Mercado

Usineiro aposta no mercado interno

Os investimentos em novas usinas continuam no Brasil, mesmo com a União Européia restringindo o volume de etanol a ser consumido pelo bloco até 2020. O Grupo São Martinho está apostando na demanda do mercado interno para ampliar suas atividades no País. O grupo inaugurou oficialmente, na última sexta-feira (12) a Usina Boa Vista, em Quirinópolis, Goiás.

A Boa Vista é a terceira usina de propriedade da companhia e a primeira delas localizada fora do Estado de São Paulo. Em princípio, a usina produzirá somente etanol. “O grupo aposta no crescimento do mercado brasileiro e internacional de biocombustíveis”, disse Fábio Venturelli, CEO da companhia desde agosto.

A expectativa da empresa é de que a demanda pelo etanol no mercado interno cresça cerca de 3 bilhões de litros por ano a partir da safra atual, devido à maior procura pela frota flex, segundo Felipe Vicchiato, gerente de Relações com Investidores do grupo. A estimativa da Unica é de que a produção do combustível no Brasil chegue a 23,8 bilhões de litros na safra 2008/09.

“A questão da indefinição européia não nos preocupa nesse primeiro momento porque em nossa lista de prioridades, logo após o mercado brasileiro, que é nosso principal foco, estão os Estados Unidos. E acreditamos em mudanças positivas para os exportadores brasileiros em breve para comercializar com esse país, como a redução das tarifas [de importação]”, comentou, ainda, Vicchiato. Na última quinta-feira, a União Européia havia divulgado redução da participação do etanol, para 4%, na meta de 10% de uso de combustíveis renováveis até 2020. Hoje, o etanol é a base de energia de 2% dos veículos europeus. Dos 10%, o comitê decidiu que 40% virá da energia gerada pela eletricidade, hidrogênio e de biocombustíveis de segunda geração, fabricados a partir do lixo.

Pelo projeto original, a UE seria obrigada a importar biocombustível do Brasil para suprir sua meta. Com o corte, o comércio deve ser afetado. Da meta anterior, que era a de ter 10% de seus veículos movidos a etanol até 2020, o Brasil esperava ocupar pelo menos um quinto desse mercado. Hoje, a Europa consome 20% das exportações brasileiras de etanol, com 2,1 bilhões de litros em três anos.

Goiás

O Estado de Goiás contabiliza pelo menos cinco novas unidades de moagem de cana-de-açúcar operando até agora na safra 2008/09. Segundo representantes do setor no estado, é possível que o número de estreantes ainda nesta safra chegue a dez.

“Algumas plantas atrasaram um pouco o começo das operações por conta de algumas dificuldades, como, por exemplo, receber os equipamentos”, comenta André Rocha, presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação de Álcool de Goiás (Sifaeg) . “Houve muita demanda e os fabricantes de equipamentos encontraram dificuldades para cumprir prazos”, disse. Atualmente, o estado possui cerca de 22 usinas, considerando já as novatas em operação.

Para 2009, são esperadas pelo menos mais oito unidades novas, entre elas uma do Grupo Cosan, em Jataí, e também há a possibilidade, segundo Rocha, de o primeiro projeto que conta com a participação da Petrobras no estado ser outro a iniciar as atividades de moagem.

Goiás é uma das regiões que concorre ao pódio no setor sucroalcooleiro. Na safra anterior, ocupou o quarto lugar do ranking em moagem, produção de etanol e de açúcar. Segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar, os goianos moeram pouco mais de 21 milhões de toneladas de cana e produziram 951 mil toneladas de açúcar e 1,2 bilhão de litros de etanol na safra 2007/08. Ficaram atrás de Minas Gerais, Paraná e São Paulo.

Para a safra atual, a estimativa é moer 28 milhões de toneladas de cana e produzir cerca de 1,8 bilhão de litros de etanol, além de 1 milhão de toneladas de açúcar. “Para 2010, estimamos alcançar o terceiro lugar no ranking nacional. Minas deve chegar ao segundo e São Paulo continuará líder”, espera o presidente do Sifaeg.

Os usineiros que produzem etanol estão apostando no crescimento do mercado interno, com os carros flex, para compensar a redução no consumo da União Européia, anunciada na última semana.