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MT: impacto do aquecimento global na agricultura pode ser menor

O estudo “Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira”, elaborado pela Universidade de Campinas (Unicamp) em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), traça perspectivas sombrias do aquecimento global para todo o país. Para Mato Grosso, no entanto, o impacto deverá ser menor do que no resto do Brasil. Considerado privilegiado pelo volume de água no solo e por já ter temperaturas mais elevadas em relação ao outros estados, Mato Grosso deverá apresentar menor redução da área plantada, terá área favoráveis à cana-de-açúcar, e, somente começará a sentir os impactos da elevação das temperaturas quando os termômetros avançarem mais 3º graus Celsius (C).

O estudo, apresentado na semana passada durante o 7º Congresso Brasileiro de Agribusiness, no WTC, em São Paulo, ratifica o aumento da temperatura no planeta – o chamado aquecimento global – e prevê redução da produção agrícola nas próximas décadas.

De acordo com a pesquisa, se a temperatura subir 1ºC, Mato Grosso perderá 5% da sua área atual de plantação de soja. Se chegar a 3ºC, a perda será de 29% da área atual. E, na possibilidade mais alarmante, (aumento de 5,8ºC), o Estado ficaria sem 63% da área plantada de soja.

A informação surgiu após a conclusão de uma pesquisa sobre as conseqüências do aquecimento global para nove culturas agrícolas, consideradas as mais importantes para o agronegócio brasileiro, realizada por pesquisadores da Embrapa Informática Agropecuária e do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp/SP.

O professor e diretor associado do Cepagri, Hilton Silveira Pinto, explicou que a pesquisa teve como metodologia a simulação das temperaturas previstas e, em cima disso, os especialistas refizeram todos os cálculos de risco de cultivo. Para ele, os produtores mato-grossenses levam a vantagem de não terem problemas de abastecimento de água no Estado.

Segundo Silveira Pinto, existe uma suscetibilidade da soja para a seca. No Centro-Oeste, a temperatura também não deve subir tanto quanto nos lugares frios, além de ter chuva suficiente para viabilizar a agricultura, o que não ocorrerá na região Sul.

Na avaliação do professor da Unicamp, Mato Grosso ainda terá áreas muito favoráveis à plantação de cana-de-açúcar, porque a planta suportará o calor e aproveitará o excesso de gás carbônico. Em outras culturas, como o milho, os danos do aumento da temperatura não terão grande peso, algo em torno de 11% a 12% quando chegar ao patamar mais elevado porque os grãos são menos sensíveis ao calor.

ARROZ

No caso do arroz, o acréscimo de apenas 1 grau na temperatura do planeta faria com que a área cultivável, com plantio em data adequada, caísse de 4,8 mil hectares para 4,6 mil hectares. No pior dos cenários considerados, com 5,8 graus a mais, a área seria reduzida para 300 mil hectares. Em relação ao feijão, milho e soja, os resultados obtidos pelo estudo não foram muito diferentes.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Informática e coordenador da pesquisa, Eduardo Assad, com a temperatura alcançando o limite máximo tomado para análise, as áreas aptas para a produção dessas culturas ficariam drasticamente reduzidas. “Isso seria uma tragédia para o país, pois traria importantes impactos econômicos e sociais”, alerta o pesquisador.

COMPROVAÇÃO

O objetivo foi mensurar o impacto das mudanças climáticas trazidas pelo aumento de temperaturas sobre as culturas da soja, algodão, arroz, café, cana-de-açúcar, feijão, girassol, mandioca e milho, que juntas correspondem a 86,17% do total da área plantada no país.

Com a pesquisa, os especialistas traçaram o cenário das áreas de cultivo quando a temperatura média da Terra estiver acima do que é hoje, situação esperada num prazo de 50 a 100 anos.

Previsões não trazem pânico aos produtores

As perspectivas de aquecimento global e seus efeitos sobre a agricultura preocupam os produtores de Mato Grosso, mas não chegam a causar alardes. Segundo eles, providências já estão sendo tomadas para evitar o pior e a expectativa é de que o quadro seja revertido nos próximos anos. Em Mato Grosso, a preocupação maior recai sobre os produtores de soja e algodão, as principais culturas do agronegócio mato-grossense e que respondem por mais de 50% da balança comercial do Estado e também da safra nacional.

Segundo o ex-presidente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), Sérgio De Marco, a situação preocupa “porém não chega a ser tão grave assim”. Para ele, se todos agirem dentro da lei e fizerem apenas o desmatamento permitido, o impacto será bem menor. “Esse problema do aquecimento existe desde 1940. É uma balela dizer que no futuro a agricultura será inviabilizada por causa do calor, mas temos que fazer a nossa parte. Os produtores precisam atuar dentro de uma conscientização e procurar preservar o meio ambiente”.

De Marco acredita que a situação é “perfeitamente reversível”, desde que cada um faça a sua parte, como preservar as nascentes dos rios e evitar os desmates ilegais. “Se agirmos dessa forma não teremos problemas no futuro como estão alardeando”.

Ele diz que, mesmo com a confirmação da elevação das temperaturas, a produtividade de algodão e soja na região Centro-Oeste não deverá ser muito afetada. “A soja e o algodão são culturas que gostam de luminosidade, sol quente, chuva e aturam bem o calor”, frisa o produtor.

APROSOJA

O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Glauber Silveira, lembra que “se houver um controle dos desmatamentos e poluição, é possível reverter esta previsão sombria para o planeta”.

Ele disse que os produtores mato-grossenses “estão apreensivos”, mas ao mesmo tempo atentos e conscientes em relação à questão. Informou que a Aprosoja e a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato) estão trabalhando juntas no sentido de orientar os produtores sobre as conseqüências do aquecimento para a agricultura regional.

Silveira entende que o esforço deve ser de todos. “Não adianta, por exemplo, reduzir os desmatamentos e não fizermos algo para diminuir a poluição e o nível de emissão de gases na atmosfera. Os maiores causadores da poluição não são os produtores, mas as indústrias, os carros e os lixos nas cidades”.

Aprosoja aponta saídas para conter aquecimento

Diante do preocupante cenário traçado pelo estudo da Embrapa e Unicamp/SP em relação à temperatura do planeta no futuro, a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), em parceria com a Federação da Agricultura e Pecuária (Famato), vêm estudando saídas para minimizar os efeitos do aquecimento na agricultura mato-grossense nas próximas décadas.

Uma das alternativas, na avaliação do presidente da Aprosoja, Glauber Silveira, seria investir na área de bioenergia e reflorestamento. “Temos de pensar em desenvolvimento sustentável, nunca em engessamento da nossa economia”, ponderou.

Ele admite ver “com apreensão” as previsões dos pesquisadores da Unicamp e Embrapa, mas lembra que hoje “todos estão cientes do seu papel e procuram trabalhar em sintonia com os preceitos ambientais, respeitando a reserva legal e promovendo o reflorestamento das áreas desmatadas e degradadas”.

O presidente da Aprosoja passou uma informação otimista para fazer o “contraponto” dos efeitos negativos do aquecimento global: a agricultura brasileira tende a ser uma das menos poluidoras do mundo por dispor de alternativas de energias renováveis. “Acredito que se houver um melhor planejamento, daremos uma contribuição fantástica para minimizar as ameaças do aquecimento”, salientou.

BIOTECNOLOGIA

Na opinião do pesquisador da Embrapa Informática e coordenador do estudo, Eduardo Assad, o Brasil não poderá prescindir dos avanços proporcionados pela biotecnologia.

Segundo ele, a busca por plantas mais resistentes ao calor, por exemplo, será condição indispensável para que o país não tenha a sua produção agrícola comprometida. “Possivelmente, a nossa melhor alternativa estará nos organismos geneticamente modificados”, diz ele.

A esta medida, acrescenta Silveira Pinto, professor do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp, deverão ser somadas outras, como a substituição de culturas em determinadas regiões e a ampliação da irrigação.

“O cenário está traçado. Restam agora duas opções: enfrentar os desafios com competência ou encarar os possíveis reflexos do aquecimento do planeta como uma fatalidade”.

Estudo aponta queda nos volumes agrícolas

O estudo “Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira”, traz uma informação no mínimo preocupante para os produtores brasileiros: o aumento da temperatura global vai provocar crescimento menor da agricultura nos próximos anos, especialmente das culturas de grãos como soja, milho e arroz.

Segundo o pesquisador Hilton Silveira, diretor do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp, das culturas pesquisadas até agora, apenas a cana-de-açúcar é que sai ganhando, pelo menos até 2050. Nas outras culturas, a área [plantada] cai e a produtividade diminui. Ele afirma que a produção de cana vai aumentar porque a modificação climática continua sendo adequada a essa cultura. “O etanol vai sair ganhando porque o clima vai favorecer a produção de cana, ou seja, será conseqüência”.

A mandioca é outro produto que não sairá perdendo com o aquecimento global. Embora o Nordeste deixe de produzir mandioca, essa raiz poderá ser cultivada na Amazônia, ainda que não imediatamente.

Isso ocorrerá “acima de um limite de anos em que a diminuição das chuvas na região permita [que se cultive] a mandioca”. Hilton Silveira estima que depois de 2020 e até 2050 serão criadas condições mais propícias para o cultivo de mandioca na Amazônia.

O estudo divulgado pela Unicamp e Embrapa, segundo Silveira, não tem objetivo de criar pânico. “O que queremos é mostrar que tecnologias a serem desenvolvidas podem fazer com que o fantasma do aquecimento global na agricultura não seja tão ruim. A gente pode adaptar culturas, pode perder plantio ou produção de soja no Sul, por exemplo, e ganhar em cana-de-açúcar”, afirmou o pesquisador.

Ele destacou também a necessidade de que as mudanças do clima preparem as autoridades para outro problema da maior relevância no Brasil, que são as migrações sociais e as dificuldades que isso representará na área da saúde.

Outro problema apontado pelo pesquisador da Unicamp é o fato de que “o Brasil tem uma mania muito grande de deixar acontecer para depois correr atrás”. Daí o alerta que está sendo feito para que o governo e a sociedade possam adotar medidas preventivas com bastante antecedência.

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