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Mesmo com custo elevado, alta dos preços assegura margem de lucro da safra 2021/22

Segundo o Pecege, para a safra 2022/23 a tendência é de que os custos continuem subindo e os preços se estabilizem

Uma safra ruim em termos de produtividade, mas não tão ruim em termos de lucratividade. Esse é o resumo do balanço da safra 2021/22 apresentado pelo Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (Pecege) no seminário “Expedição Custos da Cana”, realizado no início do mês de março.

Fatores como falta de chuvas, geadas, incêndios, baixa taxa de reformas e alta do preço dos insumos, deram um tom dramático para aquela que está sendo considerada a “safra das lamentações”, avalia o gestor de projetos do Pecege, João Rosa.

“Saímos de uma safra (2020/21) de 80 toneladas de cana por hectare para 71,55 toneladas de cana.  Queria chamar atenção para um dado o NUCI, que é o nível de utilização da capacidade instalada, ou seja, o quanto nós estamos usando da planta industrial. Na safra passada (20/21) ele estava num patamar de 90% de utilização. Como a safra quebrou, esse número foi para 75%, ou seja, 14% em média das usinas ficaram ociosas. Logo, do ponto de vista agronômico e disponibilidade de matéria-prima, foi uma safra de lamentar”.

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Segundo o Pecege foi uma temporada em que se gastou mais por hectare, e se produziu menos por hectare. “Um dos responsáveis pela elevação dos custos, foi a alta dos preços dos insumos, que subiram em função do câmbio desvalorizado e restrições na logística dos produtos”. Rosa lembra que os insumos só não impactaram mais, porque muitos já estavam com estoques comprados, e que o problema será mais sentido nesta próxima safra, que se inicia.

Também impactaram a alta dos custos, o aumento do preço do diesel, a menor quantidade de cana, reduzindo a diluição dos custos fixos, as geadas que provocaram mudanças no planejamento de colheita e o impacto natural dos preços, os arrendamentos foram pressionados pela competição por grãos, sem contar a questão das mudas e tratos culturais.

Com isso, o custo de produção da tonelada de cana saiu da casa de R$ 100,00 por tonelada do ponto de vista de custo operacional, e foi para a casa de R$ 140,00 por tonelada. Os setores que apresentaram maiores altas foram na questão do arrendamento, seguido pelo corte e transbordo e depois pela formação do canavial.

Segundo Rosa, o processamento industrial também apresentou alta nos custos, com elevação de 75% da mão de obra, 70% de insumos e registra também aumento nos custos de manutenção.

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João Rosa

“Mas se os custos subiram em média 40%, em compensação os preços subiram na casa dos 56%, ou seja, apesar de todas as lamentações foi uma safra maravilhosa na formação de margens”, afirmou João Rosa. Ele citou que, do ponto de vista das usinas, na safra 2021/22 foi mais negócio produzir cana, ao custo médio de R$ 143,00 por tonelada, do que comprar de fornecedores, pagando uma média de R$ 167,00.

De acordo com o analista, essa alta dos preços possibilitou, de forma geral, que os produtores fizessem um colchão na safra passada, ficando mais capitalizados, pois aumentaram a sua margem de lucro. Com relação à bioeletricidade, a energia para quem cogera se mostrou um ótimo negócio.

Segundo João Rosa usando a teoria do copo, para aqueles que olham o copo meio vazio a safra 2021/22 foi catastrófica do ponto de vista climático, com alta do preço de insumos e aumento dos custos de produção, e a competição com grãos, principalmente com a soja. Mas para os que veem o copo meio cheio, se o custo subiu 40% e o preço sobe 60%, foi uma safra maravilhosa.

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“Aumento do preço do ATR em 58%. Subiu os insumos? Sim, mas parte dos insumos usados na 21/22 já haviam sido comprados. Do ponto de vista de margem, foi uma das melhores dos últimos 15 anos. Os produtores tiveram oportunidade de capitalizar bem e devem direcionar esses investimentos nas lavouras, em novas tecnologias a fim de aumentar a produtividade, já que a próxima safra será mais curta, devendo-se tomar um maior cuidado”, ressaltou.

Perspectivas safra 2022/23

 Com relação à safra 2022/23, o economista do Pecege, Haroldo Torres, avalia que a tendência é de que os custos continuem subindo e os preços se estabilizem. “Vamos fazer primeiro um olhar histórico em termos de safra. No que diz respeito à moagem de cana-de-açúcar na região Centro-Sul, nós voltamos dez safras para trás praticamente um nível de moagem em que o setor retrocede praticamente 10 anos, veja que a gente não tem uma curva crescente de moagem”, afirmou,

Haroldo Torres

Haroldo chama a atenção para a crescente queda na produção de etanol. “Quero chamar atenção em relação à pirâmide no caso do etanol. Nas safras 17/18/19 e 20 vínhamos em uma esfera crescente da produção, e quando nós olhamos de 19 e 20 para cá, descemos ladeira abaixo na produção de etanol, principalmente pela valorização dos preços do açúcar no mercado internacional. E agora temos uma redução na produção de etanol e açúcar, que veio sobremaneira em função desta quebra de safra que nós tivemos na região Centro-Sul do Brasil”, constatou.

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Segundo ele, a safra 2022/23 carregará consequências dessa quebra. “Devemos lembrar que estamos com canavial atrasado, praticamente um mês de atraso. Muitas usinas já estariam iniciando a sua safra na segunda quinzena de março, e agora nós vamos ver que esse calendário foi deslocado para segunda quinzena de abril”, disse.

O economista lembra que além do atraso, o canavial apresenta falhas e infestações de ervas daninhas que não estavam sendo esperadas pelos produtores. “Temos que começar a fazer uma oração para o final da safra. A preocupação fica com a primavera. Se for chuvosa e as usinas não conseguirem colher a cana, há o risco de precisar bisar”, acrescenta, referindo-se à prática de deixar para colher a cana apenas na temporada seguinte. “É neste cenário estressado que a gente começa 2022/23, que vem num cenário macroeconômico também estressado”, acrescenta Torres.

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Para o Pecege a expectativa de moagem da safra 2022/23 na região Centro-Sul é de 550.412 milhões de toneladas, uma variação de 5,67% acima em relação à safra anterior. “A safra deve apresentar uma recuperação no que se refere a moagem e quantidade de ATR por tonelada de cana-de-açúcar. O aumento desses fatores, deve sustentar uma maior produção de açúcar e etanol, durante a próxima safra, com o mix de etanol do setor apresentando um avanço marginal em relação ao observado na safra 2021/22”, avalia Torres.

 

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