O grande desafio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Tóquio, nesta quinta e sexta-feiras, será convencer investidores, empresários e o governo japonês que o Brasil poderá se converter, com seriedade, em fornecedor de álcool anidro para misturar à gasolina. O problema é que a equipe de governo não está segura da capacidade do setor sucroalcooleiro nacional de atender à demanda japonesa, sem riscos de interrupção dos embarques ou de elevação abrupta de preços, como já se observou no próprio País.
De um lado, os usineiros asseguram que haverá álcool suficiente para a demanda japonesa, estimada em 1,8 bilhão de litros ao ano. De outro, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, advertiu que há preocupações com o abastecimento e a preservação de uma relação competitiva entre os preços do álcool e o da gasolina. O tema, de qualquer forma, será um dos principais pontos das conversas entre Lula e o primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, conforme relatou o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.
Lula reconhece que há divergências no assunto entre os ministros Furlan e Rodrigues. Em encontro com usineiros, há pouco mais de um mês, Furlan teria cobrado dos produtores garantias de que não faltará álcool para os japoneses, mercado considerado estratégico, já que a decisão do Japão de adotar o álcool deverá balizar a de outros países da região.
Os próprios japoneses cobraram garantias quando estiveram no País, em setembro. Koizumi visitou uma usina de álcool no interior paulista e ficou impressionado. Daí a preocupação de Furlan em ter garantias concretas. O consultor da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Alfred Szwart, garante: Podemos fechar contratos por períodos de até 10 anos com o Japão, para que as duas partes se sintam mais seguras. Lula deverá apresentar uma proposta-modelo aos japoneses, para contornar o problema brasileiro e garantir contratos com o Japão. Terá, para isso, a ajuda de Rodrigues e Furlan, mas os ministros não esperam que o contrato seja assinado agora.
Furlan explicou que a proposta consiste na definição de módulos de 60 mil hectares para a produção canavieira, especialmente em áreas irrigadas do Nordeste, cujas safras seriam destinadas a usinas de álcool. Cada módulo garantiria, no longo prazo, 480 mil litros de álcool ao ano exclusivamente ao Japão. Isso, porém, exige investimentos de US$ 150 milhões, financiados ou não em ienes.
Para Rodrigues, a negociação tem peso especial, pois o Japão lidera os países asiáticos na direção do mercado de etanol. Em agosto, o governo japonês autorizou a mistura opcional de 3% de álcool à gasolina – o que significa a importação potencial de 1,8 bilhão de litros ao ano – e avalia a possibilidade de torná-la obrigatória.
MEIRELLES
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, viaja hoje para o Japão, para se unir à comitiva presidencial. Anteontem, circularam informações que Meirelles cancelara a participação na viagem. De acordo com o BC, Meirelles ficou no Brasil para atender a compromissos como a elaboração da ata do Copom, que será divulgado na sexta-feira. Colaborou: Denise Chrispim Marin