Mercado

Usineiros concordam em reduzir álcool para R$ 1,05

Os usineiros concordam em reduzir o preço do álcool anidro –aquele que é misturado à gasolina– para R$ 1,05 na destilaria. O preço praticado hoje está em torno de R$ 1,08 e R$ 1,09. O acordo foi acertado em reunião realizada na tarde de hoje no Ministério da Agricultura.

Apesar de o valor aceito pelos produtores de álcool como teto para o preço do produto ter ficado acima do que pretendia o governo, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, considerou o acordo uma “decisão importante” e de “valor histórico”.

Segundo o ministro, o grande mérito do acordo acertado hoje é a previsibilidade, diante da expectativa atual de pressão pelo aumento de preços.

“As decisões que o ministro acaba de anunciar não foram fáceis, e representam um sacrifício importante para nós [usineiros]. Mas, por outro lado, nós reconhecemos a necessidade fundamental de procurarmos segurar pressões adicionais de preços que poderiam vir a criar problemas importantes para os consumidores, para o governo e para nós”, disse o presidente da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo), Eduardo Pereira de Carvalho.

O governo queria o compromisso dos usineiros de redução do preço do álcool para R$ 1, mesmo valor acertado em fevereiro de 2003. Rodrigues disse, porém, que se esse valor fosse corrigido pela inflação do período, que supera 20%, o preço máximo do produto seria muito mais alto.

“O acordo possível foi esse. O que o consumidor pode saber é que não haverá pressões adicionais de preços”, disse o representante dos usineiros, ao comentar que sem o acordo de hoje os preços poderiam chegar a R$ 1,20 ou R$1,30, o que ninguém poderia prever ao certo.

“Nós delimitamos o eventual efeito que a situação estatística [de pressão por causa da entressafra] poderia produzir. Ninguém sabe qual seria o preço amanhã na ausência desse acordo. Com esse acordo nós sabemos qual é o limite de preços”, completou o usineiro.

Estocagem

Diferente do que se previa, o governo não ofereceu nada em troca da redução do preço, ao menos por enquanto. O Ministério da Agricultura defendia a liberação de recursos da ordem de R$ 1 bilhão para financiar a estocagem de álcool, proposta que não contava com o apoio da Fazenda, mas segundo Carvalho, não houve “barganha”.

Como diz respeito à safra futura, o assunto deverá ser resolvido em reuniões a serem realizadas nas próximas semanas, com a participação de representantes do governo, dos produtores e também de distribuidores de álcool.

A idéia é criar um programa de estocagem de álcool para evitar oscilações muito bruscas nos preços do produto com queda na safra e forte alta na entressafra.

De acordo com Rodrigues, o setor privado deu garantias de que o estoque atual (cerca de 4 bilhões de litros) é suficiente para abastecer o mercado durante a entressafra, e que se houver necessidade poderá antecipar para março o início da produção, como forma de garantir o suprimento.

Segundo o ministro a antecipação da safra em dois meses (o melhor mês para começar a moagem seria maio) representa um “sacrifício” do setor, que perderá rentabilidade caso seja necessário iniciar a produção para garantir o abastecimento.

Garoto propaganda

Representando a principal região produtora de álcool do país, Carvalho destacou que o diálogo tem sido produtivo e de colaboração desde o início do governo.

“Não é por acaso que o nosso principal vendedor de álcool no mundo é o presidente Lula. E em todas as reuniões internacionais de que o Brasil participa, o assunto etanol é realmente o assunto mais relevante”, elogiou o presidente da Unica, ciente do potencial de crescimento do setor dentro e fora do país.

E é justamente de olho nesse mercado, e no apoio do governo, que os usineiros concordaram em reduzir os preços agora. Questionado se o setor teria prejuízos com a diminuição do valor cobrado nas usinas, Carvalho disse que ninguém trabalha para perder dinheiro.

O ministro de Minas e Energia interino, Nelson Hubner, explicou que o acordo resolve um problema de curto prazo da entressafra mas tem como objetivo uma “visão de longo prazo, de sedimentar o mercado e colocar o álcool combustível como elemento novo no nosso mercado. Tornar maduro o mercado de álcool, que é um produto que nós estamos oferecendo para o mundo”.

Além de Rodrigues, Hubner e Carvalho, participaram da reunião os ministros Antonio Palocci (Fazenda), Dilma Rousseff (Casa Civil), e representantes do setor privado de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás.