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Na escolinha do professor Chávez

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, adotou ontem o papel de docente em sua tentativa de convencer os chefes de Estado sul-americanos a aderir a um modelo de integração energética focado nos interesses venezuelanos. Ao abrir a reunião de cúpula, determinou a distribuição de uma cartilha dividida em cinco tópicos – petróleo, gás, energia alternativa e economia de energia – a cada um dos colegas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apertou a vista para enxergar em um telão o resumo das idéias de Chávez.

Para a área de gás, Chávez colocou como foco inicial a exploração no projeto Delta-Caribe, no norte da Venezuela – uma imensa reserva, praticamente inexplorada. O produto seria levado a centros industriais na região, como o futuro pólo gasoquímico de El Tablazo, parceria da Braskem com a venezuelana Pequiven. Além da exportação de gás natural liquefeito, por navio, sugeriu três gasodutos. O Gasoduto do Sul, na visão de Chávez, terá um traçado adicional, que cortaria o Brasil de Norte a Sul. O desenho prevê que o primeiro trecho siga pela região amazônica e o sertão nordestino até Recife (PE).

Chávez ainda destacou sua aposta no Gasoduto Transoceânico, que cortaria o continente do Atlântico ao Pacífico, e no Gasoduto Transandino, que começaria com um trecho entre Venezuela e Colômbia e seguiria para a América Central. Não indicou fontes de recursos para construí-los. Nesse capítulo, defendeu a ampliação do uso do gás em veículos na América do Sul – com o cuidado de não citar a substituição do etanol por esse combustível. Calculou que, se a Venezuela substituísse a gasolina pelo gás, hoje, economizaria US$ 10 bilhões.

Ao iniciar sua lição sobre o que pretende na área de petróleo, Chávez disse que “reservou um bloco” na Faixa do Orinoco somente para companhias sul-americanas. “Queremos pôr o nosso petróleo à disposição da América do Sul.” Sugeriu que os bônus pagos por empresas estrangeiras para explorar petróleo na região, calculados em US$ 5 bilhões, sejam reunidos em um fundo para financiar a construção de refinarias, como a “exemplar” Abreu de Lima – parceria da Petróleos de Venezuela (PDVSA) com a Petrobrás.

Lembrou que companhias americanas e de outros países que operam na região estariam sujeitas ao depósito, mas acenou com garantia ao investimento. Ao término da “aula”, Chávez deu a palavra aos demais presidentes.

O presidente Lula deixou a sala, com um pequeno grupo. Os demais ficaram em silêncio, interrompido por Chávez. “Um professor meu dizia que, quando há silêncio, todo mundo entendeu tudo ou não entendeu nada”, disse, bem-humorado.

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