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Moagem da cana deve ser menor

A safra canavieira 2011/12 se iniciou no Centro-Sul, sob prognósticos pessimistas. Foram processados, neste início de colheita, 56,66 milhões de toneladas, um volume inferior em 39,51% em relação ao verificado no mesmo período na safra anterior. Para a União da Indústria de Cana -de-Açúcar (Unica), entidade que reúne 120 associados, responsáveis por 60% da cana, açúcar e álcool produzidos no país, a queda é reflexo das dificuldades financeiras enfrentadas pelo setor sucroalcooleiro desde 2008, quando a crise econômico internacional cortou uma onda de investimentos na ampliação do setor.

“Vivemos um momento crítico em relação à oferta de cana. A produtividade está em seu nível mais baixo dos últimos a nos”, afirma o diretor-técnico da Unica, Antônio de Pádua Rodrigues. Os canaviais da região ostentam um nível de produção de 75 a 77 toneladas por hectare, quando o potencial é de 85 a 90 toneladas. Segundo a Unica, a moagem de cana, que havia apresentado um crescimento médio de 10% ao ano entre as safras 2000/2001 e 2008/2009, viu o seu ritmo de expansão reduzido para a média de 3,3% ao ano desde 2008, com o processamento da safra 2011/2012 estimado em cerca de 630 milhões de toneladas.

Para Pádua, a diminuição da produtividade pode ser explicada pela ocorrência de um veranico entre abril e agosto do ano passado. Também influiu a curva de aprendizado na colheita mecanizada: muitos produtores acabaram utilizando as colheitadeiras em áreas não apropriadas para o corte mecânico. Mas Pádua destaca que o setor vive os efeitos de um envelhecimento dos canaviais, decorrente da falta de investimentos na renovação – o que reflete a descapitalização do produtor em meio à conjuntura desfavorável do setor. “Mais de 50% da área plantada têm canaviais no quarto, quinto e até sexto corte”, diz.

De acordo com o diretor da Unica, esse quadro influi para o segmento sucroalcooleiro não aproveitar todo o potencial permitido pela crescente venda de veículos flex fuel no Brasil. O processamento atual da cana resulta em uma produção de etanol que não atende a metade da frota nacional de veículos flex. A persistir o quadro atual, o setor sucroalcooleiro moerá na safra 2015/2016 cerca de 778 milhões de toneladas de cana, o que resultará no atendimento de 44% da frota. Seriam necessárias, 975,7 milhões de toneladas de cana moída para atender toda a frota. Para a safra 2020/2021, a cana seria suficiente para abastecer apenas 37% dos veículos flex. Para dobrar a produção de cana e ampliar a capacidade industrial do setor sucroalcooleiro, de forma a atender a esse potencial, serão necessários investimentos entre R$ 170 bilhões a R$ 200 bilhões.

De acordo com Pádua, apesar da alta recente verificada nos preços do etanol, o que levou o governo federal a acenar com diferentes formas de intervenção no mercado, dados produzidos pela Unica indicam que, nos últimos cinco anos, os preços do etanol estiveram, na maior parte do tempo, abaixo da relação histórica de 70% do preço da gasolina C – os preços da gasolina oscilaram em torno de R$ 2,50 o litro, o do etanol se situou próximo de R$ 1,50 o litro. Além disso, os preços de vendas estão abaixo dos custos de produção, o que contribuiu para uma descapitalização do setor, resultando em uma redução sensível no número de novas unidades produtoras. Na safra 2008/2009, iniciaram a produção 30 novas plantas; na 2009/2010, foram 19; na última safra, o número caiu para 10.

“O ritmo de crescimento verificado em 2007 e em 2008 não se repetiu mais”, explica o consultor Júlio Maria Borges, da JOB Economia e Planejamento. “Até o ano passado, os investimentos na lavoura ficaram inibidos pela situação financeira vivida pelo setor”, acrescenta. Borges destaca, contudo, que já neste ano está ocorrendo uma retomada dos investimentos na lavoura, tanto na renovação dos canaviais, como na ampliação da área de plantio.

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