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Mudança no cenário do preço internacional do petróleo

O Brasil deve preservar o potencial de desenvolvimento que o etanol (álcool) representa para a economia brasileira. O etanol tem potencial semelhante ao peso atual da indústria do petróleo, em termos de valor, porém com vantagens de vital importância para o Brasil, em relação à indústria do petróleo: maior geração de empregos; absorção de mão-de-obra menos qualificada; fixação do trabalhador no campo; e base e perspectiva de crescimento da produção justamente em regiões menos desenvolvidas, favorecendo a redução das iniqüidades de distribuição de renda e desenvolvimento regional.

Considerando estes motivos, o Brasil não pode desperdiçar a chance de assegurar a continuidade das tendências de crescimento da demanda do etanol, como commodity do comércio mundial. Quanto ao etanol, suas vantagens naturais no Brasil são amplamente conhecidas, especialmente em relação à área disponível para a ampliação da produção de cana de açúcar, ao clima favorável, à infra-estrutura produtiva existente, à larga experiência na produção de cana de açúcar e de etanol, e ao know how da cadeia produtiva, altamente desenvolvido, a ponto de ser importante item na pauta de exportações brasileiras de tecnologia. Há, também, o binômio maturidade tecnológica vs impactos ambientais, dentro do qual, conforme o Prof. Helder Queiroz Pinto Jr., do Grupo de Economia da Energia da UFRJ, o etanol é favorecido duplamente pela maturidade do conhecimento tecnológico para seu aproveitamento, e pelos baixos níveis de impactos ambientais, em relação a outras fontes energéticas alternativas, qualidades que compartilha com as energias solar e eólica, e o biodiesel.

Hoje, até a maior empresa brasileira (Petrobras) está dedicada à sua participação nesta indústria, pelo menos na área de logística. Porém, é justamente nesta área onde uma maior capacidade financeira e de desenvolvimento de grandes projetos industriais, como a Petrobras detém, é essencial para assegurar a realização do potencial do etanol no Brasil. A Petrobras, portanto, acertou nesta sua estratégia em relação ao etanol. Agora falta o governo brasileiro fazer a sua parte para assegurar o lugar do etanol como commodity do comércio internacional, e viabilizar suas vantagens comerciais, sociais e estratégicas para o Brasil.

Para tanto, é essencial reconhecer que estamos diante de uma inflexão na tendência de evolução do preço do petróleo como commodity energética. Até recentemente, temia-se a possibilidade do preço subir sem teto definido, mesmo quando o preço do Brent beirava os US$ 80 por barril. Hoje, a preocupação do Brasil deveria ser a possibilidade do preço do petróleo cair, sem piso definido de sustentação. O grande risco para o Brasil, com a queda do preço do petróleo, como já observado desde seu pico recente até os valores atuais, próximos a US$ 60 por barril, é que diminui também o incentivo para que o resto do mundo continue vendo o etanol como alternativa viável para a matriz energética, especialmente da matriz energética automotiva. Se esse incentivo desaparecer, seria um golpe trágico e duro para as expectativas favoráveis que o etanol oferece para o Brasil.

A inflexão da tendência de evolução do preço do petróleo sugere que o valor de US$ 35 a US$ 42 por barril, adotado como preço de segurança no plano estratégico atual da Petrobras, não é tão baixo como alguns pensavam. Mesmo assim, preços próximos a estes valores certamente poderiam destruir a atratividade de energias alternativas, dentre elas o etanol, na matriz energética dos transportes em nível mundial, acabando com as perspectivas de exportação em grande escala do produto brasileiro. Só o Japão representa uma demanda potencial de 1,8 bilhão de litros anuais, já a partir dos próximos anos, boa parte dos quais o Brasil poderia fornecer. Nos Estados Unidos, a demanda estimada de etanol deverá ser de 28 bilhões de litros em 2012.

O Brasil, maior produtor de etanol do mundo, pode perder esta posição para os Estados Unidos, onde a expansão da produção, à base de milho e soja, deve crescer em ritmo acelerado, de até 25% ao ano, nos próximos anos suportada por subsídios.

As decisões estratégicas do Ministério de Minas e Energia (MME) devem se traduzir em políticas para preservar a disponibilidade do suprimento do etanol, que possibilitem atender grande parte da demanda gerada por leis já aprovadas, em países como, o Japão e os EUA. Só assim o Brasil poderá manter sua posição de liderança em relação ao mercado, conquistada a duras penas, e abrangendo a produção, comercialização e domínio tecnológico. Os três pilares destas políticas devem ser: retirar os incentivos à geração de energia usando o gás natural (GN); viabilizar a continuidade do programa nuclear brasileiro; e incentivar a ampliação da produção de etanol

Em primeiro lugar, retirar os incentivos à geração de energia elétrica usando o gás natural (GN), em usinas termelétricas (UTEs). O GN que estará disponível, infelizmente, não é suficiente para atender a mais essa demanda. Além de desafogar a situação de potencial crise de abastecimento de GN para a indústria, para os consumidores residenciais e para o mercado automotivo, esperada em poucos anos, esta medida forneceria incentivos ao uso de combustíveis alternativos para as UTEs. Esta idéia já está sendo discutida pelo MME, mas deve ser implementada já, com o objetivo de deslocar o consumo de GN para os mercados onde é mais bem aproveitado, e onde não são esperadas grandes mudanças repentinas na demanda, como seria o caso na possível entrada em operação das UTEs.Estas mudanças repentinas na demanda do GN são incompatíveis com suas características ininterruptíveis. O espaço aberto por este deslocamento favoreceria a demanda por outros combustíveis, inclusive o etanol, o biodiesel, etc., fornecendo sustentação ao preço dos combustíveis alternativos, e estimulando seu desenvolvimento como alternativa viável, estável, e confiável, em longo prazo. Em contrapartida, deve-se incentivar a utilização do GN nos meios de transporte (GNV), inclusive através dos veículos totalflex, uma vez que, segundo Wagner Victer, Secretário de Energia, da Indústria Naval e do Petróleo, do Rio de Janeiro, o posto justifica a extensão do duto do gás, que em seguida leva as pequenas indústrias a entrar na malha e a se beneficiar. Desta forma, seriam gerados excedentes exportáveis de etanol, visando atender a demanda mundial deste combustível, dando segurança à demanda criada pelas leis aprovadas em outros países, que incentivam os biocombustíveis. Em segundo lugar, viabilizar a continuidade do programa nuclear, para inserir a energia nuclear na matriz elétrica o quanto antes. O desenvolvimento do programa nuclear favorece o aproveitamento das reservas de urânio.

kicker: Agora falta o governo brasileiro fazer a sua parte para assegurar o lugar do etanol como commodity do comércio internacional

(Gazeta Mercantil/Caderno C – Pág. 2)(Hernani Aquini Fernandes Chaves, José Diamantino de Almeida Dourado, Cleveland Maximino Jones – Professores da Faculdade de Geologia da UERJ)

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