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Visita de bush foi decidida sem consulta ao país

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, estará em São Paulo, no final da próxima semana, para um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com uma agenda sobre a qual o governo brasileiro não tem qualquer controle. Até ontem à noite, o único dado seguro sobre o encontro é que o etanol será o assunto que dominará a pauta.

A visita de Bush ao Brasil foi decidida pela Casa Branca sem consulta prévia ao governo brasileiro, que foi surpreendido com a informação no momento em que o Itamaraty e o Palácio do Planalto planejavam a viagem de Lula a Washington até o final deste mês. Pelo protocolo diplomático, a agenda teria de ser discutida em conjunto e com antecedência.

A área diplomática brasileira trabalha com um esboço de declaração conjunta que ainda será submetida aos americanos. Também há um rascunho de um memorando de entendimentos que trata da parceira entre Brasil e EUA em torno do etanol.

Apesar do otimismo em relação ao álcool, o governo americano já emitiu sinais de que dificilmente a reivindicação do Brasil para que os EUA acabem com as barreiras às importações do etanol brasileiro (US$0,14 por litro de etanol) será atendida a curto prazo. O que se vê, pelo menos por enquanto, são mensagens cifradas dos EUA em relação ao Brasil, sugerindo o que deverá entrar na agenda. Um exemplo disso foi a divulgação, na última quinta-feira, do “Informe sobre a Estratégia de Controle Internacional de Narcotráficos – 2007”, em que são feitas críticas à atuação do Brasil no combate à lavagem de dinheiro e ao terrorismo.

Apesar de tudo demonstrar que os resultados do encontro só serão decididos na última hora, para o governo brasileiro, a vinda de Bush ao Brasil é de grande importância e não deve se resumir apenas ao álcool. Temas como a Rodada de Doha, na Organização Mundial do Comércio (OMC), e a reforma das Nações Unidas deverão entrar na pauta. Também é grande a expectativa de que Lula e Bush conversem sobre a conjuntura política na América do Sul.

EUA quer que Brasil impeça Kirchner de aderir a Chávez

O governo dos EUA toma cuidado para evitar mal-entendidos e a impressão de estar interferindo na política externa do Brasil. Mas, ainda assim, em contatos informais no âmbito diplomático, tenta manifestar ao Itamaraty e ao Planalto que veria com bons olhos um gesto brasileiro ao presidente da Argentina, Néstor Kirchner. Para os EUA, seria conveniente ele não endossar o propósito do venezuelano Hugo Chávez de realizar uma manifestação anti-EUA em Buenos Aires, no sábado.

— A situação será no mínimo constrangedora do ponto de vista político-diplomático — disse ao GLOBO um alto funcionário americano. — Se o Brasil permitir que isso aconteça, aí não vamos entender mais nada.