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Negócios com redução de emissões triplicam

O mercado global de carbono triplicou de tamanho nos últimos dois anos, passando de US$ 10 bilhões em 2005 para US$ 30 bilhões em 2006, segundo relatório do Banco Mundial que acaba de ser divulgado. Os negócios foram dominados pela venda e revenda das permissões européias para redução de emissões (EUAs), vinculadas ao Protocolo de Kyoto, num valor de aproximadamente US$ 25 bilhões. Uma EUA equivale a uma tonelada de dióxido de carbono que deixa de ser emitida.

Segundo o documento, apresentado no dia 2 de maio, em Colônia, na Alemanha, durante a Carbon Expo, principal encontro de negociadores do setor, mais de 1,1 bilhão de EUAs foram negociadas em 2006, somando cerca de US$ 25 bilhões, contra 321 milhões de toneladas negociadas em 2005, quando foram totalizados US$ 8 bilhões. A estimativa, porém, segundo o relatório, é que até 2012, quando termina o prazo dado pelo protocolo para que países industrializados reduzam suas emissões, o mercado registre um adicional de mais um bilhão de EUAs, o que representará um aumento considerável na demanda, com reflexos nos preços.

O mercado de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e Implementação Conjunta (JI) em países em desenvolvimento também cresceu de forma aguda, chegando a US$ 5 bilhões em 2006, o que representa mais que o dobro da marca alcançada no ano anterior. O protocolo permite que países desenvolvidos comprem créditos de projetos destinados a reduzir as emissões em países mais pobres. Os negócios envolvendo emissões reduzidas certificadas (CERs) vindas de projetos MDL dominaram com 450 milhões de toneladas comercializadas. Já as unidades de emissões reduzidas (ERUs) vindas de projetos JI somaram 16 milhões de toneladas, segundo o Banco Mundial.

Pelo segundo ano consecutivo, a China dominou o mercado de emissões reduzidas, com 61% dos volumes negociados em 2006, seguida pela Índia, com 12%. O Brasil ficou com uma modesta fatia de 4%, atrás de outros países asiáticos que, juntos, somaram 7%. O país também vem perdendo terreno em relação ao número de projetos MDL. Depois de liderar o setor em 2005, perdeu o posto para China e Índia, e está prestes a ser ultrapassado também pelo México. Do total de 1906 projetos registrados até o final de abril, o Brasil aparece como autor de 221, contra 623 da Índia e 446 da China.

Para Marco Antonio Fujihara, fundador da consultoria Instituto Totum e um dos pioneiros em negócios sustentáveis no país, não faltam motivos para o Brasil estar patinando no mercado de carbono. Um deles é a falta de um marco regulatório. “O que é, afinal, carbono para a legislação brasileira?”, questiona. “Metade dos advogados que conheço acha que se trata de um derivativo financeiro e a outra metade diz que é um ativo financeiro”. Essa indefinição, segundo ele, inibe tanto empresários internos quanto investidores externos. “Além disso, impede a formulação de mecanismos importantes, como por exemplo o sistema de tributação”.

Como contraponto, Fujihara cita o caso dos dois principais concorrentes do Brasil. “A Índia tem um marco regulatório absolutamente claro e a China chegou a estipular preço mínimo para carbono”. Para ele, as indefinições internas também favorecem a atuação de especuladores. “Todo mercado nascente atrai aventureiros, mas se soubermos depurar ficarão apenas as empresas sérias”, pondera.

Outra razão para o Brasil estar perdendo terreno, segundo Fujihara, é o fato de seus principais concorrentes terem 90% de suas matrizes energéticas baseadas em combustíveis fósseis. “É muito mais simples reduzir emissões na China do que no Brasil, onde as fontes energéticas são quase todas renováveis”, explica. A saída, segundo ele, é usar a criatividade. “A quantidade de carbono não será tão grande quanto em um projeto chinês ou indiano, mas vamos competir em qualidade, sustentabilidade e preço”.

Fujihara, aliás, está otimista em relação aos preços do crédito de carbono. “Tudo indica que haverá uma retomada da valorização”, diz. Depois de amargar uma queda acentuada no segundo semestre de 2006, quando a cotação desceu à casa dos 8 euros a tonelada, os valores começam a reagir. “Tanto é verdade que o mercado futuro na Europa já está cotando preços firmes de 17 euros por tonelada em dezembro deste ano”, diz Fujihara.

Para o diretor do Grupo Stratus, Philippe Lisbona, o cenário atual configura uma “janela de oportunidades” que deverá se estender até meados de 2008. “A janela existe porque, nas projeções atuais de demanda, as quantificações já estão relativamente definidas”, observa. Segundo ele, os investidores não vão esperar o último segundo de 2012 para comprar créditos de carbono. “Eles têm de se planejar e o mercado tende a antecipar isso ao longo do ano que vem, o que reforça a chance do preço permanecer bom durante esse período”, completa. Ele ressalta, porém, que eventuais alterações podem ocorrer. “Se, por exemplo, os EUA entrarem no mercado, tudo muda”.

“Creio que ainda há tempo para o desenvolvimento de projetos MDL no Brasil”, diz o consultor Antonio Carlos Araújo, da Trevisan Consultoria. Segundo ele, caso o Brasil cresça a taxas maiores do que 4,1% haverá possível falta de energia. “Nesse cenário, as pequenas centrais hidrelétricas poderão tornar-se alternativas atraentes, em muitos casos provenientes de projetos de MDL”. Para ele, a geração a partir da biomassa da cana-de-açúcar também poderá se tornar rentável para geração de créditos de carbono.

“Os países europeus estão reposicionando suas metas, estão sendo mais rígidos, e a demanda por créditos de carbono deve aumentar”, avalia o diretor de produtos financeiros e ambientais da BM&F, Álvaro Mendonça. “O Brasil tem grande potencial para apresentação de projetos de qualidade, mas o ritmo caiu em 2006 devido à queda nos preços”, avalia Mendonça.

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