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Muda o perfil da distribuição de etanol no país

Tanque etanol
Tanque etanol

Uma explosão do consumo de etanol hidratado no Nordeste e em Minas Gerais – influenciada, como no país em geral, pelo aumento dos preços da gasolina – está provocando mudanças na estratégia de abastecimento das distribuidoras de combustíveis. O mercado mineiro, “exportador” do produto nos tempos de demanda mais fraca, já está prestes a se tornar “importador”. E o Nordeste, que trazia de outras regiões cerca de 20% de suas necessidades, tende a ver esse percentual subir para pelo menos 50%.

Usado diretamente no tanque dos veículos, o hidratado é um concorrente direto da gasolina C, que subiu quase 10% na média nacional desde fevereiro, quando voltou a incidir sobre o derivado fóssil a cobrança da Cide. Mas em Minas Gerais não foi só esse aumento que incentivou uma migração da gasolina para o etanol. A guinada também foi estimulada por uma mudança tributária no Estado que estabeleceu uma diferenciação de 15 pontos percentuais entre as alíquotas de ICMS cobradas sobre os dois produtos e tornou o biocombustível nos postos ainda mais competitivo.

Conforme o parâmetro mais aceito pelo mercado, essa vantagem existe quando o preço do hidratado equivale a menos de 70% do preço da gasolina. Em Minas, essa relação, que historicamente era da ordem de 75%, recuou para 64%. Com isso, o consumo de hidratado no Estado somou 892 milhões de litros de janeiro a julho, volume já superior à demanda de 750 milhões de litros registrada em todo o ano passado, conforme dados a ANP. No país, o consumo de hidratado totalizou 9,9 bilhões de litros nos sete primeiros meses deste ano, aumento de 40%.

Com uma produção de 1,6 bilhão de litros de hidratado na safra 2014/15, Minas Gerais, nessa toada, em breve terá que importar o biocombustível de outros Estados. Para isso, basta que o patamar de demanda observado em julho (183 milhões de litros) seja repetido nos próximos meses, o que levaria o consumo em 12 meses a 1,8 bilhão de litros. “Se o mercado mineiro continuar nesse ritmo, vai precisar trazer hidratado de outros Estados”, confirmou Luciano Libório, diretor de abastecimento e regulação do sindicato que representa as distribuidoras do país (Sindicom).

Como em todos os anos, o etanol mineiro atendeu, também em 2015, parte da demanda do Nordeste durante a entressafra na região – abril a julho. Mas, segundo Libório, como o consumo em Minas Gerais cresceu, foi preciso buscar hidratado nas usinas de São Paulo para complementar a oferta nos postos do Estado. “A logística de abastecimento do Nordeste teve que ser mais trabalhada, com volumes saindo, ainda que indiretamente, de São Paulo. O que estamos vendo é uma ‘ginástica logística’, na qual é preciso percorrer distâncias mais longas para garantir o suprimento”, afirmou Libório.

Em 2014/15, as usinas do Nordeste produziram 725 milhões de litros de hidratado e, a região demandou de janeiro a dezembro de 2014 um volume 872 milhões de litros – um “déficit” de quase 150 milhões de litros. Mas essa diferença poderá superar 700 milhões de litros no ciclo atual (2015/16). Se o consumo de julho (129 milhões de litros) se repetir nos próximos cinco meses, à demanda de janeiro a julho – que cresceu 70%, para 844 milhões de litros – serão adicionados outros 645 milhões de litros, levando o consumo nos 12 meses do ano a quase 1,5 bilhão.

Para o executivo do Sindicom, o crescimento do mercado nordestino foi surpreendente, já que, diferentemente do que ocorreu em Minas e em outros Estados onde o etanol é mais competitivo, na região como um todo a paridade não é favorável. Nesse caso, além do “susto” provocado pela alta da gasolina, pesou também o hábito do consumidor de encher o máximo possível o tanque com o dinheiro que tem no bolso, disse o diretor da trading Bioagência, Tarcilo Rodrigues. De qualquer forma, ele observou que a relação entre os preços do hidratado e da gasolina no Nordeste ficou menos desfavorável ao biocombustível e não está mais próxima de 80%.

Em janeiro, antes da alta da gasolina, a relação na Bahia era de 78,4%. Em fevereiro, quando o preço médio da gasolina subiu 13% em relação a janeiro, para R$ 3,497 o litro, caiu para 72%. Em Pernambuco, aconteceu o mesmo. No primeiro mês do ano, a paridade era de 81,2%, mas o percentual caiu para entre 72% e 73% desde fevereiro.

(Fonte: Valor Econômico)

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