A fila de uma hora para adquirir produtos da cesta básica é um sacrifício que cada dia mais venezuelanos estão dispostos a fazer para impedir que boa parte do salário seja empregado na compra de alimentos, cujos preços subiram quase 50% nos últimos doze meses.
“Prefiro fazer fila a ir ao supermercado. Antes gastava 250 bolívares (US$ 116) mensalmente e no momento bastam 100 bolívares (US$ 40) para isso”, disse Fátima Taveras, jovem dona de casa de Caracas, que, havia cinqüenta minutos, esperava sua vez para adquirir produtos de primeira necessidade a preços subsidiados pelo governo.
Casada com um operário de construção que ganha um salário mínimo de US$ 372 mensais, Fátima, mãe de dois filhos, comparece a todos os mercados a céu aberto que a cada quinze dias o governo organiza em sua comunidade, a poucos metros do palácio presidencial de Miraflores.
Frangos, margarina, mortadela, maionese e azeite do Brasil, leite da Argentina, feijão preto da Nicarágua, arroz, queijos e ovos de produção nacional a preços rebaixados em até a terça parte do preço fixo regulamentado pelo governo, são vendidos nesses mercados populares. Germán Ruiz, empregado de uma pequena oficina de artes gráficas, confessou que era “a primeira vez que comprava no Mercal”, nome da rede governamental de mercados populares.
“Gasto quase 70% de meu salário em comida, portanto decidi testar o quanto posso economizar aqui”, revelou Ruiz, que com US$ 1,395 mensais mantém uma família de seis pessoas.
Embora em maio o governo tenha ajustado o salário mínimo em 30%, os custos com os alimentos básicos acumularam já 49,9% de inflação no último ano. Isso fez com que um número cada vez maior de habitantes dos bairros mais abastados compareçam a esses mercados do governo, em especial quando nos supermercados comuns falta leite, açúcar ou ovos.
No primeiro semestre o país importou mais de US$ 4 bilhões em alimentos, cifra duas vezes maior que a do mesmo período em 2007, segundo a Comisión de Administración de Divisas (Cadivi).
(Gazeta Mercantil/Caderno A – Pág. 18)(AFP)