crambe e nabo forrageiro, antes usados apenas como cobertura de solo. Opções como tungue, pinhão manso e mamona são ou já foram pesquisadas no Estado, mas esbarram na falta de mecanização. Para o Mapa, o pinhão manso é uma das apostas a longo prazo e ocupa, em média, 60 mil hectares no país. A Embrapa destinou R$ 7 milhões para pesquisas com a cultura, considerada atrativa pela produtividade e por empregar mais pessoas. No entanto, não é indicada para plantio comercial, pois não há conhecimento para se recomendar manejo, produtos e datas de cultivo. Em quatro ou cinco anos deve ser feito o primeiro zoneamento. “O pinhão manso é uma cultura perene. Conhecer a dinâmica da planta é complicado.” O diretor da Associação Brasileira de Produtores de Pinhão Manso, Roberto Murat, salienta que a planta é bem vista pela comunidade internacional como matéria-prima para biodiesel por não ser uma fonte de alimento.

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