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Mesmo com boa rentabilidade, trigo não atrai agricultores

Mesmo com rentabilidade líquida 22% maior que a do milho safrinha, o trigo pode não atrair os produtores devido a baixa liquidez na hora da venda. Segundo o estudo divulgado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), o retorno para quem investir no trigo neste ano pode chegar a 40%, enquanto que o milho ficará em 18%.

Segundo a instituição, o trigo valorizou 60%, enquanto o milho, 35%. A pesquisa foi realizada no oeste do Paraná, e os preços médios por saca de 60 kg ficaram em R$ 34,86 para o trigo, e R$ 20,81 para o milho.

Levantamento feito pela Safras & Mercado para a Gazeta Mercantil mostra que após o País chegar próximo da auto-suficiência na safra de 1987/88, quando a produção foi de 6,2 milhões de toneladas para um consumo interno de cerca de 6,6 milhões de toneladas, a safra passou a cair ano após ano.

Élcio Bento, analista da Safras & Mercado explica que a desregulamentação do setor em 1990 e a criação do Mercosul no ano seguinte favoreceram um maior fluxo do produto argentino para o mercado brasileiro, derrubando os preços pagos aos produtores.

Esse cenário se agravou com a criação do Plano Real em 1994 e a valorização da moeda nacional, o que ampliou o poder de compra no exterior. “A partir disso, os preços despencaram com maior acesso às importações, desestimulando o plantio do grão”, disse.

Bento explica que a partir de 1999, com o dólar muito valorizado, a Argentina passou a ser o principal fornecedor por causa da logística favorável e a ausência de tarifa de importação. O setor ainda esboçou uma reação em 2005/06, quando as cotações em alta no mercado internacional e a moeda americana valorizada garantiam uma boa rentabilidade ao agricultor.

Para Lucílio Alves, pesquisador do Cepea, a euforia do ano passado que tomou conta do mercado com a produção de biocombustíveis dos EUA – que passou a produzir etanol de milho – fez com que os produtores escolhessem o milho safrinha como opção de plantio”. E esse foi um dos principais fatores que favoreceram a diminuição dos estoques mundiais, que hoje são os mais baixos desde 1980, diz.

Cerca de 95% da produção nacional de trigo está concentrada no Sul. Com isso, um dos fatores que estimulam a baixa liquidez é logística desfavorável. “Assim, para o Norte e Nordeste, a opção mais viável é importar direto da Argentina devido ao custo do frete”, falou Robson Mafioletti, gerente técnico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar).

Para ele, uma produção entre 3 e 3,5 milhões de toneladas é um número razoável para comercialização . “Acima disso, o produto começa a encalhar.”

Para Mafioletti, os produtores preferem o milho em relação ao trigo por ser um mercado mais consolidado. Para este ano, o Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral) espera uma área de plantio 18% maior que a do ano passado – de 822 mil para 970 mil hectares.

O que responde por 50% da área do Brasil. Já o milho, a área ocupada é recorde com cerca de 1.600 milhão de hectares, 11% a mais que 2007. “Cerca de 90% do milho safrinha já está plantado e percebi que os produtores estão dando prioridade para o milho”, revela Mafioletti.

Bento prevê, porém, que daqui para frente a projeção é de que a área plantada cresça em todo o País. “Os preços estão atraentes influenciados pelos fundamentos de uma oferta e demanda apertada”. Ele enxerga um certo descolamento entre o mercado brasileiro e o argentino em virtude dos constantes problemas da política externa daquele país.

Em março, o Brasil já comprou cerca de 300 mil toneladas dos Estados Unidos com entrega prevista para maio. “Isso reflete uma preocupação com a confusão gerada pela greve argentina. E mostra que as licenças para exportação não devem voltar a ser emitidas no curto prazo”.

Para este ano, a produção nacional esperada é de 3,8 milhões de toneladas de trigo, segundo dados da Conab. (Roberto Tenório)

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