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Mundo terá novo choque do petróleo

O preço do petróleo não só está atingindo novos picos nominais mas também se aproxima dos recordes estabelecidos em 1979 em termos reais. O significado desse recente “choque da energia”, porém, vem sendo encarado em geral como pouco importante.

As projeções de consenso quanto aos preços do petróleo para daqui a 12 meses, por exemplo, se mantiveram em torno dos US$ 25 por barril entre 2000 e o final de 2004, mesmo quando os preços no mercado à vista já tinham se aproximado dos US$ 50. A diferença entre as projeções e o preço de mercado se reduziu recentemente, mas o mundo continua a parecer relutante em adquirir petróleo a preços altos em qualquer prazo além do futuro imediato.

É nosso dever perguntar se o cardápio do preço do petróleo passou a incluir mais do que os pratos usuais de demanda chinesa, escassez temporária na capacidade de refino e furacões. Existem três áreas de preocupação quanto às perspectivas de preços do petróleo: o contexto, a oferta e os efeitos sobre a economia.

O contexto sob o qual os preços do petróleo superaram a marca dos US$ 60 por barril tem implicações importantes. Preços elevados por um período longo podem até ajudar a reduzir a dependência do petróleo a longo prazo. Mas a questão econômica que temos de confrontar de maneira mais imediata é a demanda por energia, que vem crescendo, de 2003 para cá, em ritmo 2,5 vezes maior que o da década anterior.

Como bem se sabe, boa parte dessa demanda adicional provém da China e da Índia. O ritmo de crescimento no consumo de petróleo desses dois mastodontes dos emergentes e em muitos países do mundo emergente continuará a se expandir à medida que o crescimento na renda per capita e as mudanças no padrão de consumo se desenvolvem.

Estima-se que a demanda mundial por petróleo deva subir em cerca de 50% até 2020. A perspectiva a médio prazo é de crescimento sustentado da demanda.

O problema é que há preocupações cada vez maiores quanto à oferta. O petróleo é um negócio de distribuição com capacidade realizável a curto prazo de não mais que algumas centenas de milhares de barris. Mas as condições severas na relação entre oferta e procura não são incomuns, em si. As novas preocupações derivam de perspectivas que podem ser resumidas sob o nome “pico do petróleo”.

Alguns observadores acreditam que o pico na produção de petróleo possa ser atingido entre agora e 2008, e outros estimam que virá entre 2010 e 2020.

A preocupação quanto ao esgotamento das reservas parece se ter intensificado por diversas razões, entre as quais melhoras na coleta e análise de dados geológicos, as reservas cada vez mais esparsas e preocupações quanto ao fato de que a maior parte do petróleo convencional do mundo venha de poços gigantescos, velhos e explorados em excesso.

Não existe risco de que o petróleo esteja se esgotando a curto prazo, mas as perspectivas de que os avanços na extração acompanhem o crescimento na demanda começam a ser questionadas.

Até hoje, os preços elevados do petróleo não causaram desgaste real na economia mundial. Os preços altos refletem principalmente a demanda mundial, especificamente nos EUA e na China. Os países desenvolvidos usam cerca de 50% a mais de petróleo por unidade de PIB (Produto Interno Bruto) do que nos anos 70.

E a reciclagem de riqueza petroleira pelos produtores continua. Países com grandes superávits investiram nos mercados mundiais de capitais, especialmente nos EUA, e assim ajudaram a manter baixos os juros de longo prazo.

Mas não existem razões para complacência. O aumento nos gastos causado pela alta de mais de 100% nos preços do petróleo equivale a cerca de 2,7% do PIB dos Estados Unidos.

O impacto líquido geral dessa mudança nos preços do petróleo foi compensado por outros fatores. Mas e se os preços do petróleo se mantiverem elevados?

Os efeitos sobre posições de conta corrente -que já são críticas- seria elevar em mais 1% do PIB o déficit comercial dos EUA.

É diante desse pano de fundo que o conceito do “pico do petróleo” se torna mais preocupante. Os preços altos talvez não sejam apenas um fenômeno cíclico causado por um pico de demanda.

Em lugar disso, os preços altos podem ser uma primeira indicação de desequilíbrio entre oferta e procura, que só poderia ser reconciliado por meio de preços ainda mais altos.

Mais cedo ou mais tarde, os níveis de produção começarão a cair, mas isso talvez demore um pouco a se concretizar. Enquanto isso, podemos ter de conviver com energia mais cara e ficar de olho nos efeitos colaterais sobre a economia quando o atual ímpeto econômico se dispersar, como é normal que aconteça.

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