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Usinas podem ampliar de imediato o fornecimento de eletricidade. Conheça os motivos que emperram isso

Usinas podem ampliar de imediato o fornecimento de eletricidade. Conheça os motivos que emperram isso

O setor sucroenergético tem condições de atender de imediato o mercado de eletricidade em caso de redução na oferta de energia pelas hidrelétricas, principal fonte geradora.

As hidrelétricas caminham para possível déficit de produção por conta da escassez de água nos reservatórios. Essa realidade foi constatada no começo de março/2017, quando o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) concluiu que as usinas hidrelétricas que atendem a região Nordeste do país estão afetadas pela falta de chuvas.

Para não faltar eletricidade no Nordeste, o Comitê indica o Sistema Interligado Nacional (SIN), que interliga e distribui eletricidade, e outras fontes de geração.

As usinas termelétricas (UTEs) do setor sucroenergético entram nessas outras fontes indicadas pelo Comitê. Mas ao contrário das termelétricas movidas a óleo combustível, poluentes e caras, as térmicas movidas a biomassa de cana custam bem menos ao meio ambiente e para o bolso do consumidor, que é quem arcará com os custos extras do acionamento das termelétricas.

Recentemente, o Ministério de Minas e Energia cancelou a operação de térmicas a óleo cujo megawatt-hora (MWh) custava R$ 600. Nas térmicas canavieiras, o MWh é vendido no mercado spot tendo como referência o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), que tem cotação semanal e na semana a ser encerrada em 24/03 vale R$ 221 o MWh na região Sudeste do país, onde fica a maioria das UTEs de usinas de cana.

Ou seja, a partir do comparativo de preços do parágrafo anterior, o MWh da biomassa de cana custa no mercado menos da metade do feito pelo óleo.

Em entrevista exclusiva ao JornalCana, Zilmar José de Souza, gerente de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), detalha sobre o assunto, que mais uma vez coloca o setor sucroenergético no centro de discussões diante as previsões de menor oferta de eletricidade convencional e de um consumo com potencial imediato de crescimento por conta de sinais de crescimento econômico.

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JornalCana – Quantas UTEs movidas a biomassa de cana há no Brasil com produção de excedente (energia disponível para venda)?

Zilmar José de Souza – Em todo o país temos 175 unidades exportando energia, segundo levantamento de julho de 2026 da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE) do Ministério de Minas e Energia.

Como o setor tem 370 unidades produtoras em operação, significa que outras 195 também podem produzir eletricidade para vender ao sistema?

Zilmar – Sim. As unidades que só produzem eletricidade para consumo próprio, mas com potencial de gerar excedentes para venda, podem passar pelo retrofit (termo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernização de algum equipamento já considerado ultrapassado ou fora de norma).

Souza, da Unica: UTEs da usinas têm como ampliar a oferta de imediato

E entre as 175 que já vendem eletricidade, elas têm como ampliar a produção no curto de prazo?

Zilmar – No próprio universo das que exportam há o processo chamado de retrofit do retrofit. É quando há oportunidade de promover ainda mais a produção de eletricidade nessas UTEs, com investimentos, por exemplo, como a troca de caldeiras de baixa pressão.

Há ociosidade na produção de eletricidade nessas 175 UTEs? Ou seja, elas, que já estão conectadas ao sistema, têm como ampliar a entrega de MWh sem mais investimentos?

Zilmar – Essa é uma pergunta relevante no seguinte aspecto: em 2014/2015, o próprio Governo federal entrou em contato com o setor sucroenergético com essa pergunta. E a Unica fez levantamento e observou que 20% do parque têm turbinas de condensação que podem operar por 11 ou até 12 meses no ano. Ou seja, podem operar no período da entressafra.

Explique mais, por favor

Zilmar – Obviamente tudo isso requer um planejamento de estoque da biomassa. Ou seja: quando mais cedo o Governo informar, dizer que precisa mais geração na entressafra ou em um período do ano, seria o melhor cenário para o setor sucroenergético se planejar com relação a estoque.

Capacidade de geração há?

Zilmar – Sim. Houve grupos do setor que em 2015 conseguiram gerar entre 15% a 20% a mais com geração excedente, a partir da compra de biomassa de terceiros, e às vezes nem dentro do setor, como cavaco de madeira ou casca de arroz.

O valor pago por esse MWh excedente é o principal motivador?

Zilmar – Eu nem diria que não é tanto o valor. O importante é que as UTEs de biomassa têm condições de gerar excedentes para o setor elétrico em um cenário de escassez hídrica. Digo que mais relevante que o preço é ter-se um contrato de compra dessa energia por três ou cinco anos. Isso dá uma certa previsibilidade para se poder fazer investimento com relação à palha da cana, por exemplo. É para essa previsibilidade que chamo a atenção.

Então estamos no momento certo?

Zilmar – Sim. É um bom momento para mostrar que o setor sucroenergético pode contribuir ainda mais com a geração de eletricidade no período seco, que sinaliza estresse hídrico para as hidrelétricas.

Como isso pode se dar?

Zilmar – Pode ser por meio de um leilão A-0 (quando a oferta é entregue de imediato) para o setor gerar mais do que tem previsto. Isso pode ocorrer por meio de uma chamada pública do Governo, que faça a contratação da energia por duas ou três safras, que dá possibilidade de se fechar contratos mais duradouros com o fornecedor da biomassa.

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