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Termelétricas previstas em lei são ameaça à exportação de hidrogênio verde

Estudo mostra que, se construídas, usinas a gás natural e carvão, previstas em leis aprovadas em 2021 e 2022, tiram o Brasil do páreo já em 2030

Termelétricas previstas em lei são ameaça à exportação de hidrogênio verde

Na semana da aprovação na Câmara do Projeto de Lei 2.308/2023, que regulamenta a produção de hidrogênio considerado de baixa emissão de carbono, um estudo feito pela PSR mostra que, se construídas as usinas a gás natural e carvão, previstas em leis aprovadas em 2021 e 2022, existe o risco de o Brasil não conseguir se consolidar como importante player no mercado internacional de hidrogênio verde (H2V)

O hidrogênio obtido a partir da eletrólise da água é chamado verde quando usa fontes renováveis de energia no processo, como eólica ou solar. Para utilização em solo europeu, o modelo mais benéfico para plantas de hidrogênio é o uso de energia da rede elétrica caso ela apresente uma participação de renováveis acima de 90%, pois permitiria a operação constante da planta de produção.

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O estudo em questão, realizado a pedido do Instituto Clima e Sociedade (iCS), avaliou se o Brasil seria capaz de atender a esses critérios. Foram considerados aspectos como crescimento da demanda por eletricidade; necessidade de novos investimentos em capacidade de geração e transmissão; novas tecnologias; e políticas energéticas públicas.

O atendimento à União Europeia fica ameaçado com a geração de energia a partir de fontes fósseis prevista nas leis nº 14.182, de 12 de julho de 2021, e nº 14.299, de 5 de janeiro de 2022. Enquanto a primeira determina a contratação de 8 GW de usinas termelétricas a gás natural, a segunda possibilita a extensão, até 2040, da concessão de subsídios à usina de carvão mineral do Complexo Termoelétrico Jorge Lacerda, localizado em Santa Catarina.

Para contemplar incertezas do mercado, o estudo traça dois cenários de longo prazo: “status quo”, que considera o atendimento dos 8 GW de térmicas a gás natural, e “frustração”, com construção de apenas 2,8 GW. Em ambos os casos, a exportação do hidrogênio brasileiro para o mercado europeu torna-se inviável – no primeiro cenário, a participação de renováveis passa a ser inferior ao limite mínimo definido a partir de 2030 e, no segundo caso, de 2040.

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“Entendemos que existem alternativas legais para evitar que volumes adicionais sejam contratados”, explica Mateus Cavaliere, Head de Planejamento Energético e Inteligência de Mercado da PSR. Isso porque, até o momento, apenas 0,8 GW foi efetivamente contratado, então há tempo para que tais cenários sejam considerados em um planejamento adequado ao potencial brasileiro no mercado internacional de energia verde.

“Sem esta visão holística, novas medidas poderão ser tomadas no sentido de aumentar a intensidade de carbono da matriz elétrica brasileira, impactando a capacidade de redução de emissões de outros setores por meio da eletrificação e a exportação de produtos verdes, como o próprio hidrogênio”, diz Cavaliere.

A UE tem como meta a importação de 10 milhões de toneladas de H2V até 2030, além de ter anunciado recentemente o investimento de 2 bilhões de euros para o desenvolvimento do mercado no Brasil. O hidrogênio verde é peça chave para que o bloco atinja suas metas climáticas.