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Milagre das algas: Projeto israelense usa emissão de usina para produzir nutriente e biocombustível

A água esverdeada parece um pouco mais densa por causa das bilhões de algas minúsculas — cada uma medindo dois mícrons (milésimos de centímetro) — expostas em reservatórios a céu aberto. Trata-se de um projeto-piloto israelense de cultivo de microalgas marinhas, que usa dióxido de carbono residual de uma usina elétrica em Ashkelon, no Sul de Israel. Pela primeira vez no mundo, gás de combustão industrial é usado no cultivo de organismos microscópicos ricos em ômega 3, que podem ser usados como ingredientes alimentares e até como fonte para biocombustível.

A mágica acontece quando tubos ligados às chaminés da usina despejam o CO2 que seria emitido para a atmosfera dentro de piscinas repletas de nutrientes e luz solar. Da mistura, são criadas algas microscópicas que se multiplicam em tempo e densidade recordes. O conteúdo dos reservatórios é sugado e separado com ajuda de centrífugas: água para um lado, algas para outro. O resultado é uma pasta ou um pó rico em ômega 3.

—- Com o processo, matamos muitos coelhos com uma só cajadada. Além de reduzir a emissão de CO2 da usina e produzir alimentos ricos em ômega 3, reutilizamos a água do mar usada para esfriar as turbinas, que também seria despejada de volta no oceano — garante Etai Evry, diretor de projetos da Seambiotic, empresa que idealizou e patenteou o processo.

A ideia nasceu em 2003, quando um grupo de empresários se uniu a um respeitado especialista em algas marinhas para desenvolver um projeto até então considerado impossível: usar gases emitidos por usinas elétricas a carvão para cultivar micro-organismos fotossintéticos. Se, em teoria, as algas necessitam apenas de nitrogênio, fósforo, luz do sol e dióxido de carbono para se reproduzir, por que não construir piscinas próximas a essas usinas e usar o CO2 que elas emitem como matéria-prima?

A teoria já havia sido testada, sem sucesso. Mas o grupo garantia ter descoberto a pólvora: só daria certo em usinas elétricas “limpas”, nas quais as chaminés emitem gases com quantidades mínimas do denso e tóxico dióxido de enxofre (SO2), como é o caso da usina de Ashkelon, a mais “limpa” do país.

Em 2007, a “fazenda de microalgas” da Seambiotic, com mil metros quadrados de reservatórios de água na usina elétrica de Ashkelon, saiu do papel. Hoje, ela produz e comercializa farelo com ômega 3 para uso em comidas vegetarianas, plantações de alimentos ricos no óleo graxo, enriquecimento de ovos, leite e outros produtos e manufatura de suplementos alimentares. Deu tão certo que a tecnologia já foi exportada para a China, onde a primeira usina de cultivo de microalgas foi aberta em setembro de 2011.

—- Encaramos o cultivo de algas como se fosse agricultura convencional. Tanto que, dependendo da estação do ano, mudamos o tipo de alga cultivada — conta Etai Evry. — As algas são a base da cadeia alimentar. É delas que os peixes tiram o ômega 3, tão saudável para os seres humanos.

A Seambiotic também garante que as algas minúsculas poderão ser usadas, em breve, como fonte de biocombustível como biodiesel e bioetanol. Através de uma parceria com pesquisadores americanos, a empresa conseguiu desenvolver o primeiro galão de biodiesel e bioetanol produzidos com microalgas marinhas cultivadas com gás de combustão.

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