Cerca de 20% dos produtores não aceitam a antecipação do prazo final da queima dos canaviais. O governador de São Paulo, José Serra, e o secretário de Meio Ambiente, Francisco Graziano, estão apressados para lançar o chamado protocolo institucional de conduta ambiental para o setor de açúcar e álcool, mas enfrentam a resistência de uma parcela significativa de usineiros. As informações são de que pelo menos 20% não aprovam a idéia, por representar custos adicionais e, em alguns casos, de não haver condições físicas para o seu cumprimento, como a falta de colheitadeiras no mercado.
A intenção do governo é antecipar para 2012 o prazo final para a queima dos canaviais, hoje estipulado por lei para 2021 – em áreas com declividade de até 12% – e 2031 – em áreas com declividade acima de 12%. Além disso, o governo pretende, por meio da adesão de usinas e de fornecedores de cana ao protocolo, que se demarquem e se recuperem 425 mil hectares da matas ciliares existentes só em propriedades canavieiras paulistas.
“A lei das queimadas é medieval. É pré-aquecimento global e também foi feita antes do boom do setor”, justifica Graziano. “Se usineiros e produtores de cana não forem ambientalmente adequados, a Europa pára de comprar açúcar e álcool do Brasil”, adverte.
O secretário quer ainda que as novas áreas plantadas com cana tenham colheita mecanizada desde o primeiro corte. “Queremos também aumentar a área impedida de queima, para além dos atuais 11 quilômetros de distância das áreas urbanas”, diz.
Quanto à recuperação de matas ciliares e de áreas de nascentes de água, Graziano é ainda mais severo: “Vou exigir que demarquem as áreas e que notifiquem a evolução da recuperação”. Hoje, 12% da área de São Paulo é recoberta por matas. Por lei, deveriam ser 20%.
Graziano conversou recentemente sobre o protocolo com representantes da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) e de fornecedores de cana. A assessoria de comunicação da Unica informou que a entidade está em discussão direta com a secretaria e que, por isto, prefere não comentar o assunto por enquanto.
Manoel Ortolan, presidente da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste Paulista (Canaoeste), com sede em Sertãozinho, concorda com a idéia, mas avisa que a conta poderá sair cara para os fornecedores. “Para recompor as matas ciliares, é preciso investir R$ 5 mil por hectare”, contabiliza. No estado todo, seriam R$ 2,1 bilhões só para as áreas canavieiras.
“Para a agroindústria é mais fácil realizar os investimentos. Mas, para os produtores de cana, principalmente os pequenos, é mais complicado”, diz Ortolan. “Precisamos buscar recursos para viabilizar esses investimentos sem que isto signifique ônus para o produtor”, acrescenta. A Canoeste, segundo Ortolan, tem 2,3 mil filiados, sendo que 80% deles são pequenos, com produção de até 4 mil toneladas de cana por safra, ou menos de 50 hectares.
“Acho que o secretário Graziano está de parabéns. A idéia é boa e factível, mas é preciso de diálogo para que seja implantada”, afirma o usineiro Maurílio Biagi Filho, presidente da Usina Moema, de Orindiúva.
“Acho a idéia fantástica”, diz Ricardo José de Abreu Costa, gerente de manutenção da Usina Açucareira Guaíra, situada no município paulista homônimo. “Quando reduzimos as queimadas, protegemos o solo, a fauna e a flora. E, ao repormos as matas ciliares e preservarmos as nascentes, cuidamos da água, o que é importantíssimo”, afirma Costa.
Assim como várias usinas paulistas, a Guaíra, está numa posição confortável quando o tema é meio ambiente. Acabou de adquirir cinco colheitadeiras de cana John Deere de última geração e, nesta safra, realizará 100% da colheita de cana crua e mecanizada.
No total, a Usina Guaíra vai operar nesta safra com quatro frentes de corte mecanizado, com um total de 19 colheitadeiras, 82 veículos de transbordo, 40 tratores e 40 treminhões. Serão colhidas 2,4 milhões de toneladas de uma área de 24,5 mil hectares.
Pelas contas de Costa, o investimento médio da Usina Guaíra na mecanização do corte da cana – incluindo colheitadeiras (R$ 1 milhão cada), veículos de transbordo (R$ 70 mil cada), tratores ( R$ 200 mil cada) e caminhões (R$ 200 mil cada) – totaliza R$ 42 milhões, ou seja, o equivalente a R$ 1,7 mil por hectare.