A participação das mulheres nos negócios tem crescido cada vez mais e o trabalho feminino vem se destacando em diferentes etapas do processo produtivo. Conforme identificou o Censo Agropecuário de 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase um milhão de mulheres são responsáveis pela gestão de propriedades rurais no país, de um universo de 5,07 milhões.
Pesquisa publicada em março de 2020 mostra que as mulheres no Brasil ocupam cerca de 34% dos cargos de liderança sênior (diretoria executiva) nas empresas — e, todo o mundo, de acordo com a pesquisa mais recente do International Business Report da Grant Thornton, realizada com 4.812 empresas, em 32 países.
Nas unidades produtoras de açúcar e etanol, a presença das mulheres também é significativa. Para demonstrar em detalhes como a participação e a eficiência das mulheres no setor bioenergético, o JornalCana realizou um webinar na semana da mulher, que contou com contou com um painel especial.
Com patrocínio das empresas AxiAgro; GDT by Pró-Usinas; Pró-Usinas; HRC; Project Builder e S-PAA Soteica, o webinar foi moderado pelo jornalista Alessandro Reis e participaram Ana Oliveira, gerente de engenharia corporativa de processos da BP Bunge; Chris Morais, produtora rural da região de Barretos e uma das organizadoras do Tratoraço: dizer não ao ICMS / SP; Daniela Petribu, presidente da Usina Petribu; Inês Janegitz, gerente agrícola da Usina Atenas e Thais Fornicola, diretora agroindustrial da Raízen.
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Ana Oliveira, formada em Engenharia Química pela Universidade Federal de Uberlândia – MG, com pós-graduação em Gestão Ambiental pela UFSCAR e MBA em Tecnologia e Gestão Industrial do setor sucroenergético pela ESALQ-USP, construí sua carreira no setor bioenergético.
A profissional contou como foi sua evolução profissional desde que iniciou no segmento como engenheira Trainee, passando por diversas áreas, e até mesmo a gerenciar um novo projeto do interior de Goiás. Ela comentou como conciliou a rotina diária extensa de trabalho com a vida pessoal, inclusive com após o nascimento dos filhos gêmeos, afirmando que é normal a mulher ter e demonstrar a sua vulnerabilidade. Também disse que nunca sofreu discriminação no trabalho por ser mulher. “Eu construí minha carreira no setor, que me acolheu de uma maneira muito íntegra e com muito respeito”, ressaltou.
A produtora Chris Morais, que também é engenheira Civil, é considerada uma das principais representantes femininas do agronegócio e se tornou uma das vozes mais ativas na luta pelos direitos dos produtores rurais contra os decretos que alteraram o Regulamento de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e aumentaram a carga tributária de insumos e da produção rural paulista. No evento online, Chris falou como foi desenvolver uma liderança em um universo tão masculino. “Tudo na vida tem que ter limites e respeito entre todos. Com diálogos as coisas funcionam”, afirmou.
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Formada em Engenharia Agronômica na ESAPP, com pós-graduação em Agribusiness pela Enbrape, em Qualidade Total e Marketing pela UNIESP e MBA em Gestão Empresarial pela FGV, Inês Janegitz contou como ser uma profissional eficiente e motivada. Com diversos trabalhos de pesquisas publicados e requisitada para palestras e eventos, a engenheira iniciou a sua carreira profissional no Grupo Cocal, passando por todas as áreas do departamento da área agrícola, chegando à gerência. Durante um período como gerente regional do Polo de Araçatuba, da Raízen e voltou para assumir a diretoria da área agrícola do Grupo Cocal. Após uma experiência em uma empresa particular, agora é gerente agrícola da Usina Atena.
Para Inez é preciso enxergar o resultado e a competência das pessoas, independente do sexo, pois as oportunidades são para todos. E independente de ser homem ou melhor, para ser uma profissional eficiente “é preciso ter dedicação, estudar e se entregar”, disse.
No webinar, Thais Fornicola ressaltou o papel da mulher em relação à sustentabilidade afirmando que a atuação feminina está puxando essa agenda cada vez mais e contribuindo muito para a evolução mais ágil da transição energética.
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Engenheira eletricista formada pela Mauá em SP e com MBA em gestão de Negócios na EADA Barcelona, Thaís atua hoje como diretora agroindustrial no negócio de Etanol, Açúcar e Bioenergia da Raízen, mas sua carreira no Grupo Cosan, iniciou há 11 anos, ao integra o time de RH da companhia. Em sua atual função, Thaís é responsável pelo P&L de 5 unidades produtoras de açúcar, etanol e bioenergia incluindo a planta de etanol de 2ª geração e lidera um time de mais de 2700 pessoas em busca de produzir cana e produtos de alta qualidade com muita eficiência, energia e segurança.
A engenheira, que é casada e mãe dois meninos, afirmou que tem muitas mulheres liderando a área de renováveis da empresa e que o futuro é enorme para as mulheres, mas ressaltou que é preciso ter muita dedicação, é preciso investir em tempo, ter resiliência e coragem para assumir os desafio.
Mulheres se destacam na liderança de grandes companhias
Ao longo de sua trajetória profissional Daniela Petribu Oriá trabalhou em ambientes tradicionalmente masculino, mas isso nunca foi obstáculo para ela seguir em frente. Sua família planta cana há 300 anos e a usina da família, a Petribu, localizada em Lagoa do Itaenga – PE, é a mais antiga do Brasil, tendo sido criada em 1729.
Formada em administração de empresas, Daniela começou sua carreira profissional no sistema bancário, depois foi para o varejo e em 2000, de fato, passou a fazer parte do quadro de funcionários da usina. Ela foi a primeira mulher a assumir a presidência de uma usina no Nordeste e atualmente, está à frente de um time de cerca de cinco mil funcionários.
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O apoio da família foi essencial para que ela conseguisse conciliar os compromissos profissionais com a vida pessoal. Sua excelência em gestão é referência no setor e a fez ser reconhecida com o Prêmio MasterCana Nordeste como “Executiva do Ano”, em 2014.
Durante o webinar do JornalCana, a executiva falou sobre a carreira e deu um panorama sobre a sua companhia. “A usina é muito antiga, mas tem um DNA muito moderno. Gostamos muito de tecnologia, todo ano a nossa meta é lançar dois tipos de produto e neste ano, lançamos o açúcar mascavo e o álcool gel”, contou a executiva que faz parte da oitava geração no comando da empresa.
Daniela comentou ainda sobre os desafios do dia a dia como, por exemplo, o déficit hídrico tradicional na região de atuação da usina. “Temos um regime de chuva de 1200 milímetros por ano, mas no ano passado só foram registrados 730 milímetros. Para fazer cana com este volume de chuvas tem que ter muita criatividade, um manejo muito bem feito e é isso que a gente busca todo dia. Novas técnicas para ter um manejo melhor, parcerias com institutos, variedades mais resistentes”, explicou.
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Uma das soluções para este problema foi investir alto em irrigação por gotejamento, iniciativa que tem dado resultados fantásticos. “Estamos conseguindo fazer até três vezes, o que a gente faz em uma área de sequeiro com a irrigação. A meta é expandir e estamos construindo duas barragens este ano para aumentar a área irrigada”, contou.
A executiva disse ainda que a usina investiu também em um centro de controle operacional para monitor, em tempo real, toda a logística da usina, com o objetivo de melhorar a eficiência das atividades e em um programa para controle de incêndios.
“O projeto está no segundo ano e com ele conseguimos diminuir em até 60% o número de incêndios criminosos na área. Esse era um grande problema que temos e que acaba atrapalhando todo o planejamento da usina”, afirmou.
Esta matéria faz parte da edição de março do JornalCana.