Mercado

Vendas e dólar favorecem empresas de fertilizantes

Demanda em alta e câmbio estável. Para as empresas de fertilizantes que atuam no país, esse era um casamento esperado há pelo menos três anos, período em que um dos nubentes até que colaborou – o consumo cresce progressivamente no país desde 1999 -, mas o outro – a relação entre o real e o dólar – deu trabalho, principalmente em função de bruscas oscilações e imprevisibilidades.

Em 2003, pelo menos até agora, o casório está de pé, e se a conjuntura permanecer como está, as comemorações de fim de ano prometem ser animadas nas empresas do setor. “O que nos foi desfavorável no segundo semestre do ano passado nos ajudou entre os meses de janeiro e junho deste ano, e a expectativa para o segundo semestre é positiva”, resume Wladimir Antonio Puggina, presidente da Fertibrás, uma das maiores misturadoras de adubos que operam no país.

Conforme a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), a demanda brasileira alcançou 9,847 milhões de toneladas nos primeiros sete meses de 2003, 6,1% mais que em igual intervalo de 2002. A produção nacional cresceu 1,2% na mesma comparação e alcançou 4,7 milhões de toneladas, ao passo que as importações saltaram 29,5%, para 7,153 milhões de toneladas (ver quadro acima). E, conforme Carlos Alberto Pereira da Silva, diretor-executivo da Anda, a expectativa é de alta de 7% no acumulado do ano.

Se os benefícios proporcionados pelo aumento do consumo são óbvios, no caso do câmbio o impacto da maior estabilidade é vistos em duas pontas: na programação de vendas, uma vez que o Brasil depende de importações e, por isso, os preços são balizados em dólar, e nos custos financeiros das companhias do setor.

“Durante a bagunça cambial de 2002, por exemplo, as empresas tiveram dificuldades em operar, porque ninguém conseguia antecipar com precisão os rumos da cotação do dólar. No fim do terceiro trimestre, por exemplo, tivemos um pico cambial de R$ 3,89 que derrubou o balanço das misturadoras no período, problema revertido parcialmente com a recuperação do real no fim do ano. Com isso, tivemos uma demanda recorde no mercado doméstico no ano que foi saudada pelas produtoras de matérias-primas, mas que as misturadoras quase não tiveram ânimo para comemorar”, diz uma fonte ligada a uma misturadora.

Fosfertil/Ultrafertil e Copebras dominam a produção de matérias-primas, enquanto Bunge Fertilizantes, Cargill Fertilizantes, Adubos Trevo e Fertibrás são líderes na mistura. Bunge, Cargill e Fertibrás dividem a maior parte das ações da Fertifos, holding que, por sua vez, detém o controle do grupo Fosfertil/Ultrafertil. Como os preços praticados no setor são “dolarizados”, as produtoras de matérias-primas sofrem menos que as misturadoras com as oscilações cambiais, até porque nas vendas distribuidores de insumos e produtores agrícolas a concorrência é maior e os repasses, por isso, mais difíceis. Mas esses reajustes acontecem. Termômetro disso é que de janeiro a julho, segundo a Anda, o valor da demanda nacional cresceu 21,8% – para US$ 2,01 bilhões -, enquanto o volume subiu 6,1%.

Independentemente disso, todas as empresas do setor que publicaram balanços do primeiro semestre tiveram resultados melhores. Na Fosfertil/Ultrafertil, o lucro líquido cresceu 246,4%, para R$ 164,9 milhões; na Bunge Fertilizantes, a alta foi de 192,2%, para R$ 187 milhões, enquanto a Trevo lucrou R$ 33,497 milhões (ante prejuízo de R$ 2,381 milhões em 2002) e o ganho da Fertibrás foi a R$ 34,852 milhões (contra perda de R$ 21,018 milhões).

“Nosso endividamento, por exemplo, é corrigido em dólar. Com o atual cenário cambial, e com demanda em alta, as perspectivas são mesmo melhores”, diz Luiz Antonio Bonagura, diretor de administração, finanças e relações com o mercado da Fosfertil.

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