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MS: Produtores ainda esperam dinheiro do crédito de carbono

Os suinocultores de São Gabriel do Oeste consideram os biodigestores, que começaram a ser instalados nas propriedades da região há mais de um ano, como um “divisor de águas” da atividade, uma vez que, além de trazer diversas vantagens à produção, como geração própria de energia e de biofertilizantes, reduziram fortemente a emissão dos Gases de Efeito Estufa (GEEs), ou seja, a poluição. No entanto, o chamado “sequestro de carbono” – caracterizado pela queima dos gases nocivos ao meio ambiente em substituição às antigas lagoas de depósito dos dejetos a céu aberto que liberavam os gases – ainda não foi sido revertido em renda aos produtores.

Os créditos de carbono – criados para recompensar projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), que reduzam as emissões de gás de efeito estufa – deveriam ser repassados anualmente aos suinocultores, o que ainda não ocorreu.

No segundo semestre de 2005 a Cooperativa Agrícola de São Gabriel do Oeste (Cooasgo), município localizado a 130 quilômetros de Campo Grande, firmou um dos primeiros contratos do País para a instalação de biodigestores nas propriedades de todos os suinocultores da região, que prometiam, com o sistema, reduzir a poluição causada pelos dejetos da suinocultura.

A Fazenda Monte Azul, a 30 quilômetros de São Gabriel do Oeste, inaugurou quatro células de biodigestores na propriedade, em julho de 2005, e desde então passou a contabilizar direito sobre a comercialização dos créditos de carbono.

Hoje, pouco mais de 16 meses depois da implantação dos primeiros biodigestores, os suinocultores comemoram os resultados com a instalação dos sistemas. O médico veterinário da Cooasgo, João Antônio Rodrigues de Almeida, conta que sem essa alternativa os produtores dos municípios teriam que fechar as granjas que estavam ambientalmente inviabilizadas. “Os biodigestores trouxeram a solução para o problema ambiental, além de produzir o biogás que gera energia nas propriedades e da produção de biofertilizante a partir da correta decomposição dos dejetos”, explica João Almeida.

Segundo ele, para os produtores, os créditos de carbono são quase como coadjuvantes desse processo de instalação de biodigestores, que vem beneficiando muito a suinocultura da região. “O valor a ser recebido pelos créditos de carbono e a data de recebimento ainda são incertos, mas isso não preocupa o setor, já que o crédito será como um prêmio extra aos criadores já beneficiados com os mecanismos”, ressaltou.

Biodigestores

Das 23 granjas ligadas a Cooperativa Agrícola de São Gabriel do Oeste, as 14 que possuíam a maior carga poluidora já possuem biodigestores instalados. A parceria firmada entre a Cooasgo e a empresa instaladora – a canadense a AgCert Soluções Ambientais – prevê a instalação de biodigestores em todas as propriedades, o que deve ocorrer em breve. O contrato de parceria entre cooperativa e a empresa tem validade de dez anos e neste período os produtores receberão, a título de arrendamento, 10% dos Certificados de Emissão Reduzidas (CERs) – unidade referente aos créditos de carbono – comercializada na bolsa de valores da Irlanda e procurada principalmente por países grandes poluidores, que se comprometeram em comprar os créditos para incentivar processos de desenvolvimento limpo. Cada CER ou crédito de carbono custa hoje cerca de 8,5 euros, o equivalente a R$ 23,00 no mercado internacional.

Neste modelo implantado em São Gabriel do Oeste, os suinocultores receberão 10% dos valores de cada crédito de carbono comercializado e, a empresa, nos próximos 10 anos, receberá 90% dos créditos. O percentual é assim definido pelo fato de a empresa ter implantado todo o sistema de biodigestores nas granjas sem qualquer custo ao produtor. Em São Gabriel do Oeste, o investimento total até o final da construção dos 70 biodigestores previstos será de R$ 9,6 milhões. A empresa se responsabiliza ainda pela operação e manutenção dos biodigestores instalados nas granjas. A partir do vencimento do prazo de 10 anos, os produtores passarão a ter direito sobre 100% dos créditos de carbono que gerarem e sobre todo o sistema instalado em suas propriedades.

Pagamento em breve

O médico veterinário da Cooasgo, João de Almeida, acredita que os elevados investimentos realizados pela AgCert, que têm beneficiado os produtores sem que estes tivessem qualquer custo, são a garantia de que os biodigestores são um processo altamente viável. Em relação aos créditos de carbono, apesar da falta de informações do setor em relação aos valores e prazos do pagamento, ele acredita que a empresa deve começar a receber pelos créditos em breve, uma vez que o mercado mundial de crédito de carbono é crescente devido à questão ambiental. “O pagamento ainda é incerto, mas isso não traz insegurança aos produtores, que estão tendo só benefícios”, disse.

Em todo Mato Grosso do Sul, 34 propriedades já possuem biodigestores instalados.

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