O estado da Califórnia deve aprovar entre amanhã e sexta-feira uma importante resolução ambiental, que tem como objetivo traçar diretrizes para o consumo de combustíveis limpos dentro do seu território. A discussão é acompanhada com interesse e apreensão pela indústria brasileira do etanol, produzido a partir da cana-de-açúcar.
O motivo da preocupação é que, no exato momento em que a Califórnia (governada pelo ex-ator de Hollywood Arnold Schwarzenegger) se prepara para adicionar biocombustível à gasolina, uma pesquisa desenvolvida pelo governo do mesmo estado americano aponta que os índices de emissão de carbono do etanol da cana-de-açúcar seriam superiores aos revelados por estudos brasileiros. O documento dos EUA considera os efeitos ambientais indiretos do combustível – ou sej! a, além das emissões de carbono observadas no ciclo produtivo, são destacadas as pressões de culturas e pastagens sobre áreas da Amazônia, o que no balanço global energético teria um impacto negativo para o sequestro de carbono.
A resolução deve estabelecer as bases para implementação da lei ambiental aprovada em 2007 pelo governo de Schwarzenegger. A norma estabelece como objetivo para os próximos 10 anos a redução em 10% das emissões de carbono dos combustíveis usados pelos automóveis. A regulamentação da lei vai dizer de que modo o alvo será atingido. Representantes da indústria brasileira do etanol participam do debate que acontece de amanhã até sexta-feira, na Agência de Proteção Ambiental da Califórnia, na cidade de Sacramento.
Apesar de recente pesquisa da brasileira Emprapa apontar para o fato de o etanol ser menos poluente que a gasolina, o estudo em discussão no Conselho de Qualidade do Ar da Califórnia é preocupante. Os cálculos indiretos, segundo fontes do ! setor, utilizam bases imprecisas. Para estimar quais seriam os futuros impactos do avanço da cultura da cana-de-açúcar nas emissões de carbono, os americanos usam um modelo econômico – e não um científico-ambiental, como seria correto.
Já para o cálculo do desmatamento ocorrido no passado, os agentes da Califórnia estariam se valendo de imagens de satélite bastante antigas. Neste sentido, os cálculos de emissão de carbono da cana podem se tornar significativamente mais elevados, o que poderia dificultar a comercialização do combustível brasileiro, não somente na Califórnia, mas em outros estados dos EUA e também na Europa e Japão. No fundo, o que está em jogo é o lobby dos produtores americanos de etanol, que usam o milho e não querem ver o mercado invadido pelo combustível brasileiro.
FORÇA-TAREFA Um especialista que tem participado das discussões e prefere não se identificar garante que o estudo da Califórnia não tem base científica. “Então, trabalhamos com institut! os e universidades para produzir um documento mostrando que os cálculos americanos não estão corretos. Existe também empenho para que a fórmula indireta, que não é matemática, seja retirada da pesquisa”, diz.
Há 45 dias, representantes da indústria brasileira de biocombustíveis estiveram concentrados em uma espécie de força-tarefa para apresentar à Agência Ambiental da Califórnia estudos que questionam os cálculos feitos pelo estado. A intenção é comprovar que as emissões de carbono do combustível são decrescentes e bem menores do que o sugerido pelo estado americano. A Califórnia assumiu em seus cálculos, por exemplo, que o processo de queimadas no ciclo produtivo tem um peso considerado nas emissões. O Brasil destaca que o método já não é adotado nas grandes lavouras. A guerra para reduzir gramas de carbono é considerada essencial, já que a decisão da Califórnia certamente terá efeito em cadeia. No ano passado, o estado consumiu cerca de 60 bilhões de litros de gasolina.! O mercado é considerado chave para a meta de decolar as exportações brasileiras.