O uso do etanol na frota de ônibus em Belo Horizonte ainda é um “sonho”. A tecnologia vem sendo aplicada há alguns anos em várias cidades ao redor do mundo, e está em fase de testes em São Paulo. Na capital paulista, já há dois protótipos circulando, e os resultados são surpreendentes: redução em até 90% da emissão de material particulado na atmosfera (fumaça preta), na comparação com coletivos movidos a diesel, diminuição de 80% da emissão de gases responsáveis pelo aquecimento global e de 62% da emissão de óxidos de nitrogênio, além de não liberar enxofre, o causador da chuva ácida.
Por aqui, no entanto, o cenário a curto e médio prazos não indica nenhum avanço. O prazo para concessão do serviço público, renovável a cada 10 anos, termina em 2018, e não há nenhuma exigência no contrato para a mudança de tecnologia. De acordo com a BHTrans, a mudança prevista até o término da concessão é a inclusão de veículos de maior capacidade para operar o novo sistema de transporte, o Bus Rapid Transit (BRT).
O modelo será implantado até 2014 nos principais corredores da cidade. “Todos nós temos interesse em avançar nesse tipo de tecnologia (uso do etanol), sobretudo no transporte público. Mas, até o momento, não temos nenhuma ação nesse sentido”, reconheceu a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. A prefeitura atua somente no monitoramento da emissão de gás carbônico (CO2) que sai nos canos de descarga dos veículos.
“Estamos muito atrasados nessa discussão. Está na hora de o poder público começar a discutir isso de maneira mais efetiva”, disse o presidente do Sindicato da Indústria do Álcool em Minas Gerais (Siamig), Luiz Custódio Cotta Martins. Em julho do ano passado, a entidade encaminhou carta ao órgão responsável pelo meio ambiente de Belo Horizonte, mas afirma que até hoje não obteve retorno. Martins promete abordar o tema durante debate a ser realizado pelo sindicato com os candidatos ao governo de Minas Gerais.
No campo nacional, Marina Silva foi a única presidenciável a defender o uso do etanol no transporte público como forma de reduzir a poluição. São Paulo saiu na frente: um decreto municipal prevê que até 2018 a frota da cidade seja movida a combustível renovável. A prefeitura estuda adquirir 200 ônibus movidos a álcool até 2011.
Rio de Janeiro e Curitiba na fila
A União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica) recebeu consultas do Rio de Janeiro e Curitiba no sentido de desenvolver uma possível troca de frota de ônibus a diesel pelo etanol. “É um produto que poderia operar em qualquer cidade brasileira”, disse o consultor de emissões e tecnologia da entidade, Alfred Szwarc.
A prefeitura de São Paulo está disposta a adquirir 200 unidades do modelo K270, fabricado na Europa e montado na fábrica da Scania no interior de São Paulo. “Seria uma operação comercial como outra qualquer”, disse. (ZM)
Projeto Best
Em Estocolmo, 600 já circulam com álcool
7[NORMAL_A]São”São Paulo é uma das oito cidades no mundo a integrar o projeto Bioethanol for Sustainable Transport (Best, ou Etanol para o Transporte Sustentável). A pioneira é Estocolmo, na Suécia, sede da Scania, única fabricante que detém a tecnologia para ser usada em larga escala. Seiscentos ônibus da frota da capital do país nórdico já usam álcool hidratado – boa parte dele importado do Brasil.
O Conselho do Condado de Estocolmo, dono da empresa de transportes, estabeleceu uma meta: até 2012, pelo menos 50% de todo o transporte na cidade deve usar combustíveis renováveis. No final de 2009, esse número já representava 30%. A cidade receberá, no próximo mês, mais 85 ônibus verdes.
O coordenador do projeto Best no Brasil, professor José Roberto Moreira, do Centro Nacional de Referência em Biomassa, afirma que para o projeto ser levado a outras cidades brasileiras é necessária a atração de parceiros. Em São Paulo, são dez instituições. “A União Europeia cobre apenas 25% dos custos”, disse, ou US$ 1,6 milhão.
A tecnologia para substituição do motor a diesel pelo movido a etanol existe há pelo menos 15 anos. Segundo o especialista, três fatores freiam o avanço: o desinteresse das grandes fabricantes de ônibus, a barreira econômica (já que para cada litro de diesel é necessário 1.7 litro de etanol) e a inexistência de um motor flex. “Os ganhos ambientais e na saúde pública, no entanto, compensam”, disse. (ZM)