Mercado

Vinte usinas devem iniciar moagem nesta semana em SP

Queda do preço do etanol não arrefece vontade do governo de criar mecanismopara reter embarque. Historicamente, no mês de março, todos os trabalhadores em usinas de açúcar e álcool do interior de São Paulo ainda estão em férias coletivas, à espera do início da colheita da safra de cana-de-açúcar. Neste ano, em razão da oferta restrita do combustível, muitas delas anteciparam para este mês a moagem. Estima-se que até a próxima semana 20 usinas estarão em operação, produzindo 50 milhões de litros de álcool em março. Até o início de maio, elas terão capacidade de produzir de 800 milhões a 900 milhões de litros de etanol, corrigindo o déficit de oferta agora vigente.

Na semana passada, duas usinas do Grupo José Pessoa entraram em operação no interior de São Paulo. Maurílio Biagi Filho, da Usina Moema (SP), prepara as máquinas para entrar em operação nesta quarta-feira, 22 de março. “Acho que até o início de maio a produção de álcool estará normalizada, com algo entre 800 milhões e 900 milhões de litros”.

Não há o risco das usinas se sentirem tentadas a produzir açúcar neste início de safra, visto que a cana, colhida antes de alcançar seu ápice agronômico, produz apenas metade do açúcar que poderia produzir se tivesse sido colhida em agosto.No Paraná, quase todas as usinas já estão moendo a cana. Em Goiás e em Minas, as primeiras usinas iniciaram o processamento na semana passada.

Distribuidores e postos de gasolina estavam aguardando com ansiedade o início da moagem em São Paulo, e seguraram as compras, provocando queda dos preços. Após oito semanas consecutivas de alta, os preços do álcool hidratado nas usinas tiveram modesta queda de 1% na semana passada.

Na semana passada, o álcool hidratado foi negociado a R$ 1,228 o litro, segundo pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), órgão ligado à Universidade de São Paulo. No período anterior, a cotação era de R$ 1,241 o litro. “Aparentemente, postos e distribuidores compraram volume menor de álcool porque estão esperando o início da moagem da safra de cana”, disse a pesquisadora Mirian Bacchi, pesquisadora do Cepea/USP.

Mirian não soube quantificar a queda da demanda na semana passada e não informou o volume vendido de álcool em razão de sigilo de dados imposto pelas indústrias e entidades que colaboram para a pesquisa do centro. “Só posso dizer que a venda foi bem inferior à média para o período”, disse.

A sinalização de preços menores não deve arrefecer os planos do governo de ter maior ingerência na oferta do combustível. Técnicos do Ministério da Agricultura, da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e usineiros discutem formas de estocagem e de conter as exportações de etanol para assegurar a oferta interna. Um rascunho está sendo escrito por técnicos da ANP e pode ser apresentado nos próximos dias à Agricultura.