Mercado

Moeda impõe resultado amargo a usinas de cana

Moeda impõe resultado amargo a usinas de cana

Já com uma percepção de risco elevado, as usinas de cana-de-açúcar do país devem trazer balanços mais “amargos” com a valorização do dólar. As empresas contam basicamente com o chamado hedge natural de receitas de exportação de açúcar e etanol para proteger parte de seu endividamento na moeda estrangeira. Assim, a oscilação da cotação é incorporada na dívida de forma imediata, elevando a alavancagem das empresas.

Reuters_VP-fitch-468A estimativa é que, na média, 40% do endividamento das usinas brasileiras esteja em moeda estrangeira. Mas algumas companhias têm percentuais acima desse patamar, tais como a francesa Tereos, detentora de operações de cana-de-açúcar e amidos no Brasil e na Europa. Ao fim do trimestre encerrado em 31 de dezembro passado, a companhia informava uma dívida bruta de R$ 5,470 bilhões, sendo 49% em dólar, 29% em euro, 23% em reais e 1% em outras moedas. No último trimestre de 2014, a companhia já sentiu os efeitos da variação cambial. Teve uma queda do lucro líquido para R$ 1 milhão, ante os R$ 19 milhões registrados em igual trimestre do exercício anterior. Pesou, além de outros fatores, uma perda cambial líquida de R$ 48 milhões, conforme informado pela companhia.

O analista sênior de açúcar e etanol da Fitch, Cláudio Miori, diz que não há grandes problemas – apesar de o balanço ficar com a cara mais “feia” – quando essas dívidas em moeda estrangeira são tomadas para financiar exportações, pois o próprio fluxo de receita em dólar será usado para pagar a dívida. A grande questão, diz ele, é o tamanho da dívida em dólar versus as exportações e o intervalo de tempo entre o pagamento de uma e o recebimento de outra. “Se as dívidas na moeda americana são desproporcionalmente maiores em relação às receitas na mesma divisa, o risco aumenta”, explica.

O aumento do risco associado a essa indústria tende a espantar o crédito já escasso às empresas do setor, que têm dívidas que superam seu faturamento e atravessam uma crise que começou em 2008.

As que ainda estavam tentando driblar a conjuntura negativa partiram para captações externas, diante da falta de crédito no mercado bancário nacional. Desde 2011, ao menos quatro grupos de médio porte emitiram bônus. Porém, do ano passado para cá, duas delas (Grupo Virgolino de Oliveira e Aralco) deram calote e outra (Tonon Bioenergia) abriu renegociação com os detentores dos bônus por causa da redução de sua liquidez de curto prazo. A dívida emitida por essas três empresas e pela USJ Açúcar e Etanol no exterior soma US$ 1,79 bilhão.

Essa dívida, explica Miori, não está atrelada a operações de exportação, portanto, não conta com o hedge natural decorrente dos embarques ao exterior.

No médio e longo prazos, o câmbio desvalorizado tende a beneficiar os resultados das companhias desse setor, já que exportam 40% de sua produção. Porém, dólar alto significa dívida alta, sem necessariamente gerar receita mais elevada.

Quanto mais forte o dólar, menores as cotações do açúcar na bolsa de Nova York – referência de preços para o mercado mundial. “Os exportadores tendem a vender mais açúcar ao exterior [influenciando nos preços do mercado à vista] e também a fixar preços em Nova York a patamares mais baixos, uma vez que o câmbio compensa”, diz o analista da Fitch.

(Fonte: Valor Econômico)

Banner Revistas Mobile