Abastecer o crescente mercado de etanol, impulsionado pelo aumento nas vendas de carros flex, é o principal desafio da indústria sucroalcooleira do Brasil com o fim da crise econômica mundial, que prejudicou as exportações do setor. A julgar pela atual demanda interna, 2010 promete ser um bom ano para investir em modernização e para ampliar a participação da indústria nordestina no mercado nacional. Até o mês de fevereiro, as vendas acumuladas de veículos flex atingiram a marca de 10 milhões no Brasil. O Sindicato da Indústria de Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE) estima que a produção de carros flex nesse mês chegou a 382 mil, ante 28 mil movidos a gasolina e 18 mil a diesel. “Enquanto em janeiro tivemos um percentual de 76,8% de produção de flex, em fevereiro o índice foi de 89,1%. O consumidor exerce a opção pelo tipo de combustível que tem o melhor custo-benefício, além de permitir o uso de um produto limpo, ou seja, ambientalmente correto”, ressalta o presidente do Sindaçúcar-PE, Renato Cunha.
“O Brasil é o maior produtor de etanol. Quase 25% da produção mundial é brasileira”, calcula Renato Cunha, enfatizando as vantagens ambientais do produto. “Há um início de quebra de paradigma na questão do custo-benefício. O consumidor começa a levar em conta também o impacto ambiental do uso do etanol”, acredita. Diante dessa conjuntura, a produção pernambucana tem passado por mudanças.
“Em Pernambuco, temos uma indústria de base consolidada, de modo que uma série de medidas estão sendo adotadas para uma atuação mais consistente, procurando evoluir e evitan! do perdas no processo industrial”, completa o representante do Sindaçúcar. Segundo o Ministério da Agricultura, até o dia 1º de março deste ano, a produção de etanol no Norte e Nordeste ultrapassou 1,8 milhão de metros cúbicos. A safra 2008-2009 girou em torno de 2,4 milhões, dentro de uma escala de produção que tem se mostrado crescente desde 2005-2006, quando foram produzidos 1,5 milhão de metros cúbicos.
O presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), Jorge Côrte Real, se diz entusiasmado com os investimentos realizados. “Estamos conscientes da responsabilidade da indústria sucroenergética de suprir uma demanda de quase 90% dos veículos leves produzidos no Brasil. Por isso, o setor tem investido no melhoramento energético da cana, na compra de equipamentos e de implementos agrícolas”, avalia Côrte Real.
No entanto, o doutor em economia Ricardo Chaves, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), alerta para uma possível perda de espaço da produção nordestina para o Centro-Sul. “Por mais investimento que se faça, Pernambuco e o Nordeste como um todo não têm condições de ocupar um espaço maior no mercado porque grande parte dos investimentos são direcionados para Estados como São Paulo e Mato Grosso, onde a produtividade é maior e o retorno mais garantido”, explica.
Dados do Ministério da Agricultura corroboram a preocupação do professor da UFPE. Enquanto a produção de etanol nordestina não ultrapassou os 2 milhões de metros cúbicos este ano, o Centro-Sul produziu, até o dia 1º de março, mais de 23,5 milhões de m³. Na última safra, do total de 27,6 milhões de m³ de etanol produzidos pelo País, 25,2 são provenientes de lá. Segundo Chaves, as condições geográficas contribuem para essa disparidade. “As terras de lá são planas, o que facilita a mecanização, e também são mais férteis. Aqui, são mais acidentadas”, pontua.
Côrte Real reconhece o que chama de “concorrência feroz do Centro-Oeste”. “Dentro de nossas limitações e da crise sofrida pelo setor, nossa produção vem acompanhando a demanda crescente do mercado”, comenta. Para Chaves, manter a participação atual de menos de 20% já vai ser uma vitória para a indústria do Nordeste. “Se conseguir manter a fatia de mercado que temos hoje já é uma boa perspectiva”, conclui.