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Veículos elétricos no Brasil? A solução está no nosso quintal

Veículos elétricos: Prefeitura de Ribeirão estuda contrair empréstimo para eletrificar 20% da frota de ônibus

Nos últimos dias, chamou atenção a notícia de que a Prefeitura de Ribeirão Preto estuda contrair um empréstimo milionário para eletrificar cerca de 20% da frota de ônibus urbanos. Embora a pauta da mobilidade limpa seja urgente e necessária, precisamos discutir com seriedade qual é o melhor caminho para o Brasil — e para Ribeirão Preto — nessa transição energética.

Por isso, aproveito esse momento para refletir sobre esse assunto e colocar meu ponto de vista de maneira clara, no intuito de contribuir para a análise que está sendo feita pela Prefeitura de Ribeirão e por muitas outras espalhadas no país.

Antes de embarcar na onda dos ônibus elétricos a qualquer custo, é fundamental olhar para a vocação do nosso país e as alternativas que já temos à disposição — muitas delas mais sustentáveis, viáveis e alinhadas com a realidade brasileira.

Em vez de importarmos uma solução padronizada, deveríamos investir no que produzimos com excelência: combustíveis renováveis, como o etanol e o biometano.

O Brasil é um dos únicos países do mundo com uma matriz de transporte amplamente abastecida por energia limpa, graças ao etanol da cana-de-açúcar, milho, cereais etc.

E em regiões como Ribeirão Preto, essa vocação é ainda mais evidente. Somos o coração do agronegócio e da bioenergia. Estamos vendo surgir, aqui mesmo, uma nova fronteira verde: o biometano.

Derivado da digestão de resíduos orgânicos da agroindústria, esse combustível tem potencial para abastecer ônibus, caminhões e veículos leves com emissão quase nula de carbono — e com geração de empregos e renda. Vimos na última Agrishow como isso está crescendo, inclusive nas máquinas agrícolas.

Alternativas aos ônibus elétricos

Trocar isso por baterias importadas, altamente dependentes de metais raros e cadeias produtivas distantes, e carregadas muitas vezes com uma energia que não é limpa, é ignorar o que temos de mais valioso: autonomia energética, know-how industrial e uma cadeia consolidada de produção de biocombustíveis, já que a região metropolitana de Ribeirão Preto é o berço dessa fonte de energia renovável e um exemplo para o mundo, com um potencial de crescimento enorme.

É trocar o certo pelo incerto, o local pelo global, o sustentável pelo aparentemente “moderno”, e ainda, o de menor custo para o mais caro.

Digo isso porque o custo de aquisição e manutenção de frotas elétricas ainda é altíssimo. As baterias têm vida útil limitada, demandam infraestrutura de recarga específica e trazem dúvidas quanto à destinação correta no fim de sua vida útil.

Um empréstimo milionário, que compromete parte do orçamento público municipal, deveria ser avaliado com bastante critério, especialmente quando existem alternativas mais econômicas, sustentáveis e viáveis no curto prazo. Além do que, a frota em Ribeirão foi trocada há pouco tempo.

Não sou contra a inovação. Pelo contrário: defendo que o Brasil seja líder mundial na transição energética. Mas essa liderança virá do que sabemos fazer bem — da cana, do sol, da biomassa, do biodiesel, do biogás. Ribeirão Preto não precisa importar soluções: nós somos a solução.

Biometano como alternativa viável

Apostar em ônibus movidos a biometano, por exemplo, é uma alternativa limpa, de baixo custo operacional e com impacto direto na economia local. Já existem experiências bem-sucedidas no Brasil e no exterior que mostram como essa escolha pode ser inteligente, ambientalmente correta e economicamente viável.

Sem contar que é possível aproveitar toda a estrutura da rede de abastecimento já existente e para os elétricos é tudo importado.

Por isso, antes de endividar o município com uma frota elétrica que pode não se sustentar no médio prazo e é a mais cara, proponho que a Prefeitura abra diálogo com o setor produtivo, com universidades, centros de pesquisa e com a sociedade. Estamos prontos para contribuir com soluções locais para um futuro global.

Aliás já fizemos isso no passado.

 Na década de 1980, a meu pedido e do conselheiro da Zanini, também presidente da Volkswagen à época, Wolfgang Franz Sauer, a Volkswagen doou um ônibus movido a etanol para a Prefeitura de Ribeirão Preto no intuito de mostrar a viabilidade desse combustível renovável. Há uns dois anos, a Scania também fez demonstração aqui de ônibus movido a biocombustível.

Porque o Brasil — e Ribeirão Preto — têm tudo para liderar a mobilidade limpa. Mas com os pés no chão e os olhos voltados para o que brota da nossa própria terra.