JornalCana

Ministro critica ameaça argentina de sobretaxar açúcar

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, criticou a ameaça argentina de renovar a imposição de barreiras comerciais ao açúcar brasileiro.

Para Rodrigues, diferenças como essas enfraquecem o discurso do Mercosul contra as barreiras agrícolas na União Européia e nos países desenvolvidos que integram as negociações para a criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).

Na tentativa de evitar novas disputas comerciais dentro do bloco, o ministro brasileiro anunciou, ao lado do ministro da Produção da Argentina, Aníbal Fernandez, a criação do Conselho Agropecuário do Sul.

O conselho reunirá os ministros da Agricultura do chamado Mercosul ampliado – Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, mais Chile e Bolívia. A primeira reunião do grupo será na primeira quinzena de abril, em São Paulo.

Discurso único

“Nós temos que tentar ter um discurso único. Só assim vamos estar mais fortes para reclamar contra as barreiras comerciais da União Européia e dos países desenvolvidos que formarão a Alca”, disse Roberto Rodrigues durante entrevista à imprensa brasileira. “O Mercosul deve trabalhar unido.”

O ministro afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou “preocupadíssimo” com a volta da discussão sobre sobretaxas argentinas ao açúcar brasileiro.

O debate foi reaberto na semana passada, quando o Senado argentino derrubou por unanimidade o veto presidencial que acabava com a sobretaxa ao produto brasileiro.

A tarifa extra tornaria o produto brasileiro mais caro e, portanto, menos competitivo no mercado argentino.

Na semana que vem, a Câmara dos Deputados da Argentina deve discutir o mesmo projeto aprovado no Senado.

A expectativa do ministro brasileiro é de que os deputados sigam o voto dos senadores, confirmando a barreira ao açúcar do Brasil.

Argumento argentino

Para Rodrigues, a discussão não é isolada, já que se não houver acordo ficará mais difícil abrir a economia européia e americana aos produtos dos países do Mercosul.

O argumento dos produtores argentinos é o de que o açúcar brasileiro recebe subsídios do governo, deixando a produção local menos competitiva.

Para compensar, o ministro Roberto Rodrigues sugeriu que os argentinos permitam a entrada do açúcar e, em troca, produzam o álcool que poderá ser importado pelo Brasil.

A sugestão não é nova e já foi rejeitada pelos produtores argentinos na época do governo de Fernando Henrique Cardoso.

Trigo e frango

O ministro da Produção da Argentina, Aníbal Fernández, prometeu conversar com os parlamentares e lembrar, por exemplo, que o mercado brasileiro deu mais abertura ao trigo argentino desde a criação do Mercosul, em 1991.

Roberto Rodrigues preferiu não impôr prazos para a conclusão da discussão e, ao contrário do que ocorreu na disputa pela comercialização do frango entre Brasil e Argentina, não pretende recorrer à OMC (Organização Mundial do Comércio).

“Nós vamos esperar a votação na Câmara dos Deputados”, argumentou o ministro brasileiro. “A minha expectativa é de que, ao mesmo tempo, o setor privado tenha uma reunião e possa resolver a questão diretamente, sem precisar da intervenção dos respectivos governos.”

Se a Câmara realmente reiterar a votação realizada no Senado, o açúcar brasileiro fica proibido de entrar no país vizinho e principal sócio do Brasil no Mercosul.

Soja

O ministro Roberto Rodrigues também lembrou que, hoje, Brasil e Argentina juntos representam 40% da produção mundial de soja.

São 84 milhões de toneladas previstas para 2003, superando os 70 milhões de toneladas que os Estados Unidos esperam produzir durante o ano.

Para o ministro, esse fato pode ser utilizado como forma de “pressão” contra as barreiras agrícolas impostas hoje pela União Européia e pelos Estados Unidos.

“Por isso, devemos estar unidos em todas as discussões e não gerando diferenças e crises internas que vão dificultar a nossa conquista de outros mercados”, insistiu Rodrigues.

Subsídios

Entre as barreiras impostas por países europeus e pelo governo americano aos produtos da região destacam-se as restrições sanitárias, as tarifárias e as que impõem cotas de vendas.

De acordo com Roberto Rodrigues, as barreiras tarifárias, por exemplo, afetam principalmente a produção e venda de laranja para o mercado americano.

Na União Européia, entre outros problemas, o Brasil não pode vender o açúcar que produz.

O ministro da Agriculta lembrou ainda que o governo brasileiro entrou com uma ação na OMC contra os subsídios europeus ao açúcar e contra os subsídios americanos ao algodão.

Para Rodrigues, a tendência mundial é liberar a economia, mas é preciso continuar pressionando para que essa abertura não continue “sendo adiada”.

Em sua primeira viagem como ministro da Agricultura à Argentina, Roberto Rodrigues também tentou explicar o programa “Fome Zero” para os empresários locais.

De acordo com o ministro, os produtores argentinos querem aproveitar o programa para tentar aumentar suas exportações de alimentos para o Brasil. (BBC Brasil)

Inscreva-se e receba notificações de novas notícias!

você pode gostar também
Visit Us On FacebookVisit Us On YoutubeVisit Us On LinkedinVisit Us On Instagram