Após uma semana de comemorações depois da vitória na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a política de subsídios da União Européia ao açúcar, o setor sucroalcooleiro começa a avaliar as reais possibilidades de avanço nos mercados externos.
Marcos Jank, presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), disse que o Brasil ainda levará anos para avançar sobre os mercados europeus. “O documento diz que a UE vai acabar com os subsídios, mas não informa quando. Na Europa, circula a informação de que a data será definida para 2015”, afirmou Jank ao Valor.
Segundo ele, o fim dos subsídios pode abrir um mercado em torno de 3 milhões de toneladas, mas o processo será lento e certamente os produtores europeus baixarão os preços para se manter no mercado. “O açúcar que deixará de ser exportado pela UE será disputado por Brasil, Austrália e Tailândia”, diz Luiz Carlos Carvalho, presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Açúcar e do Álcool do Ministério da Agricultura e diretor da usina Alto Alegre.
Júlio Maria Borges, diretor da Job Economia e Planejamento, considera que há potencial para o Brasil ampliar mercado, mas lembra de um inimigo natural: a distância dos principais mercados consumidores. Ele observa que o consumo global crescerá 3% este ano, ou 4 milhões de toneladas, e que os mercados que mais se expandem são Índia (5,3%), China (7%), Indonésia (5%) e Paquistão (9%).
“São mercados que Tailândia e Austrália podem fornecer a preços mais competitivos em função do frete”. Borges disse que o preço médio do açúcar exportado pelo Brasil é de 6 centavos de dólar por libra-peso, ante 10 cents de Tailândia e Austrália, mas que a diferença pode ser anulada pelo frete.
Borges afirma, ainda, que a vitória na OMC fez crescer o interesse dos estrangeiras pelas usinas brasileiras. “Existem empresas dos EUA, Japão, China e Europa avaliando parcerias, mas os negócios podem levar até três anos e meio para se concretizarem”, observa.
Hoje, no Brasil, dois grupos estrangeiros investem no setor – Louis Dreyfus, por meio da Coinbra, e Tereos, com a Cosan e a Guarani. Juntas, elas têm 3% da produção nacional, ou 11 milhões de toneladas/ano. Segundo a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), o setor está recebendo, hoje, US$ 2,5 bilhões de investimentos nacionais e internacionais, em 29 projetos de usinas em São Paulo (21), Minas (4), Paraná (1) e Goiás (3). (CB)